Do you want to invest in Sonae MC? Read this (if you can)

Os pequenos investidores estão sempre prontos para uma OPV. Há apetite pelas ações da nova Sonae, mas podia haver mais consideração por quem procura informação sobre o que está a comprar.

Há mais uma Sonae na bolsa. É uma entre as muitas que já existem no mercado de capitais português, mas também entre tantas que por lá passaram – e não duraram. Entre estas últimas encontramos a Modelo Continente, resgatada por Belmiro de Azevedo em 2006, mas que agora regressa ao mundo do sobe e desce, dos ticks e pips, de cara lavada. E bem mais “crescida”. A Sonae MC já não é só um mero supermercado. É todo um universo de retalho.

Aos Continente e Modelo juntaram-se, só longo dos últimos anos, muitas outras insígnias. Vão desde a Well’s à Note, até ao ZU, que quem tem animais de estimação provavelmente já conhece. São muitos conceitos, todos do mesmo dono. E todos a contribuírem para lucros que a velhinha Sonae recolhe e distribui, muitos pelos seus, alguns por aqueles que nela investem.

Com a MC, a Sonae quer dar aos investidores a hipótese de capitalizarem o negócio do retalho só por si, sem terem todas as outras áreas de negócio da holding atreladas. Especialmente os grandes investidores que preferem estruturas mais simples, mais fáceis de compreender. Mas também, em parte, aos pequenos aforradores que podem passar a sentir que estão a gastar na caixa do supermercado para ganharem no final do ano, com os dividendos.

A Sonae volta, com esta oferta pública de venda (OPV), a recuperar o velho espírito do capitalismo popular. E até tem timing. Apesar dos tremores italianos, as famílias portuguesas têm dinheiro para gastar. E também para investir — veja-se o sucesso que é cada emissão de dívida portuguesa para o retalho. Há apetite. Mas podia haver mais consideração por quem procura informação sobre o que está a comprar.

São poucos os portugueses que podem dizer que são poliglotas. Mas uma boa parte sabe pelo menos mais uma língua além da materna. E, muito provavelmente, é o inglês. Afinal, todos vemos, desde pequeninos, uma série ou filme na versão original, ainda que com a ajuda das legendas. Ajuda a aprender.

Porquê toda esta conversa sobre o inglês? Simples. Já foi ler o prospeto da OPV como “mandam” os anúncios da Sonae MC? Vá. E quando o fizer vai perceber… Ou melhor, não vai. Para agilizar os processos de admissão à negociação em bolsa de uma empresa, Bruxelas deu luz verde a um modelo que até agora não se tinha visto em Portugal — uma OPV tem sido coisa rara na Avenida da Liberdade. Assim, os emitentes podem acelerar o processo depositando no site da CMVM apenas uma versão. Em inglês, técnico. E poucos compreenderão o inglês técnico, exceto um ou outro engenheiro.

Com esforço conseguem-se deslindar os dados mais relevantes da operação. As datas da operação, para começar, o preço, que todos querem saber, mas quando se chega, por exemplo, às ações que estão à venda, a coisa complica-se. E há muito mais pontos importantes que, infelizmente, não estarão ao alcance de todos os aforradores.

Um prospeto de uma OPV deve ser o mais simples possível, dentro daquilo que são as obrigações legais. Neste caso, não é. A Sonae pôs lá o que tinha de pôr. E a CMVM validou-o porque cumpre com as exigências, mas não deixa de assustar. Outros prospetos bem mais claros, com tudo preto no branco, expuseram muitos investidores a riscos que muito provavelmente não desejariam. Mas nesses casos, pode dizer-se que estava lá. Não leu quem não quis.

Nesta OPV, os investidores, nomeadamente os pequenos investidores, terão de contar com o gestor de conta para conhecer todos os detalhes. E estes terão de saber responder sobre pormenores que muito dificilmente terão tido tempo de estudar — muitos darão uma vista de olhos pelo sumário da operação publicado em simultâneo. Dificilmente estarão à altura, como ficou provado em operações do passado. Mas desta vez tudo o que disserem ficará gravado. E servirá de prova para o caso de algo correr mal.

 

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