Lisboa precisa que os moradores gastem como turistas

  • Bloomberg
  • 22 Fevereiro 2017

Melhor ano de sempre no turismo dá boas perspectivas de futuro à economia. Mas ainda não é suficiente para a recuperação generalizada.

Para Sandra Silveira, que administra uma loja de colchões no centro de Lisboa, 2017 tem sido dececionante. Aos 44 anos, sentada num showroom deserto, diz que os incipientes sinais de recuperação do ano passado evaporaram.

“Não se passa nada, nada”, disse Silveira. “Se continuarmos assim, 2017 será um ano muito mau. E não era essa a expectativa.”

A experiência de Silveira é um exemplo de um problema mais amplo que está a atrasar Portugal. Em países como a Irlanda, o gasto de consumo tem ajudado a impulsionar a recuperação do país e a tirar a economia da armadilha da dívida. Mas este não é o caso de Portugal, dois anos depois de deixar o programa de resgate internacional e mesmo tirando proveito do impulso do turismo.

Afetado pelo crescimento lento, o país ibérico possui uma das piores cargas de dívidas da UE, o que preocupa tanto os investidores quanto as autoridades europeias. O rendimento dos títulos a 10 anos do país ronda os 4%, mais de duas vezes os custos dos empréstimos pedidos pela vizinha Espanha.

Os mercados estão “nervosos” com o nível de endividamento, o setor financeiro e a competitividade de Portugal, disse Klaus Regling, responsável pelo Mecanismo Europeu de Estabilidade, a jornalistas, em Bruxelas, no mês passado.

A economia de Portugal cresceu 1,4% no ano passado, ritmo novamente mais lento que a média da Zona Euro. Apesar de ter caído, o desemprego no país continua em 10,5%, o que atrasa qualquer recuperação mais forte do gasto de consumo.

O Governo de minoria socialista elevou os impostos indiretos sobre alguns produtos, reverteu os cortes salariais dos funcionários públicos e aumentou o salário mínimo. A Comissão Europeia estima que o crescimento do gasto do consumo cairá mais nos próximos dois anos.

A empresa de distribuição Jerónimo Martins divulgou um crescimento de 1% das vendas de rede portuguesa de supermercados, a Pingo Doce, uma fração do ganho de 9,5% da unidade polaca Biedronka.

Injeção bancária

Sem um crescimento mais rápido, as dívidas continuam a ser um problema. A taxa de endividamento de Portugal subiu para um total estimado em 131% do produto interno bruto no final de 2016 porque o Governo captou recursos para uma injeção de capital planeada de 2,7 bilhões de euros num banco estatal. Em contrapartida, a taxa de endividamento de outro país resgatado, a Irlanda, caiu para 75%.

Portugal realizou um pagamento adiantado planejado de 1,7 mil milhões de euros de sua dívida com o Fundo Monetário Internacional na semana passada, disse o primeiro-ministro António Costa no sábado. Após esse pagamento, a dívida de Portugal está, agora, 1 ponto percentual do PIB mais baixa do que antes, segundo a agência Lusa.

Mas há alguns sinais de esperança. Os custos dos empréstimos de curto prazo continuam baixos, sendo que os rendimentos dos títulos a dois anos caíram para um nível recorde na sexta-feira. A economia cresceu mais do que o esperado no terceiro e quarto trimestres do ano passado, e são cada vez mais os turistas a visitar o país. Na semana passada, a operadora ANA-Aeroportos de Portugal disse que o movimento de passageiros atingiu um nível recorde em 2016.

“As vendas para estrangeiros aumentaram”, disse Encarnação Ramos, 62, que trabalha numa loja que vende carteiras e sapatos na região central de Lisboa.

No entanto, a maioria dos clientes dela são portugueses, que evitam comprar. “Para os clientes portugueses, estamos a vender mais ou menos o mesmo que em 2012”, disse ela.

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