Exclusivo Nobel da Economia ao ECO: “O mercado que mais me parece uma bolha é a bitcoin e as suas irmãs”

  • Juliana Nogueira Santos
  • 22 Janeiro 2018

Em declarações escritas ao ECO, o vencedor do Nobel da Economia de 2017 alerta para a evolução do mercado das criptomoedas. E há já exemplos na história de como pode acabar.

É mais uma personalidade da economia a juntar-se ao grupo de críticos das criptomoedas, desta vez um Nobel. Richard Thaler, vencedor do prémio Nobel da Economia em 2017, garante ao ECO que, olhando para os mercados, são as criptomoedas que mais se assemelham a uma bolha. Ainda assim, não prevê quando possam rebentar.

“Consigo perceber que haja uma bolha nos mercados de dívida, com as taxas de juro perto de zero ou mesmo negativas, e até nos índices, que estão em máximos históricos”, aponta o Nobel da Economia, em declarações escritas ao ECO. “Mas o mercado que mais me parece uma bolha é a bitcoin e as suas irmãs”.

O economista, considerado um dos pais da economia comportamental, chama ainda à atenção para a irracionalidade que move este mercado e que já se concretizou em empresas como a antiga Long Island Iced Tea. “As empresas estão a acrescentar ‘blockchain‘ ao seu nome e as cotações disparam“, aponta Thaler. “Não faz sentido que assim continue.”

"As empresas estão a acrescentar ‘blockchain’ ao seu nome e as cotações disparam. Não faz sentido que assim continue.”

Richard Thaler

Nobel da Economia

Assíduo utilizador das redes sociais, o economista já se tinha referido a este caso no Twitter, questionando, com ironia, se se tratava de “bitcoin líquida”. Recorde-se que assim que esta empresa de bebidas anunciou a mudança de nome para Long Blockchain, as ações dispararam 238% em bolsa.

O economista garante ao ECO que não faz previsões, mas que há já provas históricas do que pode acontecer quando a irracionalidade dos mercados cria situações financeiras “anormais”, dando como exemplos o crash bolsista de 1987 — a chamada “segunda-feira negra” –, a bolha das tecnológicas no final dos anos 90 e a mais recente bolha no mercado imobiliário.

“Em mercados ‘normais’ não conseguimos observar eventos extremos como estes tão frequentemente”, garante Richard Thaler. Na passada semana, as criptomoedas viveram uma semana que levou muitos a perguntar se este não seria o fim do êxtase, com a bitcoin a afundar para menos de 10 mil dólares. No entanto, não passou aparentemente de um susto, com a principal moeda virtual a cotar agora perto dos 12 mil dólares.

em entrevista à Bloomberg, em outubro de 2017, Thaler disse que não compreendia como “estamos a viver o momento com mais risco das nossas vidas e parece que os mercados bolsistas estão a dormir a sesta.” “Parece que nada assusta os investidores”, apontou ainda.

Ninguém escapa às culpas na crise da dívida soberana

Richard Thaler no discurso de aceitação do prémio do Banco da Suécia para as Ciências Económicas em Memória de Alfred Nobel.Dan Lepp/Nobel Media AB 2017

A teoria comportamental desenvolvida por Richard Thaler e os seus parceiros científicos e que lhe valeu o prémio mais cobiçado da área — e quiçá do mundo — alerta para as grandes diferenças entre o ser humano estudado pela ciência económica (o homo economicus) e aquilo que é na realidade.

O ser humano não toma todas as suas decisões tendo em conta a otimização dos seus recursos, mas deixa que os seus desejos, pulsões e sentimentos entrem neste processo. É incapaz de ser totalmente racional quando se fala de dinheiro, comportando-se inadequadamente. E é aí que precisa do ‘nudge’, ou daquele ‘empurrãozinho’ externo — normalmente do Estado –, para conseguir fazer as melhores escolhas em termos económicos.

"Nenhum grupo escapou [à crise da dívida soberana] sem hematomas nos seus egos.”

Richard Thaler

Nobel da Economia

E assim, quem terá sido o mais irracional aquando da crise da dívida soberana na Europa e quem precisaria de um nudge? “Esta é uma pergunta para me pôr em sarilhos”, responde o Nobel da Economia. Richard Thaler, que já trabalhou em parceria com o Governo dos EUA e do Reino Unido, clarifica que existiram comportamentos inadequados “a todos os níveis, desde os devedores, aos credores, aos reguladores até aos bancos centrais”.

“Nenhum grupo escapou sem hematomas nos seus egos”, remata Richard Thaler.

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