Humberto Pedrosa: “STCP e Carris foram bem entregues às câmaras”

O líder do grupo Barraqueiro, que em 2016 faturou 500 milhões, reconhece que a Carris e a STCP foram bem entregues às câmaras. Mas teriam a ganhar se entregassem a operação a privados, defende.

Humberto Pedrosa, dono do grupo Barraqueiro, concorda com a passagem para as autarquias, quer da STCP, quer da Carris. Porém o empresário diz que as Câmaras teriam muito a ganhar se entregassem a operação a privados. O grupo Barraqueiro fechou 2016 com um volume de negócios de 500 milhões de euros. O Brasil, onde está há cinco anos já pesa 10% no total das contas do grupo e a estimativa, em 2017, é que duplique o valor.

Como é que está o grupo Barraqueiro?

O grupo Barraqueiro felizmente está bem. Está saudável, está em crescimento. Para além de investirmos em Portugal, estamos também a investir no Brasil. Começamos com uma empresa de transportes urbanos em Manaus e, durante o ano de 2016, adquirimos mais umas empresas em Fortaleza: participamos com 25% numa empresa e 50% noutra, o que nos leva a ter atualmente um peso nos transportes urbanos em Fortaleza na ordem dos 50%.

Em termos consolidados, o grupo vai fechar o ano de 2016 com que volume de negócios?

O nosso volume de negócios é de 500 milhões de euros, estamos a crescer a dois dígitos.

Estes números e essa dinâmica demonstram que o grupo não se ressentiu com a sua entrada no consórcio Atlantic Gateway, que detém 50% da TAP?

De maneira nenhuma. Estamos também a fechar um negócio com alguma dimensão na área do transporte rodoviário e estamos com uma perspetiva de fazer operações de Metro também no Brasil. Fomos convidados pelo Governo brasileiro e estamos, neste momento, a estudar as operações de metropolitano no Recife e em Salvador. No Brasil, já há cidades que têm Metro, mas há alguma dificuldade na operação. As operações estão caras. Temos sido convidados para analisar e para, provavelmente, fazermos esse tipo de operações.

Há quanto tempo estão no Brasil?

Estamos no Brasil há cinco anos, período durante o qual demos um salto enorme. Por exemplo, esta semana vamos receber o governador do Piauí que também está interessado em construir o Metro na cidade. Não é que o Metro hoje esteja na moda, mas as cidades brasileiras são muito grandes e o transporte é todo rodoviário. Fortaleza, que tem quase três milhões de habitantes, já está também a construir um Metro ligeiro; Manaus tem 2,5 milhões de habitantes e andam ali centenas de autocarros, claro que tem de haver uma evolução. É nessa evolução que estamos a apostar para crescer no Brasil.

E estão bem posicionados?

Estamos bastante bem cotados, porque, para além do conhecimento que temos do Brasil, os próprios governadores brasileiros conhecem Portugal e, sobretudo, conhecem o trabalho que temos feito na área de transporte e, por isso, estamos constantemente a ser solicitados. Em 2017, vamos crescer bastante no Brasil.

O Brasil já deve faturar perto de 50 milhões de euros, 10% do nosso volume de negócios, mas as perspetivas que temos para 2017 é a que iremos dobrar a faturação no Brasil.

Humberto Pedrosa

Presidente do conselho de administração e acionista da TAP

Estão a olhar para mais alguma geografia?

Não, o foco é Brasil. Tem-nos aparecido outros países da América Latina, mas estamos mais focados no Brasil.

Quanto é que o Brasil fatura?

O Brasil já deve faturar perto de 50 milhões de euros, 10% do nosso volume de negócios, mas as perspetivas que temos para 2017 é dobrar a faturação no Brasil.

Em Portugal graças à reversão no setor dos transportes, prorrogou o seu contrato com o Metro do Porto?

Exato, no fundo foi uma prorrogação até haver um novo concurso, que deve andar à volta de dois anos. À partida haverá agora um novo concurso.

Sim, iremos ao novo concurso do Metro do Porto. Vamos sempre até ao limite de não perder dinheiro. Agora quando se passa a fasquia de perder dinheiro…

Humberto Pedrosa

Presidente do conselho de administração e acionista da TAP

E vai a esse novo concurso?

Sim, iremos ao novo concurso do Metro do Porto. Vamos sempre até ao limite de não perder dinheiro. Agora quando se passa a fasquia de perder dinheiro…

Em Lisboa também foi à Carris…

Em Lisboa também fomos e também perdemos.

