O que dizem os analistas da Cimeira de Trump e Kim?

  • ECO
  • 12 Junho 2018

Um acordo vago e que ainda precisa de mais negociações parece ser o consenso dos analistas que comentaram a cimeira entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte.

O mundo parou para ver a cimeira de Singapura entre Kim Jongun e Donald Trump, mas será que os resultados do encontro são impressionantes? Os líderes assinaram um comunicado onde a Coreia do Norte se compromete com a desnuclearização da península coreana, enquanto os Estados Unidos garantem segurança ao país asiático.

O Presidente dos Estados Unidos, Donald J. Trump (direita) e o líder norte-coreano, Kim Jong-un (esquerda) apertaram a mão durante o primeiro encontro histórico entre os dois líderes no Hotel Capella na ilha de Sentosa, em Singapura. EPA/KEVIN LIM

As reações de analistas e personalidades próximas do assunto recolhidas pela Reuters mostram que os termos do acordo são bastante vagos, e que ainda se deve esperar mais negociações. Jenny Town, do projeto de monitorização 38 da Coreia do Norte, em Washington, põe a questão: “Para a administração, a natureza deste acordo significa que vai criar vontade política suficiente para preencher os detalhes, ou será que contabiliza isto como uma vitória e segue em frente?”

Adam Mount, colaborador sénior da Federação de Cientistas Americanos, diz que o comunicado é vago e aspiracional. A Coreia do Norte já tem vindo a assinar documentos a comprometer-se à desnuclearização desde 1992, e inclusivamente “a linguagem deste comunicado é mais branda do que os outros, omite referências a verificação e irreversibilidade”, afirma o colaborador.

"É provável que a Administração Trump faça outra tentativa de negociar limites nucleares concretos, mas a alavancagem americana nunca vai estar tão alta como em março. Isto seria considerado um falhanço para outros presidentes, mas o mundo vai respirar de alívio pela declaração que evita uma guerra desastrosa.”

Adam Mount

Colaborador sénior da Federação de Cientistas Americanos à Reuters

Quanto ao impacto noutros países, os analistas preveem que o acordo é proveitoso para os chineses. Brad Glosserman, professor convidado na Universidade de Tama, no Japão, diz que “os chineses vão ficar contentes com o resultado porque promete um longo caminho, e abre a porta para um processo onde eles vão estar envolvidos.”

O Presidente chinês “Moon Jae-in tem razões para aplaudir uma descida das tensões. Mas à parte disso, em termos de mudanças e compromissos genuínos que não foram feitos antes, não vejo nada.” Brad Glosserman afiança ainda: “Quem esperava mais detalhes deste encontro estava a iludir-se”.

Não é a primeira vez que se assina um acordo deste estilo, e as semelhanças com acordo de 2005 são claras para os analistas. Anthony Ruggiero, colaborador senior no think tank da Fundação para a defesa de democracias, em Washington, explica que “infelizmente não sabemos se Kim fez uma decisão estratégica para desnuclearizar e não é claro se mais negociações vão levar ao objetivo final da desnuclearização. Parece uma reafirmação de onde deixámos as negociações há mais de dez anos, e não um grande passo em frente”.

"Os norte-coreanos fizeram este compromisso muitas vezes e de todas as vezes quebraram as promessas. A questão agora é se Pompeo e o seu equivalente norte coreano conseguem mover-se rapidamente para uma ação substantiva e irreversível na direção da desnuclearização.”

Anthony Ruggiero

Think Tank da Fundação para a Defesa de Democracias à Reuters

Os economistas não esperam uma grande reação dos mercados. “Isto é apenas o início do que será um processo longo e trabalhoso, por isso a incerteza vai persistir. Os mercados provavelmente não sabem como reagir devido à natureza ambígua deste acordo”, diz Yasuhide Yajima, economista chefe no Instituto de Pesquisa Nli, em Tóquio.

Troca de um documento entre o Secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo (2º à direita) e a irmã do líder norte-coreano Kim Yo Jong (2ª à esquerda) momento depois de ter sido assinado pelo Presidente norte-americano Donald J. Trump e o seu homólogo norte-coreano Kim Jong-un durante a cimeira histórica entre os dois países. EPA-EFE / KEVIN LIM

Hidenori Suezawa, analista do mercado financeiro no Japão, faz um resumo positivo do encontro em Singapura. “A cimeira acabou por ser mais positiva do que esperado. Foi um espetáculo político histórico”, afirma o analista.

Mesmo assim, “ainda precisamos de esperar para ver ao longo dos próximos seis meses a um ano se o que foi acordado desta vez vai ser efetivo”, diz Hidenori Suezawa, no que parece ser também a opinião geral: é esperar para ver.

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