Economia portuguesa está mais digital. Mas faltam competências básicas

O número não passa despercebido a Marcelo Rebelo de Sousa: 30% dos portugueses ainda não usam internet. Portugal dá passos no digital mas faltam competências e crescimento económico.

Um Portugal tecnologicamente avançado mas com falta de competências digitais. É, em traços gerais, o cenário do país pintado na abertura de mais um Digital Business Congress, promovido pela Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações (APDC). A iniciativa vai já na 26º edição e junta, esta quarta e quinta-feira, cerca de 1.600 congressistas no Centro Cultural de Belém (CCB) — mais 400 do que na edição anterior, garante a organização.

Eis as ideias-chave: a tecnologia é um fator crucial no desenvolvimento do país, a evolução feita até aqui é positiva, há ainda muito caminho a percorrer no sentido de uma economia digital de excelência e, como assumiu o presidente da APDC, Rogério Carapuça, nada é possível “sem crescimento económico”, a força motriz necessária a este desenvolvimento.

“O objetivo é social”

É fácil esquecer que o objetivo da tecnologia é, fundamentalmente, melhorar a vida das pessoas. E Marcelo Rebelo de Sousa não quer que isso aconteça: “Sinto que vos pode faltar a dimensão exata da dimensão social do nosso e vosso papel. A razão de ser por tudo o que por nós e vós é feito é, realmente, a projeção social, o progresso social, a ultrapassagem das limitações, das exclusões e dos distanciamentos da sociedade portuguesa”, disse o Presidente da República a uma plateia composta maioritariamente por profissionais da área das Tecnologias da Informação (TI).

Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que, por vezes, “estamos de tal forma embrenhados naquilo que fazemos que perdemos a noção de que há um objetivo. E esse objetivo é social.” Partindo do dado que indica que 30% dos cidadãos ainda não usam a internet, o Presidente mostrou como o número pode ser ainda mais preocupante”: “Muitos [portugueses] usam as ferramentas básicas, mas não usam o digital como forma básica de comunicação”, explicou.

Terminou a intervenção falando de economia: “Existe hoje um modelo [económico] diverso em mutação. Abrem-se agora caminhos diferentes. O mundo é outro.” E, em suma, “todos os avanços de que falámos aqui não passam de conjunturais se não houver crescimento económico. Numa economia que não cresce, o avanço desta revolução silenciosa é muitíssimo mais lento”, destacou Marcelo Rebelo de Sousa.

Iliteracia digital é uma realidade

Vamos a números: 64% do território nacional já tem cobertura de rede móvel de última geração, o 4G. Mais: “Portugal está entre os primeiros em termos de serviços públicos online”, recordou Rogério Carapuça. Então, qual é o problema? Novamente, para o presidente da APDC, “a nossa fragilidade” é o facto de que “metade da nossa população não tem os skills digitais básicos. A população não tem a literacia necessária ao nível digital.”

Preocupações que também já existem no Governo e fazem parte dos desafios assumidos por Maria Manuel Leitão Marques, ministra da presidência e da modernização administrativa, nesta sessão inicial. Segundo a ministra, o plano para o desenvolvimento da administração pública assenta em cinco eixos:

  1. Inclusão: “Devemos continuar a apostar estrategicamente em mais e melhores serviços [digitais], mas temos que ter em conta que estamos a incluir todos os potenciais utilizadores desses canais. Isso obriga-nos a formar os cidadãos”, acrescentou.
  2. Usabilidade: Os sistemas têm que ser feitos a pensar nos utilizadores. “Não é só reproduzir [no digital] a antiga burocracia em papel. É preciso ter menos portais, [mas] mais integrados, mais personalizados, dando resposta e sendo customizáveis”, explicou a ministra.
  3. Inovação: Implica “desenhar o serviço de forma diferente e experimentar em ambiente controlado, para corrigir erros antes de o expandir a todos [os cidadãos].” Para isso existem os “Laboratórios de Inovação na Administração Pública”, relembrou Maria Manuel Leitão Marques. E inovar “obriga-nos a adquirir outras competências”, disse.
  4. Reforço das competências digitais: “A escassez de recursos humanos ao nível das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC)” é um dos problemas e a Comissão Europeia estima que, em 2020, haja um défice de 900 mil profissionais nesta área, lembrou. Por isso, “apostar na formação avançada de adultos com competências tecnológicas” vai “aumentar a empregabilidade”, defendeu.
  5. Antecipação: “Temos que ser capazes de proteger a privacidade de forma diferente. Saber antecipar as necessidades dos cidadãos em áreas como a saúde, a prevenção da criminalidade ou a renovação de documentos pessoais.” E isso evita a “duplicação desnecessária de investimentos”, adiantou por fim.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Economia portuguesa está mais digital. Mas faltam competências básicas

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião