2017: PIB mundial cresce pouco e o desemprego acompanha

  • Marta Santos Silva
  • 12 Janeiro 2017

O relatório de previsões da Organização Internacional do Trabalho traz recados sérios: "Enfrentamos o desafio geminado de reparar os danos da crise económica mundial e de criar empregos de qualidade".

É preciso um esforço mundial concertado para melhor enfrentar os desafios colocados na área do trabalho, alerta num novo relatório a Organização Internacional do Trabalho (OIT) ao anunciar as suas previsões de que o desemprego vai continuar a aumentar e o crescimento económico continuar a desiludir a nível mundial em 2017.

“Enfrentamos o desafio geminado de reparar os danos da crise económica mundial e de criar empregos de qualidade para as dezenas de milhões de novos trabalhadores que entram no mercado todos os anos”, afirmou o diretor-geral da OIT, Guy Rider, citado no comunicado que acompanhou o novo estudo World Employment and Social Outlook.

Para Rider, as projeções da OIT, de que o desemprego mundial vai aumentar — de uma taxa de 5,7% em 2016 para 5,8% em 2017 — e de que não haverá reduções significativas na quantidade de pessoas em empregos vulneráveis ou em situação de pobreza apesar de trabalharem, são preocupantes especialmente num contexto em que o crescimento económico se mantém baixo. “Pinta um quadro preocupante para a economia global e a sua capacidade de gerar empregos suficientes, muito menos empregos de qualidade”, afirmou o diretor-geral.

No final de 2017 haverá 3,4 milhões de novos desempregados no mundo, alerta a OIT: o total de desempregados no mundo vai ser de cerca de 201 milhões, um valor próximo da população do Brasil (211 milhões).

Mas mesmo entre as pessoas que têm emprego, os números não são tão positivos assim: mais de 42% das pessoas empregadas no mundo estão em situações vulneráveis, ou seja, falamos de pessoas que trabalham por contra própria ou que trabalham em negócios da família que não lhes pertencem. “São pessoas que têm menos probabilidade de ter situações de trabalho formal e que por isso podem não ter condições decentes de trabalho, Segurança Social, ou voz pela via de sindicatos ou outras organizações”, explica numa entrevista com a OIT o economista Lawrence Jeffrey Johnson.

“Quase um em cada dois trabalhadores nas economias emergentes tem um emprego vulnerável, e isto sobe para mais do que quatro em cinco trabalhadores nos países em vias de desenvolvimento”, afirma o autor do relatório, Steven Tobin, citado também no comunicado da OIT. E a situação não vai melhorar substancialmente. Nos próximos dois anos, a taxa de emprego vulnerável deverá cair apenas 0,2% por ano.

Estratégias poderiam começar nos impostos

A OIT atribui esta estagnação, que considera preocupante, a problemas estruturais. O crescimento pouco satisfatório da economia a nível mundial poderia ser impulsionado por “um afrouxamento fiscal coordenado”, que a organização propõe serviria como um empurrão imediato e, a médio prazo, uma ajuda para aliviar os medos de baixo crescimento e, assim, aumentar o investimento. A verificar-se este cenário, o desemprego mundial poderia descer em 0,7 milhões de pessoas em 2017 e 1,9 milhões em 2018.

É importante lembrar que não se coloca apenas a questão do nível do crescimento, mas também a de garantir uma distribuição equitativa dos ganhos.

Steven Tobin

Economista-chefe, OIT

Se nada for feito e a situação atual de baixo crescimento, baixa procura privada e baixo investimento acabar por se intensificar, o resultado pode ser o inverso, com um aumento acima das previsões de mais um milhão de desempregados no mundo em 2018. E as mais afetadas seriam as economias mais desenvolvidas.

Não basta crescer, porém, é preciso fazê-lo de uma forma inclusiva, relembra o autor do estudo, Steven Tobin. E para isso “é preciso uma estratégia multifacetada que resolva as causas da estagnação secular, por exemplo a desigualdade”, afirma. “É importante lembrar que não se coloca apenas a questão do nível do crescimento económico, mas também a de garantir uma distribuição equitativa dos ganhos”.

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