Escalada do petróleo já ameaça contas do Estado

  • Rita Atalaia
  • 16 Novembro 2017

O preço da matéria-prima está a disparar nos mercados internacionais. Sobe mais de 37% desde o verão, levando o preço médio do barril a superar a estimativa do Governo para este ano.

O petróleo está longe dos três dígitos, mas tem vindo a valorizar. E a escalada desde os mínimos do verão colocou o preço do barril acima do que o Governo tinha projetado nas suas contas para este ano. A matéria-prima começa, assim, a ameaçar a execução orçamental, mas o impacto mais negativo pode vir no próximo ano. É que quase todas as projeções apontam para uma manutenção da tendência das cotações nos mercados internacionais.

Na proposta de Orçamento do Estado para 2018, o Governo inscreveu nas suas projeções macroeconómicas — que permitiram “desenhar” a estratégia orçamental — um valor médio de 53,50 dólares para o preço do Brent, este ano. Se até aos últimos meses o valor estava bastante acima do que se verifica no mercado, agora já não. O barril tem vindo a subir, ganhando 37% desde o mínimo de junho. Está a 61,55 dólares.

Petróleo já está acima da meta do Governo

 

Com a economia global a crescer, os cortes de produção da OPEP começam a ter efeito no mercado. Levaram a que o barril de Brent tenha passado, em pouco tempo, de menos de 45 para mais de 60 dólares, com o valor médio do barril a atingir os 53,52 dólares. Podia o efeito cambial atenuar esta evolução, mas neste caso até agrava ligeiramente. O Governo estimava um euro a 1,13 dólares, mas o euro está, em média, a 1,1225 dólares. Assim, o valor médio do petróleo está a 47,76 euros, acima dos 47,34 euros previstos por Mário Centeno.

“Portugal é importador líquido de energia e refinados e 100% importador de petróleo. Donde, o aumento dos custos com energia deprime a atividade económica (PIB) por aumentar as importações e a competitividade do país”, diz Filipe Garcia, economista da IMF – Informação de Mercados Financeiros, ao ECO. Ainda assim, o preço médio atual do Brent está pouco acima do que estava projetado pelo Executivo. Neste sentido, “aos preços atuais não creio que o impacto seja muito material”, afirma.

Portugal é importador líquido de energia e refinados e 100% importador de petróleo. Donde, o aumento dos custos com energia deprime a atividade económica (PIB) por aumentar as importações e a competitividade do país. Aos preços atuais não creio que o impacto seja muito material.

Filipe Garcia

Economista da IMF - Informação de Mercados Financeiros

No Orçamento do Estado para este ano, tal como é habitual, o Executivo apresentou as suas previsões, mas também simulou cenários adversos e respetivos impactos. “No caso do aumento [de 20%] do preço do petróleo, a simulação aponta para uma quebra do PIB real. Adicionalmente, assiste-se a um aumento dos preços no consumidor”, lê-se no documento.

 

Subida do petróleo? Tendência é para continuar

O verdadeiro impacto pode vir no próximo ano, mantendo-se a tendência de subida das cotações nos mercados internacionais. E existem cada vez mais analistas a apontarem nesse sentido. De acordo com uma sondagem realizada pela Bloomberg, o preço médio do “ouro negro” negociado em Londres pode chegar a 56,25 dólares no próximo ano, quando a projeção do Governo é de 54,80 dólares.

Fonte: Proposta de Orçamento do Estado para 2018

Mas há mesmo quem aposte que as cotações da matéria-prima vão alcançar os 90 dólares até 2019, o que já colocaria sérios entraves à economia portuguesa. “Penso que o preço do petróleo só colocaria as metas em risco a preços substancialmente mais altos de 90 a 100 dólares por barril“, nota Filipe Garcia.

De acordo com a proposta de Orçamento para o próximo ano, “se o preço do petróleo em 2018 aumentar 20% face ao inicialmente estimado, a simulação aponta para um impacto negativo no crescimento real do PIB na ordem dos 0,1 pontos percentuais”. A estimativa do Governo é de que o PIB cresça 2,2% em 2018, uma desaceleração face aos 2,6% previstos para este ano.

"Penso que o preço do petróleo só colocaria as metas em risco a preços substancialmente mais altos de 90 a 100 dólares por barril.”

Filipe Garcia

Economista da IMF - Informação de Mercados Financeiros

“Ao nível dos preços, este choque afetará negativamente o deflator do PIB por via de um impacto substancial nos termos de troca, que mais que compensará o aumento dos preços no consumidor”, já que “a capacidade de financiamento da economia face ao exterior será afetada negativamente por via de uma degradação do saldo da balança comercial”.

No próximo ano, esta subida expressiva dos preços do petróleo também não deve ter um impacto significativo no desemprego, assim como em 2017, “dado o desfasamento existente dos efeitos da atividade económica no emprego e por não se considerarem implicações adicionais sobre as condições de financiamento da economia”, diz o Executivo.

O pior seria mesmo o rácio da dívida pública. “Aumentaria em consequência do menor crescimento do PIB nominal”, refere a proposta de OE, a mesma que prevê que no final de 2017 o rácio da dívida pública em percentagem do PIB deverá situar-se em 126,2%”. “Para 2018, em linha com o ano precedente, projeta-se uma redução da dívida pública em 2,8 pontos percentuais do PIB, atingindo 123,5% do PIB”, salienta.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Escalada do petróleo já ameaça contas do Estado

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião