Estado da relação de Trump com a UE: é complicado

Esta segunda-feira, o vice-presidente dos EUA encontrou-se com Juncker e Donald Tusk. A visita à União Europeia não é feita por Donald Trump, o presidente que já criticou por diversas vezes a UE.

Mike Pence veio esta segunda-feira à União Europeia e na sombra tinha a invenção de Trump sobre a Suécia, já espalhada na internet. O presidente dos EUA justificou-se com uma suposta notícia da FOX News, mas os estragos estavam feitos e os suecos não demoraram a responder. Desde o início que a relação com a UE tem sido complicada: temas como a NATO, imigração a terrorismo não têm ajudado, para além das palavras duras de Angela Merkel e as amizades de Donald Trump com Nigel Farage e Marine Le Pen.

 

Um mês depois da nova administração ter tomado posse no outro lado do Atlântico, o vice-presidente dos EUA veio à Europa para clarificar a estratégia internacional do país que continua a ser “o polícia do mundo”. Um cognome que pode mudar uma vez que a nova liderança norte-americana quer cortar os gastos militares, pelo menos no que toca à participação na NATO. Para compensar, os restantes países, principalmente os europeus têm de aumentar o investimento. Para já reina a cautela, até nas palavras do Papa Francisco que deu o benefício da dúvida a Trump.

Os primeiros relatos do encontro vieram de Donald Tusk e dão uma imagem positiva. O Presidente do Conselho Europeu já se encontrou com Pence e deixou um aviso: “Os anúncios da morte do Ocidente têm sido muito exagerados“. Tusk divulgou no Twitter que perguntou ao vice-presidente dos EUA se partilhava as suas opiniões em três aspetos: ordem internacional, segurança e a atitude da nova administração norte-americana para com a UE. A resposta? Três redondos ‘sim’. “Agora os Europeus e os Americanos devem simplesmente fazer o que dizer”, afirmou Donald Tusk.

Mike Pence corroborou essa ideia momentos depois numa conferência de imprensa, garantido que os EUA e a UE partilham os mesmos valores. “Hoje é meu privilégio, em nome do Presidente [Donald] Trump, expressar o forte compromisso dos Estados Unidos em prosseguir a cooperação e a parceria com a União Europeia. Independentemente das nossas diferenças, os nossos dois continentes partilham a mesma herança, os mesmos valores, e acima de tudo, o mesmo objetivo: promover a paz e a prosperidade através da liberdade, da democracia e respeito pelo Estado de Direito, e nesses objetivos continuaremos comprometidos“, afirmou o vice-presidente dos EUA, citado pela Lusa.

Hoje é meu privilégio, em nome do Presidente Trump, expressar o forte compromisso dos EUA em prosseguir a cooperação e a parceria com a UE.

Mike Pence

Vice-presidente do EUA

A chefe da diplomacia europeia, Frederica Mogherini, tinha visitado os EUA há cerca de semana e meia. Nessa altura, Mogherini disse à nova administração para se preocupar primeiro com os problemas internos, relatou o The Guardian. Na visita de dois dias a Washington, a chefe da diplomacia europeia criticou ter ouvido da nova administração que a UE “não é necessariamente uma boa ideia”. “Não devo nem nenhum europeu deve falar sobre as escolhas ou decisões da política doméstica dos EUA. O mesmo se aplica à Europa – sem interferência”, avisou.

O mesmo se aplica à Europa – sem interferência.

Federica Mogherini

Chefe da diplomacia europeia

União Europeia? Vai acabar

“Olha-se para a UE e é a Alemanha. Basicamente, é um veículo para a Alemanha. Por isso é que acho que o Reino Unido foi tão inteligente em sair”. Esta foi uma das frases que Donald Trump disse ao britânico The Times, poucos dias antes de tomar posse como presidente. Foi mais um disparo, a 16 de janeiro, na direção da União Europeia. Nesse entrevista o norte-americano antecipou o colapso da UE que, diz, não é mais do que “um veículo” alemão.

Trump defendeu ainda que outros países deverão seguir o exemplo do Reino Unido: “Acredito que outros vão sair. Realmente, eu penso que manter [a UE] unida não vai ser tão fácil como muita gente pensa”, disse. Donald Trump disse-se ainda empenhado em fazer “rapidamente” um acordo comercial entre o Reino Unido e os Estados Unidos logo depois do Brexit: “Sou um grande fã do Reino Unido. Vamos trabalhar em conjunto para o fazer devidamente e de forma rápida. Bom para ambas as partes”, afirmou.

As declarações não são surpreendentes. Logo após ter vencido as eleições, o atual Presidente dos EUA recebeu na Trump Tower o eurocético Nigel Farage, político britânico responsável pela campanha pela saída do Reino Unido da União Europeia. Nesse encontro, Donald Trump chegou até a tweetar que Farage seria um “bom” embaixador britânico nos Estados Unidos.

Mas Farage não é o único “amigo anti-UE europeu” de Trump. Também a candidata da Frente Nacional, um partido da extrema-direita francesa, Marine Le Pen, foi vista na Trump Tower a meio de janeiro, antes de o novo Presidente tomar posse. A especulação foi bastante, mas não se soube se a candidata às eleições presidenciais de abril, em França, falou com Donald Trump. Mas essa ligação voltou a levantar a preocupação com a evolução do populismo em todo o mundo com a recente proliferação na Europa.

