Empresas querem “previsibilidade” fiscal e um rating melhor

  • Rita Atalaia
  • 9 Junho 2017

Os gestores portugueses defendem que as medidas adotadas para as empresas não devem oscilar como acontece hoje. E afirmam que o rating da República continua a limitar o investimento.

Ângelo Paupério, co-CEO da Sonae, Carlos Gomes da Silva, CEO da Galp Energia, António Rios de Amorim, CEO da Corticeira Amorim, e António Mota, presidente da Mota-Engil.

Ângelo Paupério, Co-CEO da Sonae, António Rios Amorim, CEO da Corticeira Amorim, António Mota, presidente da Mota-Engil, e Carlos Gomes da Silva, CEO da Galp Energia, preencheram o segundo painel da conferência da PwC subordinada ao tema “Sociedade e Desenvolvimento Económico”. A discussão passou por vários temas, mas a imprevisibilidade do sistema fiscal destacou-se. E o acesso ao financiamento também, num país que continua a ser “lixo” nas agências de rating.

António Rios Amorim, CEO da Corticeira Amorim, foi um dos primeiros a alertar que é preciso acabar com “a instabilidade” no Orçamento de Estado quando estamos a falar das medidas adotadas para as empresas. “É uma questão de estabilidade e previsibilidade”, defende Carlos Gomes da Silva. O CEO da Galp Energia nota que o quadro regulatório está em constante mudança, o que não beneficia as empresas.

António Mota, presidente da Moa-Engil.

Apesar das críticas às medidas para o setor empresarial, os gestores reconheceram que o clima económico está melhor para os negócios. A economia está a crescer. Uma evolução que, contudo, não os surpreende. E que precisa de ser sustentável.

António Rios Amorim refere que, “considerando esta evolução face à calamidade que tivemos de viver, não é grande surpresa”. O gestor afirma que “estamos a gerir melhor, as empresas estão a ser melhor geridas…”. Do ponto de vista do gestor, os indicadores dão sinais positivos. Mas realça que as melhorias têm de ser diárias, nas empresas e no país. Por isso, o crescimento tem de ser sustentável.

Ângelo Paupério, co-CEO da Sonae, admite que preferia estar mais otimista em relação a esta expansão sustentada. Este crescimento devia estar, diz o gestor, fundamentada em bases mais sustentáveis. E com o investimento ainda fraco, “assegurar a sustentabilidade é difícil”.

“Houve um esforço enorme feito de forma desigual na nossa sociedade, mas que está a contribuir para a situação atual. Nos últimos dez anos, o endividamento global da economia portuguesa não variou muito. Mas o das empresas baixou 36%. Foram as empresas que fizeram este ajustamento, com alguns custos” e redução das ambições em termos de investimento, realça. “Sem investimento, é difícil ver um futuro com crescimento sustentável.”

Rating é o travão ao financiamento

Outro tema em destaque foi o do acesso ao financiamento por parte das empresas, que é dificultado pelo rating ainda baixo da República. “Para as empresas que têm exposição internacional, o rating é crucial, mas não é a notação que limita o financiamento da Galp Energia”, afirma o CEO da petrolífera portuguesa. Carlos Gomes da Silva explica que a empresa vive menos dependente daquilo que é a banca ibérica e mais da banca internacional.

Carlos Gomes da Silva, CEO da Galp Energia.

Já António Mota, chairman da Mota-Engil, não tem a mesma perspetiva, algo que já tinha salientado recentemente ao ECO. “A Mota-Engil está a andar mas com dificuldades em arranjar financiamento para países estrangeiros”, disse o responsável. “O sistema financeiro é o problema, sem um sistema financeiro forte não há apoios”, sublinhou.

Estou convencido de que vai demorar algum tempo [até que o rating de Portugal saia de ‘lixo’]

António Mota

Presidente da Mota-Engil

O gestor explica que se as empresas chegarem com garantias de bancos portugueses ao estrangeiro há maior probabilidade de os financiamentos serem rejeitados. E isto acontece com a construtora, na Tanzânia, revela, sendo este facto reflexo da desconfiança relativamente a um país que é “lixo” para as agências de rating. O presidente da Mota-Engil não acredita que a notação do país mude em breve. “Estou convencido de que vai demorar algum tempo”, afirma.

Ângelo Paupério, Co-CEO Sonae, por seu lado, diz que a empresa continua a ter acesso a capital no mercado português. “A Sonae tem muita oferta. Não sentimos essa limitação”, realça. Mas confirma que as garantias são um problema fora do país. “O rating de Portugal limita sempre.”

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