ANA pede mais espaço aéreo para crescer mesmo sem Montijo

A gestora dos aeroportos nacionais vai investir 400 milhões de euros num novo terminal, mas deixa um recado ao Governo, Força Aérea e NAV: precisa de mais espaço aéreo para crescer.

A ANA – Aeroportos de Portugal está segura de que Lisboa terá capacidade para crescer mesmo antes de o novo aeroporto do Montijo estar em funcionamento, em 2022. A gestora dos aeroportos nacionais revela que o novo terminal da Portela já está a ser feito e garante que não será por falta de investimento que não haverá crescimento em Lisboa, mas deixa também um recado ao Governo, à Força Aérea e à NAV, que faz a gestão do espaço aéreo em Portugal: se a ANA não tiver mais espaço aéreo, os investimentos em solo não servirão de nada e não poderá haver crescimento.

A proposta da ANA para a construção do aeroporto do Montijo já foi entregue ao Governo e os próximos passos são já de “aprofundamento e detalhe” desta proposta. Já ninguém tem dúvidas de que o aeroporto vai avançar, mas os operadores do turismo estão preocupados: o aeroporto só deverá ficar concluído em 2022 e, até lá, o aeroporto da Portela não tem, para já, capacidade para acomodar o crescimento que se tem feito sentir.

Contudo, a ANA já está a acautelar esse constrangimento, com um “plano de contingência de crescimento”, para que seja possível aumentar a capacidade do aeroporto ainda antes de o Montijo estar pronto. “Ainda há capacidade de crescimento em Lisboa. Precisamos, obviamente, de espaço aéreo, assim como precisamos que o plano contingente de estacionamento seja colocado em ação”, disse Carlos Lacerda, presidente da ANA, durante o congresso anual da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), a decorrer em Coimbra. “O novo terminal é uma situação que não nos preocupa”, garantiu. “Os investimentos já se iniciaram e estão a decorrer. Do que é que precisamos? Espaço aéreo”.

Carlos Lacerda refere-se ao novo terminal que servirá os voos internacionais no aeroporto Humberto Delgado. Segundo explicou no início do ano o DN/Dinheiro Vivo, esta será uma infraestrutura construída de raiz, ligada por túnel ao atual terminal de passageiros, que contará com um investimento de cerca de 400 milhões de euros. Segundo anunciou Carlos Lacerda nas comemorações dos 75 anos da ANA, o novo terminal ficará pronto no verão IATA do próximo ano, ou seja, entre o final de março e o final de outubro.

Para além do novo terminal, a ANA está a investir num novo estacionamento para as aeronaves, que ficará na pista secundária da Portela, que será encerrada temporariamente.

Sem mais espaço aéreo, nada a fazer

Com estes investimentos, a ANA espera continuar a crescer em Lisboa ao ritmo que tem sido registado até agora. No acumulado de janeiro a outubro deste ano, o aeroporto de Lisboa registou um crescimento de 19,2%. No conjunto deste ano, antecipou Carlos Lacerda, a Portela deverá movimentar entre 26,5 milhões e 27 milhões de passageiros.

Ainda assim, Carlos Lacerda assume que este crescimento só será possível com a negociação do espaço aéreo com a Força Aérea e com NAV. “Lisboa tem quatro bases militares à volta da Portela, duas a norte e duas a sul [Alverca, Sintra, Montijo e Alcochete]. Estas bases criam limitações de utilização do espaço aéreo. Imaginem uma autoestrada de seis vias, em que estamos a utilizar apenas uma das vias“, ilustrou o presidente da ANA.

Ou seja: a Portela vai ter mais portas de embarque, para o espaço Schengen e não Schengen, mais segurança, mais aéreas de check-in. Mas, sem espaço aéreo, nada feito. “Deem-nos o espaço aéreo que nós fazemos crescer o número de passageiros em Lisboa. Se tivermos o espaço aéreo disponível, não vai ser por falta de investimento no solo que nós não vamos continuar a fazer o crescimento”, garantiu.

Essa concessão de espaço aéreo à ANA depende de dois fatores: primeiro, a “compatibilização do espaço aéreo militar e do espaço aéreo civil”, que tem de ser negociada entre o Governo e a Força Aérea.

Segundo, é preciso investir na implementação de um novo software de controlo do espaço aéreo. “Ao libertar-se o espaço aéreo, é importante que haja condições para que esse espaço seja convenientemente gerido pelos controladores aéreos. Isso é responsabilidade da NAV”, esclareceu.

Diálogo tem sido “frutuoso”

A capacidade declarada do aeroporto Humberto Delgado é de 40 movimentos por hora. Atualmente, a ANA opera neste aeroporto, em média, 38 movimentos por hora, o que representa uma ocupação de 90% das slots. O objetivo é aumentar para 42 a 44 movimentos. “Temos ainda muito espaço aéreo para aproveitar. É preciso que haja um software para controlar este espaço todo. Estes constrangimentos não dependem de nós”, disse Carlos Lacerda.

Esse constrangimento, acredita, será ultrapassado em breve. “Estamos a dialogar com a NAV e com a Força Aérea. Teremos uma boa solução para a região de Lisboa e para o país. Teremos uma solução que também defende a importante missão da Força Aérea e encontraremos condições para fazer boa convergência de todos os interesses”, disse, sem adiantar detalhes sobre a solução que será encontrada mas assegurando que “todas as conversas com todos os interlocutores” foram tidas num “ambiente construtivo”. Em particular com a Força Aérea, o “diálogo tem sido muito frutuoso”.

A jornalista viajou para Coimbra a convite da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP).

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