O Plano B das empresas para contrariar Trump

O Starbucks vai dar emprego a refugiados, a Lyft doa um milhão à caridade, a Viber oferece chamadas grátis e a Virgin Airlines voos para outros destinos. Ninguém fica indiferente à "travel ban".

Há protestos à entrada dos aeroportos, advogados a oferecerem os seus serviços, críticas vindas de todo o espetro político e governos estrangeiros a repreender a decisão do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impedir através de ordem executiva que cidadãos de sete países de maioria muçulmana entrassem nos EUA, mesmo que tivessem títulos válidos para o fazer. Também no meio empresarial se multiplicam as reações, com os CEOs de startups e grandes empresas a criticarem abertamente a ordem executiva de Trump e a apresentarem estratégias de protesto.

Entre doações para ONGs, ofertas de emprego e casa a refugiados ou chamadas gratuitas, as empresas apressam-se a apresentar a forma como vão reagir, assim como a condenar a ordem executiva. Uma coisa é certa: ninguém fica indiferente às decisões de Trump, e na primeira linha estão as transportadoras aéreas.

No limbo, companhias aéreas oferecem voos e mudanças

As empresas de aviação estão a ser das mais diretamente afetadas pelas instruções de Donald Trump, que ao entrarem em vigor passaram mesmo a afetar passageiros que já se encontravam em viagem. As companhias aéreas devem impedir que os passageiros entrem em voos se não tiverem a devida documentação para entrar no país de destino, e podem ter consequências se não o fizerem, por exemplo terem de suportar os custos de trazer os passageiros de volta.

A British Airways e a Virgin Atlantic, duas companhias de aviação britânicas, ofereceram aos seus passageiros que fossem afetados pela nova ordem executiva de Donald Trump a oportunidade de pedir um reembolso total dos custos dos bilhetes ou a de alterar o voo para outra data — a proibição presidencial tem um prazo de 90 dias, altura em que poderá ou não ser renovada.

A Virgin foi mesmo mais longe, propondo aos passageiros “que já não pretendam viajar para os Estados Unidos” que mudassem os seus voos para outros destinos se assim o desejassem.

Starbucks vai contratar dez mil refugiados

Howard Schultz, o CEO da Starbucks, apressou-se a responder à ordem executiva de Donald Trump manifestando não só “uma profunda preocupação” mas também anunciando uma nova medida da cadeia de cafés de contratar dez mil refugiados nas suas lojas por todo o mundo ao longo dos próximos cinco anos.

Numa carta enviada aos empregados da empresa, Howard Schulz escreveu: “Vivemos em termos sem precedentes, em que estamos a presenciar a consciência do nosso país e a promessa do Sonho Americano a serem colocadas em questão”. O Starbucks apresentou assim uma série de medidas incluindo a promessa de contratar dez mil refugiados nos 75 países onde a cadeia tem presença, incluindo aqueles que trabalharam como intérpretes para o exército dos Estados Unidos em zonas de guerra, assim como de ajudar a financiar os jovens que estejam nos Estados Unidos com a ajuda do programa DACA.

Lyft vai dar um milhão à ACLU

A plataforma de transporte individual Lyft, concorrente direta da Uber, aproveitou para anunciar que vai dar um milhão de dólares à ACLU, uma organização não-governamental de defesa dos direitos individuais, ao longo dos próximos quatro anos. A ACLU foi uma das primeiras organizações a bater-se legalmente contra a proibição de entrada no país decretada por Donald Trump, e conseguiu que um dos seus processos levasse uma inibição temporária dos efeitos da ordem executiva.

“Banir as pessoas com base numa fé ou credo, raça ou identidade, sexualidade ou etnia, de entrar nos Estados Unidos é a antítese dos valores da Lyft e da nossa nação”, escreveram os cofundadores da Lyft, Logan Green e John Zimmer, no blogue da startup.

Airbnb dá casas a refugiados

Embora sem detalhar para já como o seu projeto se vai concretizar, a empresa de partilha de casas e alojamento local Airbnb anunciou que iria ajudar os refugiados ou outras pessoas impedidas de entrar nos Estados Unidos a ter um sítio onde ficar, oferecendo alojamento gratuito através da plataforma. O CEO Brian Chesky anunciou a medida no Twitter, prometendo pormenores para mais tarde.

Para Chesky, a decisão de Donald Trump “não é correta”. “Abrir portas une-nos. Fechar portas divide-nos ainda mais”, afirmou.

