Estremadura e Ribatejo, a horta e o pomar de Portugal

  • Filipe S. Fernandes
  • 11 Setembro 2017

Os gémeos das aves, o tailandês do atum, o ex-gestor da Siemens da aguardente e os reis do ovo de Ferreira do Zêzere são exemplos de um território de grande potencial agro-industrial.

A pera-rocha é conhecida no Brasil como a pera portuguesa e é, de facto, o fruto português mais exportado. Terá sido identificada há cerca de 170 anos (1836), na propriedade de Pedro António Rocha, em Sintra, cuja denominação de origem é atualmente “Pera Rocha do Oeste”, que se produz sobretudo no Oeste mas também, embora em menores quantidades, no Alentejo (Ferreira do Alentejo e Elvas), Trás-os-Montes (Carrazeda de Anciães), Minho (Braga) e Beira Interior (Lamego, Guarda, Manteigas, Covilhã, Belmonte e Fundão).

A pera-rocha começou a ser exportada há mais de uma década, tendo aumentado de uma forma muito significativa de 2000 a 2015: de 14 milhões de euros para 87 milhões, e o peso do valor das exportações de pera no setor agrícola passou de 7% em 2000 para 11% em 2010.

“A grande vantagem que ela tem é a capacidade de conservação ao frio e de resistência, o que lhe dá grandes vantagens competitivas. Conseguimos, ao fim de 8 a 9 meses de conservação, embalá-la, colocá-la dentro de um contentor e fazer três semanas de transitário no navio até ao Brasil, Canadá ou outras paragens mais longínquas. Isso confere-lhe características singulares e com qualidade”, explica Domingos Santos, diretor da Frutoeste-Cooperativa Agrícola de Hortofruticultores do Oeste e presidente da Associação Nacional dos Produtores da Pera-Rocha (ANP), ao Mundo Português.

Em 2012, produziam-se 116.000 toneladas com 76% da produção correspondente a produção certificada, sendo o produto agrícola com maior quota de certificação. Entre 2005 e 2014, a área de produção manteve-se sensivelmente constante cerca de 12.000 hectares tendo, no entanto, a produção subido de 130.000 toneladas para 210.000, o que revela a grande intensificação em novos pomares. No entanto, em 2016 caiu para 116.000 toneladas devido à praga de estenfiliose. O seu controlo permitiu que, em 2017, se preveja uma produção de 180.000 toneladas. Os seus principais mercados são o Brasil, com 36%, ou o Reino Unido e França, com 18% e 14%, respetivamente. Os principais exportadores são a Cooperfrutas, Coopval, Globalfrut, Granfer, Frutoeste e Frutus, Luís Vicente, Eurofrutas, Ferreira da Silva.

Em 1986, um conjunto de agricultores da região de Alcobaça criou a Frubaça e, em 1992, investiram numa central fruteira para rececionar, selecionar, embalar, conservar e comercializar os produtos hortofrutícolas, nomeadamente maçã e pera rocha, mas também ameixas e pêssegos, entre outras.

Perceberam como é que a comercialização fruteira ia ser afetada pelo mercado único europeu.

Jorge Piriquito

Diretor da Frubaça

Em 2001 foi construída uma unidade de transformação, para acrescentar valor à produção agrícola, acompanhar as necessidades de mercado e apostar na diferenciação de produto. Esta representa cerca de 50% do volume de negócios da empresa.

Tecnologia como base

Começaram pela fruta em fresco mas hoje têm um rede regional de 15 lojas, grandes superfícies e uma gama de produtos processados como sumos e purés de fruta de maior valor acrescentado. Produzem 8.000 toneladas de maçãs e peras que são armazenadas durante todo o ano e que são a base para a produção e comercialização.

Atualmente, têm tecnologia na empresa que permite segmentar a fruta. Por exemplo, as maçãs com menos açúcar são as ideais para o sistema de ensino britânico. Exportam para a Europa, Estados Unidos, Hong Kong, Singapura. A inovação é um desafio e têm procurado estar um pouco à frente do mercado. Além disso, os sumos e os purés são submetidos a um processo em alta pressão (HPP – High Pressure Preservation) que permite reduzir ou eliminar micro-organismos indesejados presentes nos alimentos. Através deste processo — que não altera a qualidade dos produtos — é possível prolongar o prazo de validade dos alimentos sem utilização de aditivos, simultaneamente, o processo em alta pressão contribui para o aumento da segurança alimentar.

