Falta de capital? Nos EUA, banca tem em excesso

  • Juliana Nogueira Santos
  • 8 Fevereiro 2017

As regras apertadas dos reguladores permitiram aos bancos juntar uma almofada de capital bem forte para resistir a um novo choque. Agora, têm um excesso de dinheiro. Vão gastá-lo?

Enquanto no Velho Continente o setor financeiro luta contra a falta de capital, do outro lado do Atlântico o “problema” é outro. Os 18 maiores bancos norte-americanos contam com 127,3 mil milhões de dólares de capital em excesso, avança o Financial Times com base num estudo realizado por um… banco, o Morgan Stanley.

A crise financeira de 2008 levou os reguladores a apertarem o cerco aos bancos, tornando mais duros os testes de solidez para garantirem que o sistema financeiro conseguiria lidar com um outro embate intenso. A proteção dos consumidores também se assumiu como uma prioridade com a criação de leis que restringiam a venda de ativos de risco.

Enquanto na Europa os sinais de saúde da banca são escassos, com os principais bancos europeus a acumularem fragilidades no que toca ao crédito malparado, os maiores bancos norte-americanos conseguiram não só juntar o mínimo de capital pedido pela Reserva Federal, mas ultrapassar em largos milhares de milhões essa fasquia. O Citigroup é o banco que tem operado com mais excesso de capital, estabelecendo-se nos 29,1 mil milhões de dólares. Segue-se o Bank of America com 21,2 mil milhões e o JPMorgan Chase com 19,7 mil milhões.

Os bancos conseguiram então costurar uma forte almofada de capital desde 2009, com a Fed a afirmar que os maiores bancos acumularam mais de 700 mil milhões de dólares desde aí, trazendo o rácio de capital para 12% dos ativos ponderados pelo risco — comparativamente aos 5,5% que se registavam em 2009. Os próprios assumem que este valor depende em muito da regulação, com Lloyd Blankfein, chairman do Goldman Sachs a afirmar que “se tivéssemos sido deixados à nossa mercê, não teríamos acumulado tanto capital como acumulámos”.

Com tal informação, e à luz das propostas apresentadas pela administração Trump que visam diminuir a regulação, as associações da indústria começam a pressionar a Reserva Federal para que enfraqueça os testes de stress, visto que o que foi atingido já é mais que suficiente. Os parâmetros para 2017 já foram revelados pelo regulador, tendo-se registado sinais de alívio, nomeadamente o facto de as taxas negativas deixarem de estar em cima da mesa e a dispensa de execução da parte qualitativa do teste a 21 bancos.

E o que se segue? Os bancos deverão aumentar os dividendos, atribuindo os lucros aos seus acionistas, e começar programas de recompra. Blankfein é um dos subscritores desta ideia: “Se não se está a usar o capital no negócio, dá-se de volta aos acionistas, o que não é deitá-lo a uma fogueira.”

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