Quem está envolvido nos Paradise Papers e porquê?

Empresários, multimilionários, artistas, políticos e até a monarquia: ninguém escapa aos Paradise Papers revelados pelo mesmo consórcio de jornalistas que revelou os Panama Papers.

Os 13,4 milhões de ficheiros obtidos pelos jornalistas Frederik Obermaier e Bastian Obermayer do jornal alemão Süddeutsche Zeitung, tal como tinha acontecido nos Panama Papers, deram lugar a uma investigação que juntou 380 jornalistas de 67 países. Entre os envolvidos em esquemas de offshores estão figuras como Isabel II, Bono, Madonna, Lewis Hamilton, Justin Trudeau e muitos mais, incluindo grandes empresas como a Apple ou a Nike.

A investigação liderada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ), conduzida em Portugal pelo Expresso, tem um total de 1,4 terabytes de dados. As operadoras de offshores envolvidas na fuga de informação são a Appleby (Bermudas) e a Asiaciti (Singapura).

1. Os portugueses: BES e BPN

Os Paradise Papers, tal como os Panama Papers, têm nomes portugueses entre os envolvidos. São 70 os nomes identificados pelo ICIJ como tendo nacionalidade portuguesa. No entanto, segundo o Expresso — parceiro da rede –, não existe nenhum primeiro-ministro, Presidente ou político citados nos documentos tanto da Appleby como da Asiaciti. O semanário revelou ainda que a maior parte dos portugueses identificados vivem noutros países há muito tempo. Além disso, em muitos casos trabalham no setor financeiro, tendo ligações a offshores. É o caso de 17 nomes de administradores ligados ao Grupo Espírito Santo e cinco administração do BPN.

2. Fundo Soberano de Angola

José Filomeno dos Santos é o filho mais velho de José Eduardo dos Santos, ex-Presidente de Angola, logo a seguir a Isabel dos Santos. É Zenú quem dirige o Fundo Soberano de Angola, cujas relações com a empresa suíça Quantum Global levantaram suspeitas numa investigação do jornal suíço Le Matin Dimanche. A empresa é dirigida por Jean-Claude Bastos de Morais, um empresário suíço-angolano amigo de Zenú. O Fundo Soberano de Angola tem 3.000 dos 5.000 milhões de euros investidos nas Maurícias através da Quantum Global, sendo que a empresa lucra entre 60 a 70 milhões por ano. Jean-Claude já foi investigado anteriormente pela justiça suíça.

3. Apple

A gigante tecnológica tinha na Irlanda o seu maior aliado fora dos Estados Unidos. Contudo, as investigações do senado norte-americano e da Comissão Europeia levaram a empresa a gerir os seus 252 mil milhões de dólares em offshore de forma diferente. Segundo a investigação do ICIJ, a Apple encontrou novas formas de manter os impostos que paga muito abaixo do normal. O destino passou a ser Jersey, mais uma ilha que não cobra impostos sobre os lucros das empresas.

4. Nike

A Nike tem outra casa: as Bermudas, um offshore com impostos zero. A gigante do equipamento desportivo colocou os seus bens intangíveis (logótipo da marca) em empresas-fachada em paraísos fiscais, o que evitou o pagamento de grande parte dos impostos na Europa. A investigação do ICIJ revela um acordo da Nike com as autoridades holandesas que permitiu à empresa baixar a percentagem de impostos que paga de 34,9% para 24,8%.

5. Lewis Hamilton

Os Paradise Papers revelam que o campeão de Fórmula 1 comprou um jato de luxo por 27 milhões de dólares sem ter de pagar o IVA que, neste caso, traduzir-se-iam em mais milhões na fatura final. Com a ajuda de um esquema fiscal da EY e da Appleby — a sociedade de advogados citada na investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ) no domingo –, Hamilton conseguiu contornar o IVA, o que implicou que o voo inaugural tivesse uma paragem na Ilha de Man. Ao todo, o piloto não pagou 5,2 milhões de dólares de IVA, segundo o The Guardian. O caso está a ser investigado pelas autoridades.

6. Wilbur Ross

O secretário de Estado do Comércio de Donald Trump tem investimentos na Navigator Holdings, uma empresa de transportes que tem negócios com uma empresa de gás detida em parte pelo genro do Presidente russo, Vladimir Putin. Wilbur Ross, em reação às revelações, considerou que não há “absolutamente nada de repreensível” no facto de deter 31% da Navigator Holdings. Os democratas norte-americanos já disseram que querem investigar as ligações que envolvem mais de 68 milhões de dólares desde 2014.

7. Rainha Isabel II

A Rainha de Inglaterra terá investido cerca de 13 milhões de euros num offshore das ilhas Caimão e das Bermudas, movimentados através de uma empresa acusada de explorar pessoas em dificuldades económicas. A Rainha de Inglaterra, Isabel II, dispõe, assim, através do Ducado de Lancaster, propriedade privada da soberana e fonte de receitas, de uma dezena de milhões de libras esterlinas em fundações nas Ilhas Caimão e nas Bermudas. Jeremy Corbyn, o líder dos trabalhistas, defendeu que a rainha e os restantes envolvidos devem pedir desculpa.

8. Amigo de Justin Trudeau

O responsável pela angariação de fundos das campanhas de Justin Trudeau também colocou milhões de euros em offshores. O multimilionário Stephen Bronfman esteve à frente do financiamento do Partido Liberal na campanha eleitoral de 2015 onde Trudeau prometia reduzir as desigualdades e aumentar a justiça fiscal. Segundo o ICIJ, Bronfman pode descredibilizar o primeiro-ministro canadiano: o empresário investiu 52 milhões de euros numa sociedade offshore nas Ilhas Caimão.

9. Donald Trump

Segundo o ICIJ, também o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, utilizou esquemas offshore quando tinha um jato que era detido por uma empresa-fachada sua nas Bermudas. No passado, o Wall Street Journal já tinha noticiado outro esquema de sociedade anónimas e de leasing que poderá ter permitido a Trump não pagar 3,1 milhões de dólares de impostos no estado de Nova Iorque de uma só vez, tendo pago às prestações.

10. Madonna, Bono e muitos mais…

EPA/FRANCK ROBICHONFRANCK ROBICHON/EPA

De acordo com o ICIJ, Madonna terá investido numa empresa de produtos médicos não identificada — a cantora que agora vive em Portugal não respondeu às perguntas colocadas pelos jornalistas do consórcio. Já Bono, com o seu nome real Paul Hewson, deteve ações numa empresa registada em Malta que investiu num centro comercial na Lituânia.

Outra das principais revelações deste leak é que várias instituições financeiras estatais da Rússia financiaram o Twitter e o Facebook através de offshore, ocultando a sua identidade.

Um dos principais locais onde a Appleby atuou foi a Ilha de Man, de tal forma que a União Europeia já veio admitir que poderá impor sanções ao território caso prove que violou as regras.

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