Mexia: “A EDP controla o seu próprio destino”

  • ECO e Lusa
  • 12 Abril 2018

"Estamos a controlar o nosso destino. Não preciso de mais ninguém para controlar o nosso destino, precisamos apenas da confiança dos nossos acionistas", disse António Mexia.

António Mexia garante que “não há nenhuma conversa” da EDP com a francesa Engie, que alegadamente terá manifestado interesse em adquirir a elétrica nacional. Em entrevista ao Jornal de Negócios (acesso pago) nos Estados Unidos, onde se encontra para a Cimeira Elétrica internacional, o CEO da EDP sublinhou que a empresa deve ter “uma história independente de outras histórias” e que a sua “prioridade é que a companhia controlasse o seu próprio destino”.

“Temos uma história para contar que tem valor e que é distintiva, essa sempre foi a prioridade. Este setor está em profunda mudança e o que nós estivemos a discutir em Washington DC foi justamente a velocidade da mudança do setor. Antecipámos essa revolução, e portanto estamos a controlar o nosso destino. Não preciso de mais ninguém para controlar o nosso destino, precisamos apenas da confiança dos nossos acionistas, parceiros, colaboradores e clientes. É dessa confiança que nós precisamos.

Já na entrevista à agência Lusa, o presidente executivo da EDP apelidou de “histórias” e “realidade virtual” as notícias sobre negociações com a francesa Engie, garantindo que “não existe nada” e que “a EDP controla o seu próprio destino”. “É uma realidade virtual e uma realidade virtual tem esta facilidade de se juntarem personagens. É mais difícil arranjar pessoas reais”, acrescentou.

Questionado sobre a possibilidade de a China Three Gorges (CTG), o maior acionista da elétrica, responder ao crescente interesse na EDP com um novo aumento de capital e eventual Oferta Pública de Aquisição (OPA), António Mexia recusou comentar “decisões acionistas”, referindo que “é bom que os acionistas queiram mais entrar do que sair”. “Nunca comento decisões acionistas. É bom que os nossos acionistas queiram mais entrar do que sair. Aliás, as ações sobem quando há mais gente a querer entrar do que a querer sair”, concluiu.

“A CTG é um parceiro importante”, garante já que “tem suportado toda a estratégia [de crescimento]. Reforçou recentemente, e aproxima-se do limite, de 25%, que existem nos estatutos da EDP, e a única coisa que este reforço demonstra é o valor que atribui à companhia”, afirmou. Ao Negócios explicou ainda que a CTG tem sido “importante para o crescimento no Brasil, importante para a entrada em novos mercados como o caso do Peru e eventualmente do mercado colombiano, embora sejam marginais e relativamente pequenos, mas que criam novas opções”.

EDP começa a vender eletricidade no Texas em 2018

E nestas novas opções está a “estratégia clara de diversificação nos EUA”, revelou António Mexia na entrevista à Lusa. A EDP está a investir no solar e a preparar-se para desenvolver eólica ‘offshore’ (no mar) e ainda este ano começa a vender eletricidade ao consumidor final no estado do Texas.

“Os EUA têm sido o nosso principal motor de crescimento e vão continuar a sê-lo”, afirmou o presidente executivo da EDP, realçando que a Administração de Donald Trump decidiu manter as políticas para as renováveis o que “permite hoje olhar até ao final da década e mesmo até ao início da década seguinte com enorme serenidade em relação aos EUA”.

Depois do investimento em centrais eólicas, contando atualmente com 45 parques eólicos, a EDP Renováveis – subsidiária da EDP – está a apostar no solar, primeiro na Califórnia e a agora no Indiana, previsto para 2022, e quer desenvolver projetos eólicos ‘offshore’ na costa leste, em águas pouco profundas, e na costa oeste, onde as águas são mais profundas, a tecnologia eólica flutuante ‘Windfloat’ que foi testada em Portugal e que está em fase pré-comercial.

Entretanto, ainda em 2018, a EDP vai dar início à comercialização de energia no estado do Texas: “Vamos começar no mercado ‘business to business’ [segmento empresarial] e ‘business to consumer’ (segmento residencial) ainda em 2018, transformando-se assim no quarto mercado onde e elétrica comercializa energia (depois de Portugal, Espanha e Brasil).

As condições estruturais do mercado das renováveis nos Estados Unidos é muito sólido. Os EUA têm uma coisa de que gosto particularmente que é o facto de o passado não ser incerto, ou seja, quando as regras mudam, mudam para o futuro. Não se põe em causa regras que existiam, o que é muito importante para qualquer setor, mas essencialmente para os de capital intensivo, como o da energia e das infraestruturas”, acrescentou.

Sobre as outras condicionantes favoráveis ao investimento nos EUA, António Mexia realçou que 29 estados norte-americanos têm ‘Renewable Portfolio Standards’ (RPS), isto é, metas de energia limpa que têm que cumprir, sendo penalizados os que não cumprirem esses objetivos de energia limpa.

Depois há ainda apoios fiscais à produção eólica (PTCs – Production Tax Credits), que vão desaparecer até 2021, e incentivos fiscais ao investimento em energia solar (ITCs – Investment Tax Credits), que se traduzem em cerca de 30% do investimento inicial. No caso da produção eólica, os EUA beneficiam ainda de fatores de utilização (‘load factor’) “muito maiores, em média, do que a Europa”: “Falamos tipicamente de 35, 40 ou mais de 40%, quando na Europa falar de 25% já é muito”, acrescentou.

