Ma e meio Mas

Maputo e Mafalala, acácias vermelhas e ditadores, capulanas, caril e colonizadores. O prefácio perfeito para Moçambique. Juntemos tudo isso em duas letras. Eis o prefixo Ma.

Maputo não merece o nome que tem, nem o que tinha. Nem Maputso, nome que teve (Craveirinha dixit), nem Lourenço Marques (piloto dos 500 que explorou a região), nome emprestado. Maputo merecia nome de mulher, tropical e desejada, sarapintada de árvores despenteadas pela ventania descarada.

Mas aqui o abecedário começa no M. E se é muito é maningue, se é para dançar é marrabenta, se é para comer é matapa, se é para viajar é machibombo, se tem horta é machamba e se é para ser, é Maputo.

Maputo é onde os ditadores de esquerda viraram ruas direitas. Lenine, Mao e Ho Chi Ming cruzam-se em ideias e esquinas, entre o capitalismo de um banco e um banco de café. Engels até pode ter vista para o mar mas Marx descansa o olhar no jardim do Tunduru. Samora virou rotunda e Chissano avenida larga. E todos eles nos levam ao charmoso Hotel Polana, ao mercado do Peixe, ao Núcleo de Artistas e à Casa Elefante para comprar uma capulana.

Mas Maputo também é Mafalala. E eu não fazia ideia do que falava, quando imaginava o que aqui se passava.

E então voltamos ao passado para ver atrás do pano drapeado da “nossa” era dourada, e percebemos que Maputo era a história de duas cidades. Uma feita de cimento, outra fadada ao esquecimento. Lourenço Marques para os brancos, Mafalala para quem sobrava.

Há uma rua que ainda hoje às separa. O apartado do apartheid. Uma rua! Um precipício. Para atravessá-la só com passe especial para ir trabalhar para o patrão. Hoje em dia, a “turistada” paga para fazer uma visita guiada no labirinto de caniço e zinco que viu nascer a identidade nacional.

Aqui os primeiros golos de um puto chamado Eusébio, ali os poemas de Noémia e Craveirinha, acolá as ideias de Samora e de Chissano. Além, no Gato Preto (e como em Paris), vinham os tugas perder a virgindade. Agora vêm os turistas perder a ingenuidade. Aqui aprende-se que, na História, há sempre um mas e muitos mas. E isso é o bom de viajar.

Isso e as maravilhosas praias que são a costa deste lugar. Maputo, és maningue nice mas não as posso fazer esperar. E não há mas maior que este!

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