Em 2007, a Frubaça fez uma parceria com a GL, empresa importadora e distribuidora de produtos alimentares, para lançar a gama de smoothies So Natural. Esta gama de produtos foi reconhecida em 2011 a nível internacional pelo 5 a day, instituto britânico de sensibilização para a alimentação e saúde no Reino Unido, promovido pela National Health Service, que constatou a existência de duas porções de fruta (160g) numa bebida com apenas 125 ml, classificando os smoothies “como um dos sumos mais puros do mundo”. Tem ainda os sumos 100% naturais da marca Copa e uma gama de purés de fruta 100% naturais. Recentemente, o So Natural lançou um novo produto o Ginger Up que ganhou o prémio de Best New Fruit Product na Feira de Chicago United Fresh 2017.

A GL tem ainda uma fábrica em Azambuja, que se destina à produção de sanduíches, saladas e outras soluções de refeição com capacidade de produção de 12 milhões de unidades anuais. A empresa opera em todos os canais de distribuição, nomeadamente super e hipermercados (Pingo Doce, Continente, El Corte Inglês, Intermarché), canal conveniência (postos de abastecimento de combustível), catering (EasyJet, Vueling, Ryanair, TAP, Delta Airlines, KLM, Iberia) e redes de cafetarias. Entre os clientes de exportação destaque para Starbucks, Prêt à Manger, Whole Foods, Costa Café, Bon Marché, Eric Kayser e Paul. As exportações representaram já 40% da faturação registada em 2015.

Empresas do Oeste

O perfil empresarial do Oeste apresenta uma estrutura produtiva dedicada fundamentalmente a indústrias dependentes dos recursos naturais: empresas de agricultura, de exploração e comércio de produtos agrícolas. Na agricultura, sobressaem a cultura de pomóideas e prunóideas, a cultura de outros frutos e a suinicultura. Em termos económicos, trata-se de uma região especial, com clusters competitivos e com largas economias de escala a funcionar. São exemplo disto o setor agroindustrial com casos como a fruta (maçã de Alcobaça e pera-rocha de Cadaval e Bombarral), o vinho (em Alenquer e Torres Vedras), os hortícolas na Lourinhã ou as pescas em toda a orla costeira.

Kraisorn Chansiri associou-se a Cheng Niruttinanon em 1977 para fazer uma fábrica de conservas de peixe no porto de Samut Sakhon, na Tailândia. Hoje a Thai Union Frozen (TUF) é o maior produtor do mundo de conservas de atum. Está na lista dos mais ricos da Forbes e desembarcou em Peniche, em 2010. O motivo do destino foi a compra da MW Brands SAS, que detinha marcas como John West, Petit Navire, Parmentier e Mareblu — e a portuguesa Marie Elisabeth –, e ainda uma fábrica de conservas em Peniche (que hoje se denomina European Seafood Investments Portugal e produz diariamente 60 toneladas de conservas).

Os negócios das pescas e das conservas continuam a atravessar ciclos mas estão longe da importância que tiveram no passado, tanto em Peniche como na Nazaré. No entanto, Peniche tem alguns trunfos. “O peixe do sul do país tem melhor qualidade e Peniche tem o porto do país com maior volume de descargas. Além disso, é o que tem maior variedade de pescado e está próximo de Lisboa, o ponto de partida para conseguirmos exportar por terra ou por mar metade da nossa produção”, referiu José Nero da Conservas Nero, que é recuperação dos negócios da família vendidos em 1989.

Também em Peniche, a empresa Conservas Ramirez encerrou a fábrica para concentrar os trabalhadores e a produção numa nova unidade em Lavra em Matosinhos, um investimento de 18 milhões de euros. No entanto, em 2015, foram aprovados financiamentos comunitários de 13,2 milhões de euros de investimento para duas novas fábricas de conservas e duas unidades de comercialização e transformação de peixe em Peniche, um investimento de sete milhões de euros da multinacional norte-americana South Atlantic Capital.

