Editorial

Por este Rio acima?

Rui Rio é o novo presidente do PSD, tem de deixar cair o discurso contra a 'corte' e assumir a diferença em relação a António Costa. E as contas certas não chegam.

Os rios correm sempre para baixo, mas Rui, o Rio do PSD, quererá agora fazer o que escreveu Fausto, e seguir um caminho ‘Por este Rio acima’. Preparou-se há muito para ser presidente do PSD e candidato a primeiro-ministro, ganhou por poucos a um Santana Lopes desgastado e tantas vezes contraditório, foi um mau candidato, será um bom líder?

Ninguém questiona a consistência de Rui Rio, o seu caminho desde os anos em que liderou a bancada parlamentar do PSD na área económica. Ninguém lhe aponta falhas pessoais ou períodos negros, todos lhe reconhecem o trabalho de recuperação que fez no Porto, contra os interesses, o mais forte dos quais o do futebol e particularmente Pinto da Costa. E mesmo tendo em conta que não é (ainda) uma figura nacional, o que se lhe conhece dá a segurança mínima para se saber o que não vai fazer. Mas para ser primeiro-ministro, é preciso muito mais, é preciso saber o que quer fazer. E isso, ao fim de três meses de campanha interna, verdadeiramente ainda não se sabe. Além do dedo em riste, e de prometer ordem na casa, o que quer? Vai demonstrar mundo?

Rui Rio vai ter, primeiro, de unificar o partido. E isso será mais ou menos fácil em função de como chegar ao final deste ano nas sondagens. A pergunta será? Dentro de um ano, o partido vai perguntar-se: Rio pode vencer António Costa? Rio só terá uma oportunidade para causar uma primeira boa impressão. O PSD é um partido de governo e vai unir-se em torno do líder que lhe der um cheiro de poder. Mas perante um governo que navega à boleia do que terceiros estão a fazer, mas com resultados que enchem o olho, diga-se de passagem, a diferenciação é menos óbvia. Se Rio fosse já hoje primeiro-ministro, sabemos que apostaria mais nas políticas amigas do investimento, menos das devoluções de rendimento, mais no corte de despesa. Pode ler aqui um guia rápido. Mas esta é uma agenda económica muito próxima do que a que defendia Passos Coelho. Onde está a diferença? Aqui, apenas nas personalidades. E em relação às funções do Estado, mais interventivo ou regulador? E as pessoas, como ficam nesta agenda, com mais liberdade de escolha ou na dependência do que decidir o Estado por elas? Se Rio trouxer o ambiente do Norte para o país, daquele que produz e que faz sem esperar que o Estado faça por ele, alguma coisa mudará. Mas, para isso, é preciso que Rio fuja do centro, mais consensual e confortável para quem quer ganhar o poder.

A agenda de Rio tem de ter outro alcance. E outra capacidade de mobilização. Não chegará a política das ‘contas certas’ para marcar a diferença em relação a Costa. E se o atual primeiro-ministro já tem as trapalhadas suficientes para Rio as lembrar em tempo de campanha, os portugueses já esqueceram os riscos que correm se os ventos mudarem de sentido. Repetir o discurso de Passos Coelho seria um erro, com resultados previsíveis. Como anunciou Miguel Relvas…

O desafio é maior porque Rio é um centrista. Portanto, mais próximo de Costa, que tanto joga para os bloquistas como para os sociais-democratas mais à esquerda, como alguns que estão entre os apoiantes do novo líder. E Rio até se deixou enrolar por Santana Lopes em torno da discussão sobre uma viabilização de um governo minoritário de Costa. Como vai sair desta? Tem de reformar o país, retomar o que ficou parado nestes anos de frente de esquerda. E, definitivamente, tem de deixar de se dirigir ao poder em Lisboa como ‘a corte’. Esse é um discurso para um presidente de câmara, não é para um líder nacional. Que quer ser primeiro-ministro.

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