Agora, somos todos Merkel

A vitória de Merkel sabe a pouco, pior, tem um sabor amargo para os europeus. Os resultados condicionam a chanceler alemã e obrigam-na a concentrar-se no que tem de fazer na Alemanha.

Angela Merkel ganhou o ‘tetra’ nas eleições alemãs, mas vai ter possivelmente o mais difícil dos mandatos, e isso é uma péssima notícia para a União Europeia e até para Portugal. E os que tanto criticaram a chanceler nos últimos anos serão os mesmos que, agora, exigirão da líder alemã uma capacidade política que segure a união da Europa.

Os resultados destas eleições alemãs deste domingo serão porventura mais relevantes para a União Europeia do que para a própria Alemanha. Estranho? Nem por isso, as eleições alemãs eram uma espécie de última barreira política para a discussão, entre os 28 países do espaço comunitário, do que é preciso fazer no projeto político e económico na Europa. É uma ironia que tantos esperassem por este dia, e por uma vitória clara de Merkel, para voltarem a pôr a agenda europeia no centro da discussão.

O problema é que Angela Merkel ganhou com o pior dos resultados desde que é chanceler. Os alemães foram às urnas e deram a vitória a Merkel, mas o partido da chanceler alemã venceu ‘apenas’ com 32,5%, de acordo com uma sondagem da televisão pública ARD. Sem maioria absoluta, terá agora de formar uma coligação para cumprir o quarto mandato, sendo que o social-democrata Martin Schultz, do SPD, vai agora fazer parte da oposição. A extrema-direita, o AfD, é a grande surpresa nestas eleições ao ter conseguido eleger o primeiro deputado. É o regresso desta ideologia ao Bundestag, que não se via desde o fim da segunda guerra.

Merkel tem ‘à sua disposição’ os liberais e Os Verdes para uma coligação que será mais difícil do que a Geringonça em Portugal. Em primeiro lugar, o aumento do peso da extrema-direita coloca pressão na política de imigração na Alemanha. E mesmo os liberais não eram, nem são, dos mais entusiastas do voluntarismo da chanceler alemã nos refugiados. Nem dos mais solidários com os países do Sul da Europa, como foi Merkel apesar de tantas vezes criticada.

Depois da eleição de Emmanuel Macron, um europeísta que ganhou as presidenciais em França com uma agenda reformista da zona euro, esperava-se pela vitória de Merkel, mas outra, com uma maioria absoluta, ou pelo menos clara, sem precisar de coligações, sobretudo de parceiros que obriguem a chanceler a ser menos generosa em relação à União Europeia. Por exemplo, recorde-se, António Costa esperava pelas eleições alemãs e por uma vitória de Merkel para recolocar a questão da dívida pública – leia-se a renegociação europeia – na agenda. Se ainda tinha ilusões, hoje já as perdeu.

Os líderes europeus vão ter de esperar pela capacidade política de Angela Merkel, e vão ter de ser os seus maiores apoiantes. Porque seria trágico que o atual momento económico tão favorável não fosse aproveitado para reformar a zona euro e o próprio projeto político europeu. Agora, perante os riscos que estes resultados suscitam, “somos todos Merkel”.

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