Conseguirá o Spotify salvar a indústria musical?

  • Bloomberg
  • 8 Janeiro 2017

Receitas das discográficas são asseguradas em 10% pela plataforma de música.

Fora da Suécia, o nome de Daniel Ek não é conhecido. Mas isso provavelmente mudará este ano, quando o jovem de 33 anos tentar transformar o Spotify, a empresa de streaming de música fundada por ele há uma década, em Estocolmo, numa empresa de capital aberto que poderá valer 8.000 milhões de dólares.

O sucesso da abertura de capital dependerá do facto de os investidores acreditarem que Ek pode transformar o crescimento meteórico da receita da empresa em lucros sustentáveis num futuro não muito distante. O sueco de cabeça rapada precisa de contornar as dúvidas de quem acredita que o Spotify não passa de um canal de distribuição, comprometido com os três selos discográficos cujas altas taxas de licenciamento são uma limitação séria. Mas este não é o único desafio: o gestor também precisa de convencer o mercado de que o Spotify não se intimida face à concorrência de rivais ricos como a Apple e a Amazon, que subsidiam alegremente serviços de música para vender mais.

Por enquanto, Ek foi bem sucedido nos desafios. O modelo de negócio do Spotify baseia-se em vender assinaturas que custam 10 dólares por mês, embora conte com um serviço gratuito em que vende anúncios. O modelo tornou-se hábil nas negociações delicadas com as discográficas, que teriam feito desistir alguém menos determinado. Mas Ek soube superar, tanto os erros iniciais na transição para os dispositivos móveis como garantiu que o serviço de streaming da Apple não descarrilasse o crescimento.

No percurso, Ek percebeu que gerir uma empresa com mais de 1.500 funcionários implica, muitas vezes, fazer coisas coisas chatas que não surgem naturalmente. Com uma camisa preta com o slogan Suits Suck [“fatos são péssimos”], Ek disse recentemente numa conferência de tecnologia que tinha aprendido a gostar dos recursos humanos e de um bom software empresarial.

O Spotify tem alguns fatores interessantes para quem pensa em investir na empresa: uma marca popular, um forte crescimento da receita e mais de 40 milhões de assinantes pagos (o dobro do número da Apple). As vendas aumentaram quase 80%, para 1,95 mil milhões de euros (2,03 mil milhões de dólares) em 2015, segundo dados da empresa. E os números esperados para 2016 apontam para um crescimento de 50%, segundo um trabalho publicado pela Bloomberg em julho.

No entanto, a empresa continua a ser deficitária. A maior fraqueza do Spotify é gastar a maior parte de receita com direitos discográficos e editoras: o custo oscila entre 81 e 83% há três anos, acima de tudo por causa desses royalties. Isso significa que a margem bruta, de 17 a 19%, é muito inferior ao normal para uma empresa de tecnologia.

Os fãs do Spotify dizem que a empresa pode tornar-se lucrativa quando a base de assinantes for suficientemente grande para absorver os royalties e outras despesas, como pesquisa, desenvolvimento e marketing. Mas, para chegar a dar lucro, é necessário fazer alterações — como conservar o poder de definir os preços — e, alguns deles, não dependem só de Ek. Assim, ou o Spotify reduz os custos de licenciamento conseguindo condições melhores dos selos, ou terá que gastar menos em outras coisas.

Em comparação, o Netflix — a empresa de conteúdos digitais por assinatura mais bem-sucedida, considerando os 92 milhões de clientes — está a ponto de ter gerado 8,8 mil milhões de dólares de receita e 348 milhões em lucros operacionais em 2016, de acordo com dados da Bloomberg. A empresa tem uma margem de 32% por cento, ganha 108 dólares por ano com cada utilizador nos EUA e 97 dólares por cada um dos registados fora dos Estados Unidos.

Segundo cálculos do Gadfly, para que o Spotify chegue aos 300 milhões em lucros operacionais, terá que aumentar a base de assinantes para 60 milhões, elevar a margem bruta para 30% e incrementar a receita média obtida com cada utilizador para 100 dólares anuais, em contraste com os cerca de 72 dólares no ano passado. Portanto, ainda há muito trabalho a fazer.

E se Ek estiver motivado por avaliações como a do Netflix, ele ainda está longe disso. O Netflix opera a cerca de 5 vezes a receita futura. Um múltiplo similar significaria uma avaliação de US$ 15 bilhões para a abertura do Spotify. Isso parece tão provável quanto uma turnê de reconciliação entre os arqui-inimigos da música pop Kanye West e Taylor Swift.

Contudo, há quem torça por Ek. Talvez o futuro da indústria musical dependa do Spotify. A empresa já gera cerca de 10% das receitas das discográficas e é suficientemente grande para ajudar a compensar o poder dos gigantes da tecnologia. É muito peso sobre os ombros do jovem Ek.

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