O peixe do sul do país tem melhor qualidade e Peniche tem o porto do país com maior volume de descargas. Além disso, é o que tem maior variedade de pescado e está próximo de Lisboa, o ponto de partida para conseguirmos exportar por terra ou por mar metade da nossa produção.

José Nero, da Conservas Nero

Dentro do porto de Peniche vão efetuar-se três novos investimentos apoiados por fundos comunitários: um investimento de 2,9 milhões de euros da empresa Conservas Nero, sedeada em Matosinhos, outro de 2,9 milhões de euros numa nova unidade industrial de transformação de peixe fresco em produtos pré-cozinhados em fresco ou congelados, com capacidade para produzir oito a 10 toneladas/dia, e ainda uma unidade de venda de marisco, da empresa Tejo Ribeirinho, de Peniche.

Carlos Melo Ribeiro era presidente da Siemens Portugal quando decidiu apostar na produção de aguardente na sua Quinta do Rol, na Lourinhã, que o avô adquirira e que conta com um terreno de 35 hectares de vinha. Havia três anos que a Lourinhã se tornara uma das três regiões demarcadas de aguardente vínica no mundo, ao lado das francesas Cognac e Armagnac. Tem a única destilaria certificada onde são feitas as aguardentes da Quinta do Rol e da Adega Cooperativa da Lourinhã.

O vinho é um dos produtos agrícolas nesta região que se reparte pela região de Vinhos de Lisboa (que contempla as denominações de origem de Alenquer, Arruda, Bucelas, Carcavelos, Colares, Encostas d’Aire — Alcobaça e Medieval de Ourém –, Lourinhã, Óbidos e Torres Vedras e ainda a indicação geográfica homónima (“Vinho Regional Lisboa”) e tem produtores como a Casa Agrícola Visconde de Merceana, Casa Santos Lima, que exporta desde o século XIX, Companhia Agrícola do Sanguinhal, DFJ Vinhos, Divinis – Agroprodutos de Ourém ou Caves Dom Teodósio, agora grupo Enoport.

Os vinhos com Denominação de Origem (DO) do Tejo têm de ser provenientes exclusivamente de uvas produzidas dentro da área geográfica da DO, e vinificados dentro da região formada pelos concelhos de Azambuja, Abrantes, Alcanena, Almeirim, Alpiarça, Benavente, Cartaxo, Chamusca, Constância, Coruche, Entroncamento, Ferreira do Zêzere, Golegã, Mação, Rio Maior, Salvaterra de Magos, Santarém, Sardoal, Tomar, Torres Novas e Vila Nova da Barquinha.

Os negócios da carne e do ovo

O grupo Valouro tem origem em Torres Vedras, fatura cerca de 400 milhões de euros e conta com 2.000 trabalhadores. Na produção de carnes de frango, galinha, galo, pato, peru, salsicharia, transformados com a marca Avibom, são líderes em Portugal, nos pintos do dia estão no mercado ibérico e nos ovos de incubação exportam mais de 50%. Além deste negócio, têm também rações e produção de pintos. Estão no negócio desde 1875 quando Manuel dos Santos criou a sua empresa de comercialização de aves, mas os grandes obreiros do grupo foram os dois irmãos gémeos, António José dos Santos e José António dos Santos, atual presidente –e que tem 12,7% do capital do Sport Lisboa e Benfica — que, aos 75 anos, delegaram as tarefas executivas no sobrinho, Dinis dos Santos. Numa entrevista, José António dos Santos referiu que o negócio está nas aves: “Frangos, patos, perus, codornizes, galinhas… é a linha completa e é nessa que vamos continuar”.

Este grupo tem sido um utilizador hábil dos fundos europeus, que têm sido utilizados para apoiar a modernização dos matadouros, aviários, equipamentos, e em desenvolvimento de I&D. É um bom exemplo de uma característica do Oeste, que é um dos territórios com o maior número de explorações pecuárias em comparação com outras regiões agrárias portuguesas.

