Imigração: Quase todos contra Trump

O travão à entrada de refugiados nos EUA está a suscitar muitas manifestações mas também críticas por parte dos principais líderes mundiais.

Foi uma simples assinatura num documento, mas o suficiente para suscitar uma onda de contestação a nível global. A assinatura de Donald Trump, na passada sexta-feira, do decreto que coloca um travão à entrada de refugiados nos EUA, já fez com que centenas de pessoas provenientes de países muçulmanos tenham sido detidas à entrada em território norte-americano, durante este fim de semana, apesar de muitas terem autorização legal para o fazer.

Em resultado, avolumam-se multidões junto aos principais aeroportos em contestação, várias organizações de direitos humanos já apresentaram queixas, muitas empresas manifestam solidariedade, os líderes de alguns dos maiores países do mundo, e os próprios tribunais também agiram para colocar um travão às deportações.

Numa audiência de emergência, a juíza juíza Ann M. Donnelly, do Tribunal do Distrito Federal de Brooklyn (Nova Iorque) respondeu a uma ação movida pela União das Liberdades Civis na América (ACLU) contra a ordem executiva assinada na sexta-feira por Donald Trump, cuja constitucionalidade foi questionada. A juíza federal decidiu na noite de sábado que os refugiados e outras pessoas afetadas pela nova medida de imigração do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que chegaram aos aeroportos norte-americanos não podem ser deportados. A decisão impede assim a deportação de cidadãos dos sete países de maioria muçulmana visados pelo decreto de Trump – Irão, Iraque, Iémen, Somália, Líbia, Síria, Sudão – que foram autorizados a entrar e chegaram aos Estados Unidos.

Uma decisão que veio trazer alívio aos muitos estrangeiros que estavam presos nos aeroportos e prestes a receber ordem de marcha de regresso ao ponto de partido. Um alívio que é percetível num vídeo partilhado no Twitter por um utilizador que estava no aeroporto de Dulles, em Washigton, na ocasião em que alguns viajantes eram libertos, após a detenção à entrada no país.

Contudo, são muitas as manifestações que têm surgido um pouco por todo o lado, a contestar o decreto assinado por Donald Trump na passada sexta-feira que dava ordem para suspender por 120 dias a entrada de todos os refugiados, bem como a suspensão por tempo indefinido da entrada de sírios e impedia a entrada de qualquer cidadão de sete países muçulmanos: Síria, Iraque, Irão, Líbia, Somália, Sudão e Iémen.

Foi o que aconteceu por exemplo, com uma senadora norte-americana. Elizabeth Warren, senadora do Massachusetts, publicou na sua página oficial do Twitter, um vídeo onde aparece no aeroporto de Logan, em Boston, a manifestar-se contra a decisão do presidente norte-americano. “Não vamos permitir a proibição de muçulmanos nos Estados Unidos da América”, escreve Elizabeth Warren.

Mas a decisão do novo presidente dos EUA de travar a entrada a imigrantes nos país já suscitou também criticas por parte de alguns dos principais líderes mundiais. A Comissão Europeia já reagiu, dando voz à União Europeia, depois de Angela Merkel e Theresa May também já terem criticado a medida este domingo. A comissão Europeia afirmou que vai analisar os potenciais efeitos para os europeus da decisão do Presidente dos EUA de impedir a entrada no país de cidadãos de vários países de maioria muçulmana.

“Estudaremos qualquer potencial consequência para os cidadãos da União Europeia” (UE) depois do anúncio feito pelos EUA, disseram à agência EFE fontes da Comissão Europeia (CE). Num artigo de opinião hoje publicado pelo jornal alemão Welt am Sonntag, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, também veio defender as medidas adotadas pelos 28 Estados-membros respeitantes à ajuda aos refugiados, mas também de reforço da segurança nas fronteiras e de luta contra o terrorismo.

Angela Merkel foi um dos líderes europeus que também já se manifestou. Fonte oficial da chanceler alemã afirmou que esta considera injustificadas as restrições dos EUA à imigração. “Ela está convencida de que, mesmo no quadro da luta indispensável contra o terrorismo, não é justificável colocar pessoas sob uma suspeita generalizada em função das suas origens ou crenças”, disse o Steffen Seibert, porta-voz de Merkel. “A Chanceler lamenta a proibição de entrada [nos EUA], imposta pelo governo norte-americano contra refugiados e cidadãos de determinados países”, acrescentou Steffen Seibert. Estas preocupações, continuou o porta-voz, foram comunicadas a Donald Trump durante a conversa telefónica de sábado.

Theresa May que se encontrou há poucos dias com Trump, nos EUA, também já veio avolumar o coro de críticas. A primeira-ministra britânica, “não concorda” com a proibição temporária imposta pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, à entrada de cidadãos e refugiados de vários países de maioria muçulmana, disse um porta-voz oficial citado pela imprensa.

“A política de imigração nos Estados Unidos é um assunto do governo dos Estados Unidos, tal como a política de imigração do nosso país deve ser estabelecida pelo nosso governo”, disse o porta-voz de Downing Street numa declaração. “Mas não estamos de acordo com este tipo de abordagem e não a vamos adotar”, acrescentou.

Ontem, também o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, escrevia no Twitter que o seu país acolheria sempre as vítimas “de perseguição, terror e guerra, independentemente da sua fé”. Acrescentando que “a diversidade é a nossa força”.

 

O líder do país mais a norte do continente norte-americana, abria assim portas à entrada daqueles que fossem barrados nos EUA, com um hashtag #WelcomeToCanada. Depois de ser eleito, no final de 2015, o primeiro-ministro canadiano, Justin, Trudeau, já supervisionou a chegada de mais de 39 mil refugiados sírios ao Canadá. O governo liberal canadiano tem tentado equilibrar a sua visão do mundo e as relações com a nova administração norte-americana liderada por Donald Trump.

Já neste sábado, os lideres europeus reunidos na cimeira do sul, em Lisboa, também revelaram o seu desconforto com a política anti-imigração de Donald Trump. A partir de Lisboa, Hollande respondeu ao novo presidente dos EUA. “A Europa tem de mostrar que não é protecionista nem fechada, que tem valores e princípios. A Europa é um espaço de liberdade e democracia”, defendeu o presidente francês, que endureceu o discurso no final do encontro: “Temos de enfrentar o populismo. O tipo de discurso seguido nos Estados Unidos encoraja o populismo e até o extremismo.”

 

Trump volta a insistir

Habituado a usar o twitter como ferramenta para comunicar com os norte-americanos e o mundo, Donald trump já veio reagir face às numerosas manifestações e críticas que a sua atuação tem gerado no que que respeita à gestão da imigração de refugiados.

 

O nosso país necessita de fronteiras fortes e veto extremo, AGORA“, escreveu num tweet, recorrendo mais uma vez ao exemplo da Europa. “Vejam o que está a acontecer por toda a Europa e, na realidade, no mundo: uma enorme confusão”, acrescentou na mesma mensagem.

Entretanto, a Casa Branca veio defender a atuação do seu Presidente e revelar que mais de 100 pessoas foram detidas na fronteira ao abrigo do novo decreto anti-imigração. O porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, indicou que dos 325.000 estrangeiros que chegaram aos Estados Unidos no sábado “109 pessoas” passaram por um controlo reforçado. Para “garantir que as pessoas que deixamos entrar no nosso país vêm com intenções pacíficas”, declarou hoje ao canal ABC.

Não queremos deixar que se infiltre alguém que procure prejudicar-nos. É tudo. Sei que em alguns casos isto vai causar inconvenientes”, adiantou o mesmo responsável.

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