Miguel Beleza, o “economista brilhante” e “bom amigo”

  • Lusa
  • 23 Junho 2017

A morte de Miguel Beleza mereceu já várias reações de pesar de muitos daqueles com quem conviveu. Desde Cavaco Silva, de quem foi ministro das Finanças, a Ferro Rodrigues. Leia as reações.

Miguel Beleza faleceu esta quinta-feira, 22 de junho, na sua casa em Lisboa. O economista, que desempenhou os cargos de ministro das Finanças no XI Governo Constitucional (1990-1991) e de Governador do Banco de Portugal entre 1992 e 1994, foi vítima de paragem cardiorrespiratória, segundo fonte próxima da família.

A morte de Miguel Beleza mereceu já várias reações de pesar de muitos daqueles com quem conviveu. Desde Cavaco Silva, de quem foi ministro das Finanças, que lembrou um “economista brilhante”, até Ferro Rodrigues, o presidente da Assembleia da República, que recordou os 50 anos de amizade. Leia as reações.

“Dos mais prestigiados economistas”, diz Marcelo Rebelo de Sousa

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, já enviou condolências à família do economista Miguel Beleza, lembrando um “amigo de há mais de 50 anos, e um dos “mais prestigiados economistas portugueses”, dotado de uma “inteligência fulgurante”. Numa nota divulgada no site da Presidência, o chefe de Estado apontou que o antigo ministro das Finanças era “dotado de uma inteligência fulgurante” e “cedo se destacou como um dos mais prestigiados economistas portugueses da sua geração”.

Marcelo Rebelo de Sousa considerou que “Portugal perdeu uma voz livre e independente, um académico notável e uma personalidade excecional, que em todos nós deixará uma indelével recordação”. “Pessoalmente, perdi um grande amigo de há mais de cinquenta anos”, referiu o Presidente. “Ao tomar conhecimento do falecimento do professor doutor Miguel Beleza, envio à família enlutada as minhas mais sentidas condolências”, lê-se na página da Presidência da República.

Marcelo Rebelo de Sousa apontou ainda que “a essa inteligência”, Miguel Beleza “associava um admirável espírito de independência, e um profundo sentido de dedicação ao seu país”. “No exercício dos mais altos cargos no plano internacional e nacional, designadamente como ministro das finanças e como governador do Banco de Portugal, sempre colocou as suas qualidades intelectuais e humanas ao serviço patriótico de Portugal, sonhando com uma sociedade mais desenvolvida, mais livre e mais justa”, acrescentou o antigo líder do PSD.

O chefe de Estado apontou que “a sua morte prematura deixa mágoa e tristeza nos que tiveram o privilégio de o conhecer e de com ele privar de perto, admirando a sua sagacidade, o seu sentido de humor e o seu apreço pelo convívio com os outros”.

Cavaco Silva lembra um “economista brilhante”

“Como economista, tinha grande respeito pelo saber de Miguel Beleza. Como pessoa, tinha por ele uma sincera amizade. Custa-me acreditar que tenha partido tão cedo”, lê-se numa declaração escrita do antigo chefe de Estado.

Na nota, Cavaco Silva confessa que “a notícia inesperada da morte de Miguel Beleza foi um choque, um momento de profunda tristeza” e recorda o economista como “um homem de grande inteligência e de fino humor”, que serviu Portugal com “grande competência”, ajudando o país a vencer as crises financeiras por que passou nos anos 70 e 80 e “a dar passos decisivos para que acompanhasse o aprofundamento da integração europeia”.

Como economista, tinha grande respeito pelo saber de Miguel Beleza. Como pessoa, tinha por ele uma sincera amizade. Custa-me acreditar que tenha partido tão cedo.

Cavaco Silva

Ex-Presidente da República

“Um dos mais brilhantes economistas formados pelo Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras e pelo MIT em Boston. Tinha uma formação analítica superior”, refere o antigo Presidente da República.

Cavaco Silva lembra ainda os anos em que Miguel Beleza trabalhou consigo no Gabinete de Estudos do Banco de Portugal, admitindo que tinha “grande confiança na sua sensibilidade na área da macroeconomia”.

“Foi meu colega na Faculdade de Economia da Universidade Nova e na Universidade Católica. Em 1989, era eu primeiro-ministro, convidei-o para ministro das Finanças. Dirigiu com grande competência os trabalhos de preparação de Portugal para a União Económica e Monetária, os quais foram muito importantes para a definição da posição portuguesa sobre o Tratado de Maastricht. Nomeei-o mais tarde Governador do Banco de Portugal”, recorda.

