Natixis já cobra às empresas para avaliar ações

Pode ser problemático mas para pequenas cotadas que procuram visibilidade no mercado pode ser a única opção: comprar avaliações às casas de investimento.

Quando os analistas Jean-Jacques le Fur e Phillipe Lanone, do banco de investimento francês Natixis, publicaram este mês a sua primeira nota de investimento sobre a Transgene, uma empresa biotecnológica francesa avaliada em 125 milhões de euros, na primeira de duas páginas a recomendar aos investidores a compra de ações surgia em itálico um pequeno disclaimer que dizia: “O Natixis foi pago pela Transgene para produzir esta análise financeira“.

Enfrentando uma crescente dificuldade em financiar a produção de research através de pagamentos indiretos, o Natixis está a tentar uma nova abordagem no mercado: cobrar aos clientes pela cobertura das suas ações, inaugurando um modelo que já provou ser problemático para as agências de notação financeira, como a Standard & Poor’s, Moody’s ou Fitch.

Acho o conceito um pouco estranho“, referiu Ian Gordon, diretor de research da Invest, à Bloomberg. “Vai potencialmente manchar o produto da corretagem. A minha perceção é que os investidores apenas vão valorizar verdadeiramente o research independente. É difícil de perceber por que razão uma empresa estaria disposta a assinar um cheque para pagar uma avaliação se não for apreciada”, acrescentou.

Apesar das dúvidas que possam subsistir, o negócio entre o Natixis e a Transgene é legal à luz das regras do mercado francês. Para as pequenas empresas que são prejudicadas com a falta de análise financeira externa, é uma forma de aumentar a sua exposição e visibilidade junto dos investidores, aumentando potencialmente a liquidez das suas ações.

"Vai potencialmente manchar o produto da corretagem. A minha perceção é que os investidores apenas vão valorizar verdadeiramente o research independente. É difícil de perceber por que razão uma empresa estaria disposta a assinar um cheque para pagar uma avaliação se não for apreciada.”

Ian Gordon, diretor de research da Invest

Bloomberg

Entretanto, nem a porta-voz do Natixis quis comentar o acordo com a Transgene, nem os representantes da companhia de biotecnologia francesa estiveram disponíveis para responder às questões da Bloomberg.

Tendência da indústria

É uma faca de dois gumes. Se o negócio de vender avaliações às empresas pode minar a credibilidade e levantar sérias preocupações quanto a potenciais conflitos de interesses, para muitas casas de média dimensão não há muitas alternativas. A União Europeia prepara-se para banir as comissões que se pagam pelo research já em 2018 e estão à procura de formas de receber por este serviço sem que os seus clientes investidores assumam estes custos.

“É uma tendência da indústria. Muito provavelmente vamos ver os bancos movimentarem-se no sentido de uma estrutura de preços a la carte para a sua produção de research em antecipação às novas regras”, disse Sarah Jane Mahmud, analista da Bloomberg Intelligence. “São precisamente os players médios que são esmagados. Muitos até vão sair do negócio”, reforçou.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Natixis já cobra às empresas para avaliar ações

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião