Perfil: Quem é Paulo Macedo?

O passado de Paulo Macedo é diversificado: já esteve no setor público como gestor e como ministro, mas tem um longo percurso na banca. A completar o trio está o percurso académico como professor.

Foi a tutelar a pasta da Saúde que a maioria dos portugueses conheceu a sua cara. Durante quatro anos no Governo PSD/CDS, Paulo Macedo fez cortes num setor sensível, mas há consenso público em atribuir-lhe mérito na sua ação enquanto ministro da Saúde. Tanto que o PS, agora no Executivo, reconhece-lhe o perfil ideal para assumir a presidência da Caixa Geral de Depósitos. Mas que perfil é esse?

António Costa queria um nome fora da política. Conseguiu-o com António Domingues, mas foi exatamente a política que o tirou de lá. A urgência da situação na CGD levou o primeiro-ministro, esta semana, como prometido, a optar por Paulo Macedo, uma figura com mais experiência política, um nome que também tinha sido falado inicialmente quando se especulava sobre a composição da administração.

No entanto, resta a dúvida sobre se este é um nome que cumpra o critério de independência que o líder do Partido Socialista tanto queria, em contraste com o que foram as anteriores como, por exemplo, Armando Vara no Governo de José Sócrates ou Mira Amaral no Governo de Durão Barroso. Por um lado, pode-se argumentar que as passagens pelo setor público ocorreram apenas quando os sociais-democratas estavam à frente do país. Por outro lado, Macedo dedicou ao setor privado mais tempo e o único cargo verdadeiramente político foi apenas o de ministro da Saúde.

1. Passado na política

Estava ainda Durão Barroso como primeiro-ministro quando Manuela Ferreira Leite indica o nome de Paulo Macedo para Diretor Geral dos Impostos e Presidente do Conselho de Administração Fiscal. Foi à frente da Autoridade Tributária e Aduaneira que Macedo teve a primeira experiência na máquina do Estado. Nos últimos meses do mandato — que terminou em 2007 — foi alvo de uma polémica devido à sua remuneração, em linha com os 23 mil euros que auferia no BCP quando foi chamado.

Paulo Macedo
Paulo MacedoPaula Nunes / ECO

Ironicamente, foi nessa altura aprovado o Estatuto de Pessoal Dirigente da Função Pública, que impossibilitava a existência de salários maiores que o do primeiro-ministro. Uma questão que, dependendo da correlação de forças na Assembleia da República, Paulo Macedo também terá de enfrentar como presidente da CGD. O Governo já veio dizer que não volta atrás na decisão, indo contra as recomendações do Presidente da República. Isto significa que Macedo vai ganhar 423 mil euros por ano, mais prémios.

O verdadeiro passado na política ocorreu com a nomeação para ministro da Saúde, cargo que ocupou de 2011 a 2015 numa altura em que o país enfrentou um resgate financeiro e teve de aplicar o memorando de entendimento com a troika. Por isso, foi no controlo dos gastos públicos com o Serviço Nacional da Saúde que Paulo Macedo se focou, recebendo críticas mas também elogios quase consensuais à sua capacidade de gestão.

No verão quente de 2013, altura em que Vítor Gaspar se demite e há o episódio da demissão ‘irrevogável’ de Paulo Portas, após a nomeação de Maria Luís Albuquerque para a pasta das Finanças, a transição de Paulo Macedo da Saúde para o Ministério das Finanças foi falada. Não se concretizou, mas nos últimos meses o nome do ex-ministro era falado não só para a Caixa Geral de Depósitos como para futuro vice-governador do Banco de Portugal, integrando a equipa de Carlos Costa.

2. Passado no setor bancário

É licenciado em Organização e Gestão pelo ISEG, tem um percurso académico também como professor, mas foi no Banco Comercial Português (BCP ) que fez a maior parte da sua carreira em vários cargos: entre 2008 e 2011, foi vice-presidente do Conselho de Administração Executivo do BCP, tendo, entre abril e junho de 2011, assumido o cargo de vice-presidente (não executivo) de diversas empresas do Grupo BCP. Assumiu, nomeadamente, a gestão de empresas do setor das seguradoras de saúde, tal como a Médis.

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Paulo Macedo, ex-ministro da Saúde.DR

Foi exatamente ao BCP que voltou após a passagem pelo Governo, tendo também ingressado na administração da Ocidental Vida, uma seguradora onde o banco detém 49%. Mas a passagem pelo setor bancário vai mais longe: a entrada no BCP dá-se em 1993 e, durante cinco anos, Macedo assume vários cargos de direção tais como a direção da unidade de marketing estratégico, da secção comercial de cartões de crédito e da rede de comércios e empresários. Depois transita para outras empresas, mas ainda dentro do Grupo BCP: de 1998 a 2000 foi administrador da Comercial Leasing, de 2000 a 2001 do Interbanco e de 2001 a 2004 da Médis, Companhia Portuguesa de Seguros de Saúde.

Experiência na banca, portanto, não lhe falta. Além do percurso no BCP, antes de ingressar no Governo de Pedro Passos Coelho, Paulo Macedo foi Conselho de Supervisão do Bank Millennium, na Polónia, e membro do Conselho de Supervisão da Euronext, operadora que gere a bolsa lisboeta. A este percurso acresce a formação complementar que fez em 2001 no Programa de Alta Direção de Empresas na AESE, Escola de Direção e Negócios.

3. + Currículo

  • Trabalhou na consultora de gestão Arthur Andersen, onde exerceu funções até 1993, enquanto assistente, sénior e diretor em Consultadoria Fiscal;
  • Integrou a Comissão para o Desenvolvimento da Reforma Fiscal (1994-1996);
  • Integrou o Grupo de Trabalho para a Reavaliação dos Benefícios Fiscais (1997);
  • Integrou a Comissão Diretiva da Seguros e Pensões (2003-2004);
  • Docente universitário no ISEG (1986 -1999);
  • Foi ainda docente no MBA da AESE, nas Pós-Graduações em Fiscalidade (Instituto de Estudos Superiores Financeiros e Fiscais), em Gestão Fiscal e em Gestão de Bancos e Seguradoras (Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade Técnica de Lisboa);
  • Integrou ainda o Conselho Consultivo Empresarial do MBA do Instituto Superior de Economia e Gestão, acreditado pela Association of MBAs, e o Conselho de Orientação Estratégico sobre Economia Informal da Universidade Católica no Porto;

Paulo Macedo nasceu em Lisboa a 1963. Segundo dados de 2011, Macedo detém mais de 271 mil ações do Banco Comercial Português, informação que terá de constar da declaração de rendimentos e património que obrigatoriamente tem de entregar no Tribunal Constitucional 60 dias após a tomada de posse enquanto presidente da Caixa Geral de Depósitos.

Editado por Mariana de Araújo Barbosa (mariana.barbosa@eco.pt)

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