Carlos Costa despede-se do “amigo do Banco de Portugal”

Miguel Beleza “desempenhou um papel fundamental na adesão de Portugal à União Económica e Monetária e, consequentemente, na adoção do euro como moeda, projeto de que se orgulhava, que orgulha o Banco de Portugal e pelo qual afirmou que gostaria de ser reconhecido”.

Descrito como um “amigo do Banco de Portugal”, Miguel Beleza é apontado como tendo sido governador “num momento crítico para a economia portuguesa e para a economia da área do euro, ocupando-se da gestão da desvalorização do escudo num contexto de profunda instabilidade macroeconómica”.

“Conduziu os destinos do Banco de Portugal convicto da importância da missão que lhe foi confiada, com gosto contagiante pelas funções que desempenhava e com a ambição de ser um bom governador, como gostava de afirmar”, lê-se no comunicado.

Além de um “brilhante economista”, Beleza era, segundo o BdP, “reconhecido pela sua clarividência, pela humildade e despojamento, pela franqueza e pelo apurado sentido de humor, qualidades que merecem também o reconhecimento do Banco de Portugal”.

CMVM lembra o “grande impulsionador” do regulador do mercado

A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários expressou “o mais profundo pesar” pela morte de Miguel Beleza. O regulador do mercado afirma que o antigo ministro das Finanças foi “um dos grandes impulsionadores da liberalização do mercado financeiro nacional e do quadro legislativo que permitiu [a Portugal] alinhar com as melhores práticas internacionais”.

“Enaltecemos o brilhante economista, a simplicidade do seu caráter e homem admirável que agora nos deixou”, acrescenta o regulador liderada por Gabriela Figueiredo Dias.

“Um homem inteligente”, lembra Silva Peneda

“Foi para mim uma grande surpresa a desagradável notícia da morte do amigo Miguel Beleza. Fomos colegas de Governo, presidido pelo professor Cavaco Silva. Ele foi ministro durante dois anos, ele saiu depois, eu continuei, e durante esses dois anos tivemos momentos de maior tensão e de menor tensão”, afirmou Silva Peneda.

O político justificou que “ser ministro das Finanças não é fácil”, como também não o é ser ministro do Trabalho e da Segurança Social.

“Muitas vezes tivemos pontos de vista que não eram totalmente convergentes, mas sempre soubemos ultrapassar essas dificuldades sempre soubemos encontrar um ponto de compromisso e guardo do Doutor Miguel Beleza uma grande estima”, acrescentou.

Silva Peneda descreveu o economista Miguel Beleza como “um homem inteligente”, “formado”, “que esteve a estudar nas universidades americanas” e que era “amigo de prémios Nobel”.

Admitindo um certo afastamento, assinalou que continuavam a encontrar-se de vez em quando, embora não fosse “muito amiúde nos últimos anos”, mas “sempre com grande estima e consideração mútua”.

Ferro Rodrigues: “50 anos de amizade”

Divergimos quando Miguel Beleza era Ministro das Finanças [no XI Governo Constitucional, no inicio da década de 1990] e eu porta-voz do PS para as questões económicas e financeiras, sem nunca deixarmos de ser amigos”, recordou Ferro Rodrigues, garantindo que “nunca” irá esquecer “as palavras e atitudes que Miguel Beleza teve”. “E teve-as sempre”, referiu.

Eduardo Ferro Rodrigues lembra ainda que recentemente recebeu Miguel Beleza na Assembleia da República, com o “amigo comum” Manuel Sebastião [ex-presidente da Autoridade da Concorrência]. À família e amigos de Miguel Beleza, Ferro Rodrigues deixa “os mais profundos sentimentos de dor e solidariedade”.

Campos e Cunha recorda um “bom amigo”

“Miguel Beleza era um bom amigo, um pouco mais velho do que eu, era das pessoas mais inteligentes que conheci”, afirmou à Lusa o antigo ministro das Finanças do primeiro Governo de José Sócrates, Campos e Cunha.

Recordando o “sentido de humor fantástico” de Miguel Beleza, Luís Campos e Cunha disse ter sido “com imensa pena” que soube da notícia da morte do economista. “Por isso, quero apenas deixar esta homenagem a um bom amigo, um bom economista e uma das pessoas mais inteligentes que conheci”, acrescentou.