As empresas neste setor têm quase todas o mesmo modelo de negócio: por exemplo, a Probar, fundada em 1967, em Cernache, como Companhia de Produtos Alimentares Barreiros — e que se dedica ao abate de gado e de preparação e fabrico de conservas de carne, nomeadamente de suínos –, foi adquirida pela família Ruivo, que tinha sido acionista da Fricarnes, vendida ao grupo espanhol Campofrio. Desde então detém empresas do setor agroalimentar, que estão presentes em toda a cadeia do processo produtivo, desde as rações (na Nutricampo), passando pela criação de animais através da Suigranja, até à transformação e comercialização de carnes pela Probar.

A região de Leiria também apresenta um conjunto de empresas agroindustriais com grande peso no mercado e com capacidade de inovação. Têm por base um modelo em que procuram controlar a cadeia de valor que vai da produção até à distribuição e às marcas. O grupo Lusiaves, nascido em 1986, e que trabalha a partir de Leiria (Marinha das Ondas), é um bom exemplo. Vai da produção de rações através da Racentro – Rações do Centro SA à recria de galinhas reprodutoras e produção de ovos, com respetiva incubação realizada num centro na Figueira da Foz, a produção de pintos na Multilafões), até às produções avícolas de frango na Granja Avícola de S. Pelágio e de frango do campo (na Campoaves, Campo Vivo e Campo Aberto) e abate e transformação de carnes (na Avisabor e na Triperu), passando pela distribuição nacional e a criação de marcas como a Lusiaves e Campo Grill. Inclui ainda a Inogen – uma empresa de I&D orientada para o desenvolvimento de soluções na área da terapêutica e profilaxia veterinária e atuando igualmente na comercialização de produtos nestas áreas e a TNA orientada para a tecnologia e nutrição animal.

Nesta fileira têm relevo duas empresas que fazem do ovo o centro dos seus negócios: o grupo que se articula em torno da holding Globalfer é um grupo familiar e tradicional, que é líder na produção industrial de ovos e de produtos derivados de ovos através da Zêzereovo – Produção Agrícola e Avícola do Zêzere, criada em 1986 por Francisco Fernandes e que, em 30 anos, de um pavilhão com capacidade para 35.000 galinhas passou para uma capacidade atual de 1.400.000 galinhas em postura (que põem ovos), possuindo o maior pavilhão de postura da Europa.

A empresa dispõe de 18 pavilhões onde é assegurada a produção de 950.000 ovos diários, sujeita a uma minuciosa seleção suportada por equipamentos avançados no sistema de controlo da qualidade. Outra delas é a Uniovo – União Produtora de Ovos, constituída em 1987 e que produz e distribui ovos em Portugal e na Europa, divididos em duas categorias: ovos classificados/embalados e ovos a granel. Existe ainda a Rações Zêzere (33%), Agropefe-produção pecuária (50%), Maxipet (42%), Bio Compost (40%) e 82% da Sicarze – Sociedade Industrial de Carnes de Ferreira do Zêzere, criada em 1978, cuja produção está estruturada em quatro eixos: charcutaria (com uma oferta muito diversificada), mercearia (banhas e salsicharia), congelados (carnes de porco, novilho e aves, temperadas e prontas a cozinhar), e food service (enchidos, fiambres e outros preparados para churrasco, lanches, entradas e aperitivos). Em 2009, a Câmara Municipal de Ferreira do Zêzere registou a marca Capital do Ovo e, em 2012, fizeram a maior omelete do mundo, com seis mil quilos de ovos, para entrar no Guiness.

A Uniovo da Globalfer é uma das acionistas fundadoras da Derovo (com 13,6%), empresa criada em 1994 e que instalou a primeira fábrica dois anos depois em Pombal. Especializada em ovo produtos, dos quais os primeiros foram ovo líquido pasteurizado, ovo inteiro, gema e clara, a unidade conta com uma capacidade atual de processamento de 1,8 milhões de ovos por dia. A par deste crescimento, e tendo definido o I&D como um dos principais eixos estratégicos, a empresa fez evoluir a sua oferta de produtos para novas formas de comercialização do ovo, como foi o caso do ovo em spray, o ovo cozido e o full protein. Em 2010, a Derovo inaugurou a sua segunda fábrica, em Mieres, Espanha. Dispõe também de um centro de classificação de ovos em Pombal, na empresa Gemadouro, e está também instalada em Felgueiras e Proença-a-Nova. A Derovo tem uma parceria com a catalã Postres y Dulces Reina para o fabrico e exportação de sobremesas, dispondo de uma unidade instalada em Pombal.

