Trumpeçou

O proteccionismo é o chavão do momento. Mas a vitória de Trump rejeita a visão estatizante (ou europeísta) que Hillary propunha, uma visão que não condiz com o “american dream".

Donald Trump venceu as eleições norte-americanas com estrondo e com surpresa, mostrando que na América, e na democracia em geral, tudo é possível. Fica agora claro que o proteccionismo é o chavão do momento.

Há no Ocidente uma rebelião das bases contra a globalização. Esperam-nos tempos diferentes. Não necessariamente mais difíceis, mas diferentes. Porque a América, embora não dependendo tanto do comércio internacional como a Ásia ou a Europa, continua a ser a principal economia do mundo. É ela que continua a determinar a agenda internacional.

Há algum tempo que a globalização vai dando mostras de estar em decrescendo. Desde 2012, o crescimento do comércio internacional tem andado próximo do crescimento do PIB mundial, depois de várias décadas em que a tendência foi o primeiro crescer muito mais do que o segundo. E, de facto, pela primeira vez desde a crise financeira de 2008-2009, em 2016 o comércio internacional crescerá menos do que o PIB mundial. Com uma grande diferença: então vivíamos uma crise financeira e agora não.

A vitória de Trump chancela politicamente estes ventos de mudança. E faz outra coisa: rejeita a visão estatizante (ou europeísta) que Hillary propunha para a economia americana. Uma visão que não condiz com o “american dream”.

É, aliás, este ideal norte-americano que hoje é questionado pela população. E foi neste ponto sensível que o novo presidente soube apostar, utilizando o proteccionismo de forma instrumental – porque o contributo do comércio exterior no conjunto do PIB americano é relativamente diminuto. Falou mais alto o discurso do “underachievement”, do que a conversa do 1%.

A vitória de Trump é, assim, em certo sentido, a admissão de derrota da América como potência económica, onde o céu já não é o limite.

O programa económico de Trump preconiza uma política orçamental francamente expansionista. Redução do número de escalões e das taxas de IRS. Redução dos impostos sobre as empresas. Aumento maciço do investimento público, por contrapartida de menos despesa social.

Ao mesmo tempo, o novo presidente rejeita os acordos de comércio internacional (NAFTA, TPP e TTIP). E pretende impor tarifas aduaneiras leoninas contra dois dos três principais parceiros comerciais da América: a China e o México. Há, na sua agenda, uma menor intrusão do Estado na economia; este permanece forte, mas reposiciona-se.

Será, pois, nas instituições norte-americanas, no seu sistema de freios e contrapesos, que residirá o travão às iniciativas mais impetuosas de Trump. Entre si, o presidente e o Partido Republicano têm agora a Casa Branca, o Senado e o Congresso. Mas não têm nem o Supremo Tribunal nem a Reserva Federal, ainda que o primeiro esteja (mais) ao seu alcance.

Se os alicerces institucionais da América funcionarem, a presidência de Trump poderá até surpreender, e muito, pela positiva. Mas se os freios e contrapesos falharem, então, pode tudo acabar muito mal.

O Autor não escreve de acordo com o novo acordo ortográfico.

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