Reino Unido

Theresa May pareceu dar-se bem com Trump na visita que fez aos EUA, mas arranjou problemas internamente. Os dois chegaram a um pré-acordo comercial, ainda que não seja oficial uma vez que o Reino Unido continua dentro da União Europeia e não pode negociar unilateralmente este tipo de acordos. A relação, longe de ser complicada, pelo que foi transmitido, foi logo manchada com o anúncio da lei anti-imigração que bania cidadãos de sete países muçulmanos de entrar nos Estados Unidos e que os britânicos não tardaram a criticar.

E foram os próprios deputados a insurgirem-se contra uma visita de Trump ao Reino Unido. O porta-voz da Câmara dos Comuns disse estar contra uma intervenção de Trump e, por isso, o Presidente dos EUA poderá só ir a Londres em agosto ou setembro, altura em que o Parlamento está fechado para férias e, por isso, Donald Trump não poderá discursar perante as câmaras. “Eu creio que a nossa oposição ao racismo e ao sexismo e o nosso apoio à igualdade perante a lei (…) são considerações bastante importantes na Câmara dos Comuns”, afirmou, entre aplausos dos deputados, o porta-voz da Câmara dos Comuns, John Bercow, quando confrontado com a situação.

Suécia

A mais recente polémica de Donald Trump também tem a ver com a Europa, neste caso com um país nórdico. É que num comício na Florida, o atual Presidente dos EUA disse o seguinte em defesa da sua política anti-refugiados e anti-imigração: “Olhem para o se passa na Alemanha, olhem para o que se passou ontem à noite [sexta-feira] na Suécia. A Suécia, quem haveria de pensar? A Suécia. Eles acolheram muitos refugiados e agora têm problemas como nunca imaginaram que iriam ter”.

A falsa informação propagou-se rapidamente na rede social Twitter, onde o ex-primeiro-ministro sueco Carl Bildt escreveu: “A Suécia? Um atentado? O que é que ele andou fumar?”. A declaração animou a rede social sob os hashtags #LastNightinSweden (ontem à noite na Suécia) e #SwedenIncident (incidente na Suécia), com os quais Trump foi ridicularizado um pouco por todo o mundo.

Diploma anti-imigração

Este tem sido o tema com maior repercussão em vários países. Para além das manifestações da população, Trump recebeu um sinal vermelho de vários líderes políticos internacionais, nomeadamente de Portugal, mas também da União Europeia. Foi a própria Comissão Europeia que anunciou que ia analisar os potenciais efeitos para os europeus da decisão do Presidente dos EUA de impedir a entrada no país de cidadãos de vários países de maioria muçulmana.

“Estudaremos qualquer potencial consequência para os cidadãos da União Europeia” (UE) depois do anúncio feito pelos EUA, disseram à agência EFE fontes da Comissão Europeia (CE). Num artigo de opinião publicado pelo jornal alemão Welt am Sonntag, o presidente da CE, Jean-Claude Juncker, defendia as medidas adotadas pelos 28 Estados-membros respeitantes à ajuda aos refugiados, mas também de reforço da segurança nas fronteiras e de luta contra o terrorismo. Entretanto, o diploma já foi declarado inconstitucional pelos tribunais norte-americanos, mas Trump diz querer voltar à carga.

Rússia e a Crimeia

A relação com a Rússia e a anexação da Crimeia são dois temas quentes para as relações entre os Estados Unidos e a União Europeia. A nova administração tem sido acusada de manter ligações fortes com o Kremlin, uma acusação que voltou a estar em cima da mesa com a recente demissão da equipa de Trump. Em causa estão informações de que teria enganado o vice-presidente, Mike Pence, e outros funcionários sobre os seus contactos com a Rússia.

Na carta da demissão, Flynn disse que teve várias conversas telefónicas com o embaixador russo nos Estados Unidos durante o período de transição, antes da tomada de posse da Administração Trump, e que forneceu “informação incompleta” sobre essas conversas ao vice-presidente norte-americano. O vice-presidente dos EUA, alegadamente, baseou-se na informação fornecida por Flynn, indicando que o seu assessor para a Segurança Nacional não tinha discutido as sanções com o enviado russo, embora Flynn tenha admitido posteriormente que o tema possa ter sido abordado.

São várias as alegadas interferências russas nas eleições norte-americanas, e não só. Mas existe um tópico onde Donald Trump está ao lado da União Europeia: o Presidente dos EUA quer que Vladimir Putin devolva a Crimeia à Ucrânia e reduza a violência, segundo as declarações do porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer.

A balança comercial e os acordos comerciais

Taxas e mais taxinhas, tem sido essa a promessa de Donald Trump para todos os países que prejudiquem comercialmente os EUA. É o caso do México, mas não só. O conjunto dos países da União Europeia representam o segundo maior desequilíbrio da balança comercial dos Estados Unidos. Em 2015, essa diferença foi de 100 mil milhões de euros com a UE a sair a ganhar das trocas comerciais entre os dois lados do Atlântico. Curiosamente, a balança comercial com o Reino Unido é, desde 2006, positiva para os norte-americanos.

Donald Trump tem atacado os acordos comerciais, nomeadamente o NAFTA (North American Free Trade Agreement) e o Tratado Transpacífico, além de ter anunciado a criação de novas taxas aduaneiras para certos produtos. Durante a campanha, o agora Presidente dos EUA dizia que os outros países estavam a beneficiar, em termos de postos de trabalho e balança comercial, à custa dos Estados Unidos. No entanto, o problema está também com a continuada procura interna norte-americana, a qual continua a manter as importações em níveis elevados.

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