• Entrevista por:
  • Margarida Peixoto, Miguel Couto e Paula Nunes

“Não ligaria diretamente ao ministro das Finanças”

Mariana Mortágua, deputada do Bloco de Esquerda, levanta o véu sobre como são as reuniões com o Governo para fechar o Orçamento do Estado.

Mariana Mortágua, a ponta-de-lança do Bloco de Esquerda para as negociações do Orçamento do Estado, conta como decorrem as reuniões com o Governo. Diz que muito se joga logo na preparação das propostas e por isso o BE trabalha-as técnica e politicamente com especial cuidado. Mas garante que mesmo que surja uma dúvida técnica de última hora, não liga diretamente para o ministro das Finanças, Mário Centeno.

Como é que a relação com o Governo é feita? Quem faz mais a ponte convosco?

A relação com o Governo é sobretudo feita através da secretaria de Estado dos Assuntos Parlamentares, que se reúne e articula com a direção do grupo parlamentar. Esse é o canal de comunicação e negociação.

Mas estas negociações não são feitas diretamente com o secretário de Estado do Orçamento e o ministro das Finanças?

Obviamente. Consoante o assunto em questão, as equipas reforçam-se ou alteram-se. No caso do Orçamento, com o ministério das Finanças e depois setorialmente com outros ministérios. Sendo que agora é tudo muito centrado com o Ministério das Finanças e a Segurança Social.

Se tiver uma dúvida específica liga diretamente ao ministro das Finanças?

Não [risos]. Não ligaria diretamente ao ministro das Finanças. Os canais são os formais e penso que essa é a melhor forma de ter estas negociações que são tão complexas. É manter uma metodologia assente e formal através do secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares.

E como é que a equipa do Bloco se prepara? Fazem reuniões prévias a estas reuniões onde debatem em conjunto que medidas vão propor?

Depende, mas sim. Temos um trabalho contínuo, temos sempre que acompanhar o que está a acontecer e as negociações acontecem com alguma regularidade e esse acompanhamento é sempre feito pela direção do Bloco, pela direção da bancada parlamentar e com o apoio de todos os deputados de todas as áreas. Mas essa discussão existe sempre e essa preparação é bastante cuidada porque nestas negociações joga-se muito a preparação das propostas também. Temos tido o cuidado de tecnicamente e politicamente ter propostas que correspondam aos nossos compromissos.

Têm uma espécie de “governo sombra”?

O acompanhamento das áreas é muito feito pelos deputados, cada um tem a sua. Depois há um acompanhamento de chapéu que é feito pela liderança parlamentar que vai articulando isso com o Governo. São estas camadas que vão existindo nas negociações e no trabalho parlamentar ao longo do ano.

E as reuniões com o Governo, como são? São muito formais?

São reuniões de trabalho.

Mas tomando o Orçamento anterior como exemplo: houve reuniões complicadas? Acesas? Discussões?

Há sempre reuniões muito tensas e as negociações são muito duras.

Já saiu zangada de uma reunião?

Não acho que zangada seja o termo. Há negociações que são muito, muito duras. Obviamente porque há temas em que não há acordo, em que o acordo é muito difícil, em que é preciso pressionar muito. E por isso não é uma conversa de amigos. São negociações de trabalho, às vezes mais para acertar pormenores técnicos, às vezes mais políticas, às vezes com uma coordenação mais fácil em que há assuntos em que há acordo à partida.

Quando vem com um “não”, vai para casa estudar uma forma de conseguir alterar a decisão?

As coisas não são assim tão simples. Não é propriamente um sítio onde vamos pedir coisas e voltamos com ‘nãos’. É um trabalho contínuo em que vamos apresentando propostas e contrapropostas de ambos os lados, da mesma forma que da nossa parte rejeitamos muitas, muitas vezes.

  • Margarida Peixoto
  • Grande Repórter
  • Miguel Couto
  • Paula Nunes
  • Fotojornalista

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