Viber: “Chamadas gratuitas para países banidos”

As famílias que ficarem separadas devido à proibição decretada por Donald Trump relativamente a sete países — o Iémen, a Somália, o Sudão, a Líbia, a Síria, o Irão e o Iraque — que impede mesmo pessoas com vistos de residência válidos de entrarem nos Estados Unidos poderão ter uma boa forma de se manter em contacto com a ajuda da Viber, uma aplicação de chamadas e mensagens através da Internet. O CEO da proprietária da Viber, a Rakuten, anunciou que a aplicação iria permitir chamadas gratuitas entre os EUA e os países vetados a partir desta terça-feira.

O CEO Hiroshi Mikitani considerou que a ordem executiva era resultado de “discriminação de seres humanos com base na religião ou nacionalidade”.

Táxis de Nova Iorque fazem greve de uma hora

A aliança de taxistas nova-iorquinos decretou a sua oposição à proibição, que considerou “desumana e inconstitucional”, e aproveitou para decretar uma greve ao aeroporto de Nova Iorque, o JFK, durante a manifestação que lá decorria.

“O nosso sindicato de 19 mil membros está firmemente contra a proibição de muçulmanos de Donald Trump”, escreveu a NY Taxi Workers Alliance numa declaração oficial. “Enquanto uma organização cujos membros são predominantemente muçulmanos, uma força de trabalho quase universalmente imigrante, e um movimento da classe trabalhadora que está fundamentado na defesa dos oprimidos, dizemos que não a esta proibição desumana e inconstitucional”.

Uber promete proteger motoristas e é acusada de “furar greves”

A greve dos taxistas causaria problemas inadvertidos à Uber, que anunciou que, durante a greve, desligaria a inflação dos preços devida à maior procura. A decisão foi interpretada por utilizadores da aplicação como uma intenção por parte da Uber de beneficiar economicamente da greve durante a manifestação, o que levou a um apelo ao boicote que se traduziu na hashtag #DeleteUber, que reunia imagens de pessoas a apagarem a aplicação dos seus smartphones.

A Uber, no entanto, defende que desligou a inflação dos preços para evitar fazer lucros adicionais devido ao protesto, conforme explicou num comunicado: é o mesmo que a empresa faz durante desastres naturais, por exemplo, para não aumentar o lucro devido à maior procura provocada pelo desespero. “Lamentamos qualquer confusão provocada pelo nosso tweet, não pretendíamos furar qualquer greve”, lia-se na declaração citada pela CNN.

Afinal, o CEO da Uber, Travis Kalanick, anunciou abertamente a sua oposição feroz à ordem executiva, tendo mesmo anunciado medidas para compensar os motoristas que seriam afetados e perdessem rendimentos. A empresa, afirmou, criou ainda um fundo de três milhões de dólares para ajudar a defender legalmente os milhares de motoristas que usam a plataforma e que ficariam impedidos de trabalhar.

Travis Kalanick pertence ao conselho que o Presidente Trump escolheu para reunir CEOs de várias empresas e startups, e disse que iria usar a sua posição nesse conselho para “defender o que está correto”. Elon Musk, da Tesla, também pertence a esse grupo.

“Refugiados bem-vindos”, lê-se no cartaz de protesto empunhado por um manifestante junto ao aeroporto LAX em Los Angeles, Califórnia. / Dania Maxwell/Bloomberg

 

Google cria um fundo de emergência de 4 milhões

O CEO da Google, Sundar Pichai, decidiu no domingo à noite criar um fundo de emergência para os refugiados afetados pela nova ordem dada por Donald Trump. Dois milhões de dólares vão ser doados pela própria Google enquanto os restantes dois milhões devem ser angariados através de outras doações, noticia o USA Today. Segundo a imprensa norte-americana, este é o maior fundo de emergência que a empresa criou.

Estamos preocupados com o impacto desta ordem e qualquer proposta que possa impor restrições em ‘Googlers’ (utilizadores do Google) e as suas famílias, ou que possam criar barreiras à chegada de bom talento aos EUA”, escreve a tecnológica num comunicado. “Vamos continuar a fazer com que as nossas visões nesses assuntos sejam conhecidas pelos líderes de Washington ou de qualquer outro lado”, garante a Google. O destino do dinheiro será para as seguintes instituições: American Civil Liberties Union, Immigrant Legal Resource Center, International Rescue Committee e a Agência de Refugiados da ONU.

(Atualizado às 15h01)

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