Editorial

Negócio Altice-Media Capital já morreu. Só falta o atestado de óbito

A Autoridade da Concorrência chumbou os compromissos propostos pela Altice para comprar a Media Capital. Formalmente, os donos da PT ainda podem propor alternativas mas na verdade o negócio já morreu.

A Autoridade da Concorrência (AdC) chumbou os compromissos propostos pela Altice para comprar a Media Capital, a dona da TVI, e agora cabe ao operador franco-israelita avaliar se apresenta outras medidas que respondam às exigências do regulador para garantir a defesa dos consumidores e a concorrência. Será, de qualquer forma, uma formalidade, porque, na verdade, já ninguém acredita que o negócio venha a fazer-se. É uma telenovela com um final infeliz para os dois protagonistas.

O negócio arrastava-se desde julho de 2017, quando, em conferência de Imprensa, Patrick Drahi e Armando Pereira anunciaram ao mercado a compra da Media Capital por 440 milhões de euros, cm um múltiplo de dez vezes o EBITDA, muito superior às médias de mercado em operações internacionais semelhantes. Logo naquele momento, suscitaram-se dúvidas e os concorrentes da Altice, a NOS e a Vodafone, foram particularmente vocais nos argumentos contra o negócio.

Aqui, em Editorial do ECO, devo recordar, defendi as virtudes de uma integração vertical dos Telecom e media – desta ou de outras, como a da NOS com a SIC – como forma de garantir uma capacidade de investimento dos meios de comunicação social que, neste momento, é limitada, e mesmo inexistente se por ‘meios de comunicação social’ estivermos a falar de imprensa. Seria, também, uma forma de valorização dos conteúdos no processo de decisão de um cliente de uma operadora, quando hoje o que determina essa escolha é o preço ou usabilidade da plataforma. Mas também referi o que já era evidente: havia riscos, não de pluralidade na informação, mas de posição de mercado da empresa que resultasse da combinação da Altice com a Media Capital. Não muito diferentes daqueles que, por exemplo, estão a ser discutidos nos EUA na fusão da AT&T com a Time Warner.

Seria necessário, por isso, garantir remédios e compromissos que permitissem uma concorrência saudável. E é preciso acrescentar que o passado recente da Altice não inspira propriamente confiança no cumprimento de regras comportamentais. Veja-se o caso da multa europeia de 125 milhões de euros por causa do acesso a informação considerada confidencial da PT Portugal antes da própria Comissão Europeia autorizar formalmente o negocio, Exigiam-se, por isso, compromissos estruturais, que não chegaram.

Também não é claro se a própria Altice ainda queria mesmo comprar a Media Capital. A reestruturação societária e de negócio internacional, a possibilidade de venda da SFR em França e a necessidade de redução da dívida do grupo também podem explicar porque é que os compromissos propostos pela Altice ficaram claramente aquém do que se sabia que eram as exigências da Concorrência para autorizar a operação.

O negócio, por isso, morreu. Salvaguardado qualquer volte-face inesperado, e totalmente surpreendente, a Altice vai anunciar a desistência do negócio, de forma formal ou informal, e apresentar o respetivo atestado de óbito.

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