Como é que vê a passagem da Carris para a Câmara de Lisboa, sem dívida…

Faz algum sentido os transportes urbanos das cidades terem uma intervenção da cidade porque no fundo o transporte é da cidade pelo que é a autarquia que deve definir aquilo que pretendem e não o Estado. Tanto a STCP como a Carris foram bem entregues às câmaras. Poderá haver ali, uma segunda fase da operação, de modo a que a operação possa ser feita por privados ou mista. O custo da operação é o que vai pesar às câmaras pelo que teriam muito a ganhar se contratassem privados.

Já mostrou essas contas à câmara?

Não, de maneira nenhuma. Mas já cheguei a mostrar estas contas a governos do passado. Há dez anos fizemos um trabalho em que mostrávamos que conseguíamos baixar o custo das compensações dadas pelo Estado à Carris em cerca de 25% se fosse operada por nós.

Há dez anos fizemos um trabalho em que mostrávamos que conseguíamos baixar o custo das compensações dadas pelo Estado à Carris em cerca de 25% se fosse operada por nós.

Humberto Pedrosa

Presidente do conselho de administração e acionista da TAP

Fez isso há dez anos e, no entretanto, acha que melhorou ou piorou?

Tem havido um agravamento da queixa dos utilizadores.

E da dívida das empresas públicas do setor dos transportes.

Isso tem havido. Agora é preciso que haja algum tempo para estabilizar e têm de ser os presidentes das câmaras a chegarem a esta conclusão.

A questão é porque é que as empresas privadas de transporte de passageiros são rentáveis e as públicas não? É apenas uma questão de carreiras não rentáveis que estão obrigadas a fazer?

Tem essa dificuldade também. Qual é a dificuldade que têm hoje a Câmara do Porto ou de Lisboa? É que chega lá qualquer freguesia e diz que quer mais um horário ou uma carreira e, politicamente, a câmara o que é que vai fazer? Tem mais dificuldade em dizer não do que teria um privado. E se não for rentável essa carreira vai aumentar o prejuízo.

No caso da Câmara de Lisboa, foi-lhes dado um Ferrari que não sabem muito bem conduzir?

Saber conduzir sabem. E basta escolher um bom gestor para a empresa. Mas têm mais dificuldade do que tem um privado em poder demonstrar que uma determinada carreira pedida por uma freguesia ou um horário noturno não é viável. Se for um privado a operar demonstra que tem este custo e dá este prejuízo. Politicamente isto não é fácil de explicar. Se a Carris ou a STCP fizerem linhas que dão prejuízo alguém tem de pagar, mais vale haver uma regra, e que seja compensado o défice dessa linha.

Como é que viu a criação do gasóleo profissional apenas para transporte de mercadorias?

Faria mais sentido ser para transporte de passageiros. Muito mais sentido, porque no transporte de passageiros faz-se tarifa social. E se tivéssemos um gasóleo profissional no transporte de passageiros, por ventura, evitaria que subíssemos tarifas.

Se tivéssemos um gasóleo profissional no transporte de passageiros, por ventura, evitaria que subíssemos tarifas.

Humberto Pedrosa

Presidente do conselho de administração e acionista da TAP

O argumento tem a ver com a concorrência com Espanha. Percebe esse argumento?

Percebo que há uma concorrência com Espanha. Percebo que, provavelmente, o país em termos de impostos estava a perder dinheiro porque os camiões que passam a fronteira abastecem em Espanha e deixam de pagar o ISP. Percebo que, economicamente, haja o gasóleo profissional de mercadorias. Agora, para o transporte de passageiros era importantíssimo e o peso que o transporte de passageiros tem é insignificante, uma vez que consome apenas 3% do combustível.

Em compensação tivemos um aumento do ISP no gasóleo que o afeta diretamente…

Exato. Sabe que o transporte rodoviário e de mercadorias não estão no mesmo ministério e isso é uma dificuldade. Se tivesse no mesmo ministério talvez tivesse sido mais fácil. Agora, o peso em termos de custo para o Estado é muito menor nos passageiros e teria um efeito muito positivo para os utentes, porque se houvesse uma baixa do combustível poderíamos não fazer aumento tarifário. A nossa preocupação no transporte rodoviário é termos cada vez mais passageiros. E para se ter mais passageiros o preço do transporte tem de ser o mais baixo possível.

Vai transferir a sua frota para soluções mais eficientes do que o gasóleo?

Vamos procurando, mas hoje ainda não existem alternativas. As que existem são tão caras que não faz sentido.

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