Passos: Beleza “foi uma figura notabilíssima”

Pedro Passos Coelho, ex-primeiro-ministro, recebeu a notícia do óbito com “profunda consternação” e recordou a “figura notabilíssima” do economista, na Academia e em funções públicas. “Foi com profunda consternação que recebi a notícia do falecimento do Professor Miguel Beleza. Ele foi uma figura notabilíssima, tanto na Academia, como no exercício de funções públicas”, escreve o ex-primeiro-ministro num comunicado enviado à agência Lusa.

Como economista, recordou que se formou “com brilho e distinção nas escolas americanas mais ilustres e na companhia de alguns dos grandes mestres mundiais”. “Esse raro reconhecimento internacional pelo seu saber acompanhá-lo-ia sempre ao longo da sua vida”, acrescentou.

O líder do PSD lembrou que, em Portugal, Miguel Beleza ensinou várias gerações de alunos e considerou que “a sua inteligência sobressaía com naturalidade e impressionava qualquer interlocutor”. “Serviu o país de forma exemplar, primeiro enquanto ministro das Finanças, no XI Governo Constitucional, liderado pelo então primeiro-Ministro Aníbal Cavaco Silva; e depois como Governador do Banco de Portugal”, cargos desempenhados “num período decisivo” da história democrática portuguesa, o de preparação da entrada no Sistema Monetário Europeu até à adesão e integração na União Económica e Monetária.

Passos Coelho considerou ainda que Miguel Beleza foi um “apaixonado participante no debate público com uma humildade e elevação invulgares, ensinando sem impor, escutando sem renunciar aos seus princípios”. Em seu nome e em nome do partido, Passos Coelho prestou homenagem à sua carreira académica e pública, à sua participação cívica e à sua personalidade.

Centeno: um “economista brilhante”

O ministro das Finanças, Mário Centeno, considerou o antigo ministro Miguel Beleza, que morreu na quinta-feira, como um “economista brilhante” e um precursor da economia moderna. “O professor Miguel beleza foi um economista brilhante e precursor da aplicação do que hoje se pode chamar de economia moderna, quer na academia, quer no processo de tomada de decisão política nos cargos que ocupou enquanto ministro das Finanças e governador do Banco de Portugal”, disse Mário Centeno, em declarações à agência Lusa.

O governante considerou ainda que Miguel Beleza desafiava os seus interlocutores “com inteligência e profundo sentido de humor”, sublinhando o “conhecimento ímpar sobre ciência económica” do ministro das Finanças do XI Governo Constitucional, liderado por Cavaco Silva (PSD).

“Todos hoje recordamos com certeza como, com inteligência, o professor Miguel Beleza desafiava os seus interlocutores e, quando o fazia, utilizava simultaneamente um profundo sentido de humor, mas um conhecimento impar da ciência económica e uma inteligência que a todos deixava de certa forma envolvidos pela forma como ele a utilizava”, afirmou.

BdP recorda ex-governador como “um dos mais notáveis economistas”

O governador do Banco de Portugal (BdP) expressou um “voto de profundo pesar” à família de Miguel Beleza, que morreu na quinta-feira, recordando-o como “um dos mais notáveis economistas portugueses do século XX”.

Em comunicado, Carlos Costa escreve que, enquanto ministro das Finanças do XI Governo Constitucional e governador do Banco de Portugal, entre 1992 e 1994, Miguel Beleza “desempenhou um papel fundamental na adesão de Portugal à União Económica e Monetária e, consequentemente, na adoção do euro como moeda, projeto de que se orgulhava, que orgulha o Banco de Portugal e pelo qual afirmou que gostaria de ser reconhecido”.

Descrito como um “amigo do Banco de Portugal”, Miguel Beleza é apontado como tendo sido governador “num momento crítico para a economia portuguesa e para a economia da área do euro, ocupando-se da gestão da desvalorização do escudo num contexto de profunda instabilidade macroeconómica”.

“Conduziu os destinos do Banco de Portugal convicto da importância da missão que lhe foi confiada, com gosto contagiante pelas funções que desempenhava e com a ambição de ser um bom governador, como gostava de afirmar”, lê-se no comunicado.

(Artigo atualizado às 12h50 com mais reações)

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