Santarém está a 66 quilómetros de Lisboa e a 242 do Porto, sendo atravessada pelas autoestradas A1, A6 e A15, e beneficiando ainda da ligação à A13 a que se junta a linha férrea. Esta localização cruza-se ainda com o facto de estar na proximidade de regiões de produção pecuária e de transformação de carne. Existem empresas como a Carnes Valinho, Santacarnes, Sotalim e Monte Safira. Desde 2003 que as Carnes Continente, empresa do grupo Sonae, faz numa unidade localizada em Santarém a receção, desmancha, fatiamento e posterior embalamento em atmosfera modificada de carnes de bovino, suíno, ovino, caprino e aves. Recorde-se que a Sonae tem também em Santarém o seu centro de distribuição de pescado, que abastece todo o parque de lojas da base alimentar da Sonae Portugal.

É nesta região que fica o que pode considerar-se uma companhia majestática, a Companhia das Lezírias (CL) que é a maior exploração agropecuária e florestal existente em Portugal, que tem cerca de 11% Reserva Natural do Estuário do Tejo e é um boa amostra do potencial da região. Na Lezíria Norte tem 1.300 hectares que são explorados rendeiros. Na Lezíria Sul, ocupa perto de 5.000 hectares, dos quais cerca de 2600 hectares estão arrendados e 2.200 hectares são explorados diretamente, sendo quase 1.900 para pastagens e cerca de 320 de arroz. O arroz cultiva-se igualmente nos Pauis de Magos, Belmonte e Lavouras, mas só este último, com uma área de 240 hectares, é explorado diretamente. No total, a área destinada ao cultivo de arroz em solo da CL ronda os 1500 hectares.

No que diz respeito a exploração direta, a Companhia faz ainda, em Catapereiro, uma média de 250 hectares de milho (sob pivot), 140 hectares de vinha e 70 de olival, e 3.050 hectares de prados permanentes biodiversos, na Charneca. A Charneca do Infantado e os Pauis perfazem uma área de cerca de 11.500 hectares. Com base na Carta de Lei de 16 de março de 1836, a Rainha D. Maria II autoriza a venda em hasta pública das vastas propriedades que compunham as “Lezírias” do Tejo e Sado e que tinham bens da Igreja, da Coroa ou dotações das Infantas num total de 48.000 hectares, sendo nacionalizada em 1975, mantendo-se como empresa de capitais públicos. Desde agosto de 2013 que a Companhia das Lezírias passou a gerir a Coudelaria de Alter e a Coudelaria Nacional. A zona de Caça Turística, com 8.425 hectares, abrange toda a área central da Charneca do Infantado, o Roubão e o Catapereiro. Em 2016 faturou quase 6,2 milhões de euros e teve 2,1 milhões de euros de lucro.

Esta empresa é uma amostra de grande exatidão da região do Ribatejo. A região da Lezíria alentejana é atravessada pelo vale do Tejo, entre as Serras d’Aire e Candeeiros, uma barreira natural contra os ventos frios do quadrante Norte e planície do Alentejo. No Ribatejo, evidenciam-se quatro sub-regiões naturais que, atendendo à sua paisagem, características climáticas, topografia e à utilização humana do solo, são designadas Lezíria, Bairro, Charneca e Serra.

Na Lezíria situam-se as planícies inundáveis, de solos de ótima qualidade e elevada produtividade em que predomina a cultura de hortícolas, frutícolas, da vinha, de cereais, do girassol, e excelentes pastagens para criação de gado bovino e equino. O Bairro corresponde ao território entre o vale do Tejo e a serra com solos mais pobres, argilo-arenosos e argilocalcários, propícios para as culturas de sequeiro como o olival, a vinha, os cereais e culturas arbustivas e arbóreas.

