Três anos, três mensagens de Natal. O otimismo de António Costa em crescendo

Se, há dois anos, António Costa reconhecia que os desafios eram "enormes", agora destaca "o maior crescimento económico desde o início do século" e o "reconhecimento internacional".

Quando, a 25 de dezembro de 2015, o recém-empossado primeiro-ministro transmitiu a sua primeira mensagem de Natal aos portugueses, o discurso era de promessas. Nesse dia, António Costa prometeu que iria “virar a página da austeridade”, “colocar Portugal no caminho do crescimento” e “quebrar o ciclo de empobrecimento”. No ano seguinte, focou o discurso na educação e passou a promessas menos abstratas. Agora, vira a mensagem para os feitos já conseguidos.

O que mudou em três mensagens de Natal? O otimismo. Se há dois anos António Costa reconhecia que o caminho pela frente não era “fácil” e os desafios eram “enormes”, agora, o primeiro-ministro destaca “o maior crescimento económico desde o início do século”, o cumprimento das metas orçamentais e o “reconhecimento internacional”.

2015, o ano de promessas

No Natal de 2015, António Costa era primeiro-ministro há um mês, depois de ter sido empossado por Cavaco Silva a 26 de novembro. Nessa altura, o contexto económico era bem diferente do de hoje: a economia preparava-se para crescer 1,8% nesse ano, a taxa de desemprego estava nos 12,5% e o défice ficou em 4,4% do PIB.

“Estamos a chegar ao fim de um ano muito exigente para todos os portugueses. Um ano que ainda impôs às famílias enormes sacrifícios e que continuou a revelar bloqueios económicos e sociais do país. Um ano em que as consequências da austeridade se revelaram nas desigualdades e nas dificuldades na vida dos portugueses”, dizia então António Costa.

Logo de seguida, passava às promessas: “O caminho que temos pela frente não será fácil, enfrentamos enormes desafios e teremos muitos obstáculos a ultrapassar, mas estou confiante de que os vamos superar“.

As palavras mais usadas na mensagem de Natal de 2015

Fonte: Wordle

A promessa chave tinha três palavras: crescimento, emprego e igualdade. “Não tememos a missão a que nos propusemos. Portugal apenas poderá preparar-se e vencer os desafios do século XXI com mais crescimento, melhor emprego e maior igualdade. Um triplo desígnio em que estamos totalmente empenhados”.

Mais concretamente, o primeiro-ministro antecipava então a “consolidação sustentada das finanças públicas“, um objetivo que seria alcançado “através da trajetória de redução do défice orçamental e da dívida pública”.

Hoje, a discussão é se a consolidação conseguida até agora é suficiente, mas é indiscutível que o Governo cumpriu o que prometeu em relação à redução do défice e da dívida e ao crescimento económico. Portugal prepara-se para fechar o ano com um crescimento de 2,6% do PIB, a taxa de desemprego deverá ficar abaixo dos dois dígitos, o défice esperado pelo Governo é inferior a 1,3% e a dívida pública vai aumentar em valor absoluto, mas o rácio da dívida em relação ao PIB vai cair para 126,2%.

2016, o ano da educação

No ano passado, António Costa suavizou o discurso e nem por uma vez usou a palavra austeridade. O foco foi a educação e a mensagem foi transmitida a partir de um jardim de infância. “A democratização do conhecimento é essencial para reduzir as desigualdades e garantir a todos iguais oportunidades de realização pessoal”, afirmou.

Uma das promessas mais concretas foi a garantia do ensino pré-escolar gratuito para crianças a partir dos três anos. O Governo cumpriu, mas não para já. Em março, o Parlamento aprovou dois diplomas que recomendam ao Governo a universalização da educação pré-escolar aos três anos, garantindo que todas as crianças desta idade têm lugar nos jardins-de-infância, mas esta medida só vai ser implementada em 2019, no final da atual legislatura.

Por essa altura, o primeiro-ministro classificava o “conhecimento” como “o nosso maior e verdadeiro défice, comparando Portugal com o resto da Europa, e garantia, por isso, que a prioridade era “investir na cultura e na ciência, na educação e na formação ao longo da vida”. Passou um ano e o discurso é o mesmo. Ainda este mês, num discurso no Porto, António Costa voltava a dizer que “o maior défice que temos não é o défice das finanças, é o que acumulamos de ignorância e de desconhecimento”. “É esse défice histórico que temos de vencer”, continua a defender.

No fim, a garantia: “Teremos melhor economia com melhores empresas e melhores empresas com melhores empregos“. A economia cresceu e o emprego aumentou, mas a qualidade continua a ser discutível. Os contratos a termos estão a crescer a um ritmo mais acelerado do que os contratos sem termo e a população empregada a termo está a aproximar-se da restante. No terceiro trimestre deste ano, havia 3,099 milhões de trabalhadores com contratos a prazo e 3,998 milhões com contratos sem termo, segundo dados do INE.

2017, o ano de colher os louros

“Não foi fácil. Ainda há dois anos, quando, pela primeira vez, partilhei convosco esta noite de Natal, muitos escutaram com ceticismo o meu triplo compromisso de alcançarmos mais crescimento, melhor emprego e maior igualdade“. A frase resume o foco nos feitos económicos que marcou o discurso deste ano.

O primeiro-ministro até começou por lembrar as vítimas dos incêndios de junho e outubro e prometeu melhorar “a prevenção, o alerta, o socorro e a capacidade de combater as chamas”, além de garantir a “revitalização do interior e o reordenamento da floresta”. Mas rapidamente passou para uma mensagem mais otimista.

A verdade é que este ano vamos ter o maior crescimento económico desde o início do século, as empresas já criaram 242 mil novos postos de trabalho, a pobreza e a desigualdade diminuíram e o país cumpriu as metas orçamentais, registando o défice mais baixo da nossa democracia e assegurando a saída do Procedimento por Défices Excessivos”, sublinhou.

Este ano vamos ter o maior crescimento económico desde o início do século, as empresas já criaram 242 mil novos postos de trabalho e o país cumpriu as metas orçamentais, registando o défice mais baixo da nossa democracia.

António Costa

Primeiro-ministro

Estes resultados, acrescentou, “mereceram o reconhecimento internacional, permitindo-nos diminuir o peso da nossa dívida e reduzir os seus custos”, o que, por sua vez, permite libertar “recursos para podermos investir responsavelmente na melhoria do nosso sistema de ensino, do serviço nacional de saúde, na modernização do país”.

As palavras mais usadas na mensagem de Natal de 2017

Fonte: Wordle

O primeiro-ministro usou ainda a “descida das taxas de juro” da dívida portuguesa (que passou a ter um risco inferior ao de Itália) como prova de que o caminho que está a ser seguido pelo Governo é “sólido e sustentável” e terminou a vaticinar o fim da austeridade. “Libertámo-nos da austeridade e conquistámos a credibilidade. Chegou o tempo de vencer os bloqueios ao nosso desenvolvimento”.

A concluir o discurso, novas promessas: “O emprego está no centro da nossa capacidade de conquistar o futuro. Não apenas mais, mas melhor emprego. Essa é a prioridade que definimos para o ano de 2018”.

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