Por 25 mil euros/mês qualquer um fazia melhor

Um país no Sul da Europa prepara-se para nacionalizar um banco. Não é por ideologia de esquerda; é por incompetência.

O comunicado do Banco de Portugal a dar conta das negociações para a venda do Novo Banco é uma autêntica farsa.

Primeiro, o regulador vem dizer que os norte-americanos do Lone Star são os mais bem colocados para a compra do Novo Banco, mas que os outros dois candidatos já mostraram disponibilidade para melhorar as suas ofertas. Então para quê o comunicado do Banco de Portugal se os três continuam na corrida? É para mostrar trabalho, para ganhar tempo ou para fazer de conta que o processo não chegou a um beco sem saída?

Depois, o Banco Central vem dizer que o Lone Star tem a melhor oferta, mas que a proposta dos norte-americanos assenta num pressuposto que tem um “potencial impacto nas contas públicas”, coisa que o Governo de António Costa já veio descartar. Então a melhor proposta para o Banco de Portugal é uma que está assente num pressuposto que não vai acontecer? E sem esse pressuposto, a oferta continua a ser a melhor?

A prova que este processo de venda do Novo Banco está a ser conduzido com os pés é que só na véspera do Banco de Portugal anunciar o suposto vencedor é que Mário Centeno vem dar uma entrevista para dizer que nenhuma proposta de compra deveria contar com uma garantia pública.

Nesse dia, alguém no Banco de Portugal terá dito ‘Opsssss’. Durante todos estes meses, em que esteve a tentar vender o Novo Banco, não terá passado pela cabeça de Sérgio Monteiro (o responsável pelo processo de venda que esta semana prolongou o seu contrato de trabalho a ganhar 25 mil euros por mês) telefonar a Mário Centeno a perguntar se valia a pena considerar propostas que implicassem garantias públicas?

Nem precisava de telefonar. Bastava mandar um SMS, pois já se percebeu, pelo caso da CGD e de António Domingues, que Mário Centeno tutela o setor bancário através de mensagens de telemóveis.

Assim sendo chegámos ao final do processo de venda do Novo Banco como se estivéssemos a arrancar do ponto zero. Temos um candidato (o China Minsheng) que apresentou a melhor proposta, só que não tem dinheiro sequer para depositar uma garantia bancária e os outros dois (Lone Star e Apollo) com propostas assentes num pressuposto que o Governo não aceita.

A cada dia que passa o Novo Banco vale menos e este terá sido um dos grandes erros de avaliação de Carlos Costa. Foi em 2015, em véspera de eleições legislativas, que por recreação sua ou por sugestão política, o Banco de Portugal abortou a primeira tentativa de venda do Novo Banco.

O argumento apresentado então, era de que ainda não se conheciam os resultados dos testes de stress e da análise individual (SREP) feita pelo BCE que iam mostrar que os candidatos estariam a sobrevalorizar as necessidades de capital do Novo Banco.

Na altura, escrevia-se na imprensa que os chineses do Anbang chegaram a apresentar uma oferta de compra para o Novo Banco a rondar os 4.000 milhões de euros, embora nesse montante estivesse incluído um valor para capitalizar o próprio banco de transição. Já a Fosun oferecia 1,5 mil milhões de euros e ninguém falou da necessidade de haver uma garantia que envolvesse dinheiro dos contribuintes.

O Banco de Portugal preferiu arrastar o processo e cada dia que passa o Novo Banco vale menos. Os clientes têm receio do que possa acontecer e as empresas, que poderiam fazer negócios com o banco, não sabem se daqui a um ano ou 15 anos o banco será estatal, será chinês, ou será retalhado por algum fundo de private equity que o vai vender às fatias. Ou sequer se será banco.

O comunicado de ontem do Banco de Portugal nada mais foi do que uma tentativa de comprar mais tempo. Contudo, o crédito de Carlos Costa há muito que se esgotou, desde os dias em que não viu aquilo que deveria ter visto no BES de Ricardo Salgado.

Chegados aqui, estamos num ponto em que o Banco de Portugal colocou o país perante uma situação em que se calhar a melhor opção, do ponto de vista financeiro, será mesmo a de nacionalizar o banco e serem os contribuintes a assumir as necessidades de capital do Novo Banco (além do que já lá injetamos). Vão-nos olhar de lado por essa Europa fora; um país do Sul com um Governo apoiado por dois partidos de esquerda radical a nacionalizar um banco. Mas este desfecho, a acontecer, não será por ideologia, será por incompetência.

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