A charneca estende-se na margem esquerda do rio Tejo, dos terrenos inundáveis até ao Sul do Ribatejo com os solos arenosos, e onde se exploram culturas que necessitam de pouca água como o montado de sobro pinhal e eucaliptal, cereais e vinha predominam os olivais e a vegetação natural: o zambujeiro, o carvalho-cerquinho e a azinheira. Aqui e ali, os relevos são interrompidos por vales (depressões) mais ou menos planos, de solo mais fundo e fértil, com pequenas manchas agrícolas, os covões. Neste região fica Coruche onde se situa o Vale do Sorraia, que oferece grandes potencialidades agrícolas e tem instaladas algumas importantes unidades agro-industriais, como a Atlantic Meals — de arroz –, e a Dai — de açúcar de beterraba — que se encontra em dificuldades. Em Coruche, cerca de 40% do território é ocupado por área de montado de sobro sendo, a nível concelhio, o maior produtor de cortiça do mundo.

A herdade de Herdade da Sanguinheira de Codes, na Chamusca, está na família Pais Azevedo há várias décadas, desde os anos 1940. É composta por duas zonas florestais, divididas ao centro por um vale agrícola de regadio, em que 72,5% é montado de sobro — cerca de 450 hectares –, e o restante eucaliptal e pinheiro manso, com rega gota a gota com pastagem de regadio e rega de cobertura, e um efetivo de 1000 ovinos de carne em regime extensivo. É certificada pela Forest Stewardship Council. Desde 1992, desenvolve a sua atividade tendo em conta a sustentabilidade com a gestão do montado em rotação de sete anos, proteção de regeneração natural, controlo da vegetação com grade de discos, adensamento de clareiras, sementeira de tremocilha, controlo da vegetação espontânea com corta-matos, pastagens biodiversas em faixas alternadas de seis metros, gradagem para sementeira em curva de nível, evitando passagem debaixo da copa dos sobreiros. “Tudo isto num equilíbrio entre montado, pastagem e vegetação espontânea. De três em três anos fazem análises de solos e de folhas para acompanhar a evolução e, todos os anos adubamos o montado conforme os resultados das análises”, referiu Joaquim Pais de Azevedo.

Tudo isto num equilíbrio entre montado, pastagem e vegetação espontânea. De três em três anos fazem análises de solos e de folhas para acompanhar a evolução e, todos os anos adubamos o montado conforme os resultados das análises

Joaquim Pais de Azevedo, da Herdade da Sanguinheira de Codes

A produção florestal é uma dos fortes componentes agrícolas da região do Médio Tejo, mas também da Lezíria do Tejo. Na região de Leiria, o uso do solo caracteriza-se pela presença muito significativa dos sistemas florestais ao longo do litoral, com destaque para o pinhal bravo, de que é emblemático o pinhal de Leiria.

O cavalo é talvez o símbolo maior das regiões da Estremadura e Ribatejo, cuja principal característica é a criação de cavalos, nomeadamente a do cavalo lusitano. Este negócio atravessa algumas dificuldades. Como referiu ao Dinheiro Vivo Pedro Ferraz da Costa, presidente do Fórum da Competitividade e empresário da área farmacêutica, e que cria cavalos puro-sangue lusitano desde 1987, um negócio que tem vivido anos difíceis: entre 2003 e 2013 houve uma quebra de 39% no número de produtores. “Os cavalos são das coisas mais supérfluas que há. O mercado interno praticamente desapareceu e estamos todos a trabalhar, fundamentalmente, para a exportação, embora a Europa, também, tenha abrandado”.

Acrescentou que “há 25 anos, quando se criou a Associação Portuguesa de Criadores do Cavalo Puro-Sangue Lusitano, havia 90 sócios. Hoje são mais de 300. É verdade que a dimensão média dos efetivos abrandou, mas o efetivo total de lusitanos continua a crescer. E o turismo equestre embora esteja, ainda, numa fase muito incipiente, tem um enorme potencial”, defende. Segundo o INE, o efetivo de equinos era de 25 mil cavalos em Portugal, em 2016.

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