Miguel Beleza: O economista que foi professor, ministro e governador

  • Lusa
  • 23 Junho 2017

O carimbo de Miguel Beleza na economia portuguesa ficará para sempre. Conheça a vida do economista que foi professor, chegou a ministro das Finanças e liderou o Banco de Portugal.

O ex-governador do Banco de Portugal e antigo ministro das Finanças, Miguel Beleza, em entrevista à Agência Lusa, em Lisboa, 8 de outubro de 2012. Morreu esta quinta-feira à noite.TIAGO PETINGA/LUSA

Miguel Beleza, que morreu na quinta-feira à noite aos 67 anos, licenciado em Economia, desempenhou os cargos de ministro das Finanças no XI Governo Constitucional (1990-1991) e de Governador do Banco de Portugal entre 1992 e 1994. Nascido em Coimbra, a 28 de abril de 1950, filho de José Júlio Pizarro Beleza e de Maria dos Prazeres Lançarote Couceiro da Costa, Luís Miguel Couceiro Pizarro Beleza era irmão de Leonor Beleza, ex-ministra da Saúde e presidente da Fundação Champalimaud, e da juiza Teresa Pizarro Beleza e de José Manuel Beleza.

O seu percurso profissional começou no Banco de Portugal, como técnico assessor e técnico consultor, entre 1979 e 1987, onde integrou o Gabinete de Estudos Económicos, estrutura na altura dirigida por Cavaco Silva. A seguir foi para o Fundo Monetário Internacional (FMI), ocupando-se das relações de Portugal e Espanha com esta instituição, entre 1984 e 1987.

Miguel Beleza foi também administrador do Banco de Portugal, a convite de Cavaco Silva, na altura primeiro-ministro, entre 1987 e 1990 e, posteriormente, governador, entre 1992 e 1994, sucedendo no cargo a Tavares Moreira. Como Governador do Banco de Portugal, geriu a desvalorização do escudo durante as perturbações cambiais de 1992 a 1993, causada pela agitação dos mercados financeiros, que se refletiu no Sistema Monetário Europeu.

Foi o primeiro gestor, na instituição, da permanência do escudo no Sistema Monetário Europeu. Em junho de 1994 demitiu-se do cargo por conflitos com o então ministro das Finanças, Jorge Braga de Macedo, e em 2009 integrou, como membro, o Conselho Consultivo do Banco de Portugal.

Na política exerceu o cargo de ministro das Finanças do XI Governo Constitucional (1990-1991), que abandonou por divergências “pontuais” com Cavaco Silva. Enquanto esteve à frente da pasta das Finanças, Miguel Beleza impulsionou a criação da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) e colaborou no processo de adesão de Portugal à União Económica e Monetária.

Miguel Beleza licenciou-se em económicas em 1972, pelo Instituto Superior de Economia (ISE) de Lisboa e doutorou-se em Economia pelo Massachussetts Institute of Technology (MIT) e pela Universidade Nova de Lisboa. Naquela altura, teve como colegas nomes da economia mundial, como Ben Bernanke, ex-Presidente da Reserva Federal dos Estados Unidos e Lucas Papademos, ex-vice-presidente do BCE.

Foi aluno de Alfredo de Sousa e Paul Samuelson, Prémio Nobel da Economia em 1970. Luis Miguel Beleza tinha como texto que mais o marcou um artigo de Gary Stanley Becker, reconhecido economista americano, Prémio Nobel da Economia em 1992, sob o título Crime and Punishment: An Economic Approach. O economista português foi consultor e diretor da revista Economia da Universidade Católica Portuguesa e foi professor na Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa.

A sua carreira granjeou-lhe algumas condecorações, tendo sido agraciado a 22 de agosto de 1991 com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul do Brasil, a 09 de junho de 1995 com a Grã-Cruz da Ordem do Mérito e a 28 de junho de 2005 com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.

Conhecido pelo sarcasmo, num noticiário em que era apresentado como economista, professor catedrático, antigo governador do Banco de Portugal e ex-ministro das Finanças, comentou: “Isso não é currículo, é cadastro”. Morreu esta quinta-feira à noite, 22 de junho, na sua casa em Lisboa, vítima de paragem cardiorrespiratória.

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