Neste momento, a EDP Renováveis está a construir a sexta fase do Meadow Lake Wind Farm, no noroeste do estado do Indiana, com 200 Megawatts (MW) de capacidade instalada, o que elevará a capacidade deste parque eólico para 1.000 MW de potência e fará dele o maior do grupo.

“Aquele parque que vimos [Meadow Lake Wind Farm] vai atingir [no final deste ano] 1.000 MW que é quase tanto como temos em Portugal [1.100MW]. O que vemos é essa discussão permanente sobre o futuro, sobre o que vai funcionar, mas não se põe em causa nunca o sistema”, acrescentou.

António Mexia adiantou que o parque, que se estende ao longo de 250 quilómetros quadrados de campos agrícolas (a sua maioria alugadas aos agricultores), será “o maior projeto da EDP nos EUA e no mundo”. Entretanto, a EDP Renováveis já fechou contratos para a venda da energia que será produzida na nova extensão do parque, suficiente para abastecer 52.000 famílias.

“Não acho que exista crispação com Governo”

O presidente executivo da EDP, António Mexia, rejeita a existência de crispação com o Governo, referindo que “em Portugal a energia está do lado da solução”, mas reiterou que as regras fixadas no passado têm que ser respeitadas.

“Não acho que exista crispação (…) com o Governo. Acho que pura e simplesmente tem que se trabalhar no contexto de encontrar soluções”, defendeu António Mexia, à Lusa, referindo que não pode aceitar que “regras que foram fixadas em 1995, confirmadas na privatização de 1997, que são objeto de lei em 2014 e que presidiram a tudo que tem a ver com a venda de ações do Estado” sejam mudadas.

Em causa estão, neste caso, os Custos para a Manutenção do Equilíbrio Contratual (CMEC), criados em 2004 e recebidos pela EDP desde julho de 2007, devido à cessação antecipada de vários contratos de aquisição de energia (CAE) que a empresa tinha em cerca de três dezenas de centrais elétricas, e que estão a ser objeto de uma investigação do Ministério Público.

Além do processo de investigação, está em causa um diferendo entre a elétrica e a estimativa do regulador que considera que a EDP ganhou mais 510 milhões de euros com este regime nos últimos dez anos, e que propõe um ajustamento final de 154 milhões de euros até 2027, enquanto o grupo de trabalho técnico EDP/REN – Redes Energéticas Nacionais apurou um valor de ajustamento final de 256 milhões de euros, para o mesmo período, de 01 de julho de 2017 até 31 de dezembro de 2027.

A EDP limitou-se a cumprir legislação de 2004, não houve nada depois disso. Limitámo-nos a respeitar os contratos e a lei. São os deveres fiduciários”, declarou. Segundo o líder da elétrica, que na semana passada foi reconduzido para um novo mandato de três anos, “em Portugal a energia está do lado da solução”, dizendo estar otimista em relação a estes diferendos, uma vez que “quem cumpre o seu dever está sempre otimista”.

Não temos problemas em discutir tudo que tem a ver com realidade, com o respeito da lei, dos contratos, da regulação, da criação de condições semelhantes para todos os operadores. Essa é uma questão com a qual nos sentimos confortáveis. Não gostamos e não podemos aceitar quando se alteram regras de jogo, quando coisas temporárias deixaram de ser, quando era suposto que parte das receitas fossem para diminuir as tarifas e não foram”, disse, referindo-se à Contribuição Extraordinária sobre o Setor Energética (CESE), que vem sendo paga pelas empresas do setor desde 2014.

Questionado sobre as declarações do novo presidente do Conselho Geral e de Supervisão (CGS), Luís Amado, sobre um novo ciclo na elétrica, considerando que problemas que causam “algum ruído” têm que ser resolvidos com “espírito de diálogo”, Mexia disse que “o que foi afirmado pelo novo presidente do CGS é uma determinada vontade de estabelecer pontos e equilíbrios”. Mas, sublinhou, “é indispensável basearmo-nos em factos, em realidade e não em perceções e cada um faça o que tem que fazer”.

O ex-ministro da Defesa e dos Negócios Estrangeiros Luís Amado foi eleito na passada quinta-feira, em assembleia-geral de acionistas, presidente do CGS da EDP para o próximo triénio, em substituição de Eduardo Catroga, que continua a integrar este órgão, como um dos representantes da maior acionista, a China Three Gorges (CTG).

Tudo a postos para o verão

Já na entrevista que deu à rádio TSF, António Mexia deu a garantia de que está tudo a postos para o verão, voltando a frisar que rejeita qualquer responsabilidade da empresa pelos trágicos incêndios do verão passado.

“Nós limpamos mais de 7500 quilómetros todos os anos respeitando aquilo que são faixas de 7,5 metros para cada lado e a única coisa que não se pode limpar são as espécies protegidas. Utilizamos hoje tecnologias como helicópteros e drones”, garantiu.

O presidente da EDP queixa-se que a empresa tem sido perseguida: “Percebemos que às vezes seja tentador procurar bodes expiatórios mas acho que ficou claro para todos que a EDP não teve nada a ver com o antes, porque estava tudo limpo, mas tem a ver com a capacidade de resposta no restabelecimento da energia”.

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