Marcas de automóveis aceleram descontos antes do aumento da fatura para os consumidores à custa das emissões

Vêm aí aumentos de centenas ou mesmo milhares de euros nos preços dos carros a 1 de setembro. Um novo aumento da fiscalidade, em resultado do CO2, que as marcas estão a usar para apressar os clientes.

Todos os anos, no final do ano, acontece o mesmo. Perante as constantes mexidas na fiscalidade, as fabricantes de automóveis lançam campanhas de alerta para o agravamento dos preços, procurando acelerar as vendas. Foi assim há uns meses, e volta a sê-lo agora. Porquê? A culpa é das emissões, ou melhor, do aumento do imposto em resultado do novo método de cálculo dos gases emitidos que entra em vigor em setembro. Vêm aí aumentos de centenas de euros, mas antes disso as marcas oferecem descontos que chegam a largos milhares de euros.

Até agora as emissões de gases poluentes dos automóveis eram calculadas com base num modelo que já tem mais de duas décadas. O resultado eram emissões de CO2 desajustadas daquela que é a realidade, mas isso vai tudo mudar a partir de 1 de setembro, altura em que passará a ser adotado um novo modelo, mais próximo do desempenho dos veículos em condições reais. Perante esta mudança — depois do escândalo de emissões da Volkswagen, mas que chegou a outras fabricantes –, a fatura fiscal a pagar pelos contribuintes vai mudar.

"O Imposto Sobre Veículos (ISV), em Portugal, é um exemplo, com incidência nas componentes de cilindrada e emissões de CO2. E, com medições mais elevadas de CO2 registadas nos novos ensaios, os impostos vão ser também agravados, o que resulta no aumento dos preços dos veículos novos.”

Fiat Chrysler Automobiles

Tendo em conta que o sistema tributário português sobre os automóveis tem em conta a cilindrada e as emissões, havendo um aumento destas, os preços finais para os consumidores vai aumentar em centenas de euros. Este agravamento, que já mereceu críticas por parte de várias marcas, está a levá-las a procurar poupar os clientes desse custo ao mesmo tempo que promovem as vendas. Há quem o faça de forma discreta, mas também quem não tenha meias palavras. É o caso da Fiat. “Countdown imposto”, o nome da campanha, não engana.

“Compre já o seu Fiat antes do aumento de impostos sobre veículos a 1 de setembro e aproveite os descontos até 5.000 euros” na gama de automóveis da marca. É um desconto que não se fica pela fabricante do 500, chegando também à Jeep, que pertence ao grupo FCA, mantendo-se o mesmo valor, mas aumenta de forma expressiva quando em causa estão os modelos da Alfa Romeo, marca pertencente ao mesmo grupo. Neste caso, diz a marca, chega aos 8.000 euros.

Sem atacar diretamente a revisão da fiscalidade, a Peugeot tem a decorrer uma campanha que tem um prazo de validade com uma data que vai de encontro à entrada em vigor do novo método de cálculo. No “Peugeot Summer Drive” oferece até 4.500 euros na compra de um modelo novo na troca do veículo antigo, mas estes “preços únicos” estão disponíveis apenas para os automóveis que forem adquiridos até 31 de agosto, um dia antes da subida de preços. Outras marcas têm simplesmente campanhas de retoma que baixam a fatura do carro novo, mas são descontos habituais.

Travão à subida? Em Portugal, não

A FCA, que detém a Fiat, Jeep e Alfa Romeo, é, de longe, a que mais explicitamente se mostra contra o impacto que este novo método de cálculo das emissões de gases poluentes dos automóveis vai ter no valor de venda aos consumidores finais. Ainda que sublinhe o mérito do novo procedimento de medição de consumos de combustível e emissões de CO2, que é o de “prestar uma informação mais realista aos clientes, com dados mais próximos da condução em condições reais”, alerta, em tom de crítica, o facto de este poder “significar uma maior carga fiscal para os novos veículos”.

A “mudança para o WLTP não deveria, por isso, representar custos acrescidos para o cliente”, diz a FCA no site das suas marcas. “No entanto, muitos países europeus baseiam os cálculos da fiscalidade automóvel nas emissões registadas. O Imposto Sobre Veículos (ISV), em Portugal, é um exemplo, com incidência nas componentes de cilindrada e emissões de CO2. E, com medições mais elevadas de CO2 registadas nos novos ensaios, os impostos vão ser também agravados, o que resulta no aumento dos preços dos veículos novos”, remata a fabricante.

A FCA nota que “com a entrada em vigor do WLTP para novos veículos, em setembro de 2018, espera-se que os diferentes Estados-Membros adaptem as suas regras fiscais para que os consumidores não arquem com custos exagerados de impostos, dado que os desempenhos dos modelos se mantêm inalterados”. Mas dá ênfase à ausência de medidas nesse sentido em Portugal. “Não está previsto o ajuste da tabela do ISV ao novo ciclo de medição”, salienta, pelo que os modelos “à venda a partir de 1 de setembro vão sofrer aumentos de preço”.

WLTP? NEDC? O quê?

Este aumento de preços que os portugueses que pretendem comprar um carro novo vão sentir logo no regresso das férias do verão resultam de uma mudança na forma como são contabilizadas as emissões de gases poluentes dos veículos. Da NEDC – New European Driving Cycle, lançado em 1992 e que se tornou, entretanto, desatualizada, vai passar-se para a homologação WLTPWorldwide Harmonized Light Vehicles Test Procedure, que promete ser mais fiável.

São siglas que pouco dizem aos consumidores, mas que põem a cabeça das fabricantes às voltas já que não vão poder continuar a publicitar consumos, e também emissões de CO2, extremamente baixos que, depois, na estrada, são praticamente impossíveis de alcançar. É que os testes da WLTP são muito mais exigentes. Procuram, efetivamente, replicar o que a despesa com combustível que o condutor vai ter, mas também as emissões de gases que vai produzir sempre que utiliza o automóvel.

Veja o que muda de um teste para o outro:

Fonte: FCAFonte: FCA

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