Serviço Militar Obrigatório? Sim, e não só…

Os jovens portugueses devem prestar um Serviço Militar Obrigatório, mas também de natureza cívica. Na sua intervenção semanal no J8 da TVI, José Miguel Júdice reflete também sobre Monchique.

Há quem defenda que não deveria haver Forças Armadas em Portugal, como acontece na Costa Rica. Mas, mesmo se fossem extintas, a questão mantinha-se, pois há serviços policiais reforçados onde não há militares. Portanto, a questão é realmente outra: Devem os jovens ser obrigados a servir Portugal durante um período de tempo? E se assim for, deve ser apenas nas Forças Armadas, também nas Forças Armadas, ou apenas em outras instituições?

O tema foi lançado para o debate pelo ministro da Defesa e parece que, além do PCP, de Manuel Alegre, de alguns deputados socialistas e de um grupo minoritário no CDS, ninguém na política está de acordo. Seguramente com medo de perderem votos. O PSD, como é habitual, não tem posição oficial.

Eu concordo com o PCP nesta matéria. Sim, deve haver cidadãos, que não sejam profissionais, a servir nas Forças Armadas e por várias razões:

  • Para a formação dos oficiais e outros quadros, pois hoje parece que há três soldados para cada sargento e cinco para cada oficial.
  • Para a formação de muitos jovens que poderão um dia optar por ingressar no sistema militar como profissionais depois de o conhecer por dentro.
  • Pelo efeito democrático que traz consigo.
  • Pelo efeito de reforço de sentido cívico e de ligação aos valores pátrios.
  • Pela formação e disciplina que provoca numa fase essencial para definir o futuro deles.

Sim, deve haver um serviço cívico que não se restrinja às Forças Armadas, e por várias razões:

  • Porque não é possível que em cada ano todos jovens sejam chamados a servir nas Forças Armadas, foi sempre assim (“ir às sortes”), a não ser em tempo de guerra.
  • Porque há objetores de consciência que devem ser respeitados.
  • Porque a formação cívica dos jovens no século XXI pode ser feita de outros modos.
  • Porque há outras áreas onde a defesa dos valores pátrios pode ser inculcada, para além das forças armadas.

Onde podem os jovens servir? Em minha opinião, o grande objetivo do serviço militar ou equivalente é de criação de uma cultura cívica e de integração social. Por isso, penso que servir nos corpos de bombeiros, em polícias rurais como a GNR, em atividades culturais, até em serviços de acompanhamento de idosos e doentes que a segurança social organize, podem ser boas alternativas. O PCP fez um conjunto de excelentes propostas que a geringonça podia talvez analisar.

E os jovens estarão de acordo? Creio que não, além do mais pela cultura hedonista dominante e pela falsa ilusão de que isso não serve para a vida ativa. Mas, como acontece noutros países, pode e deve haver incentivos.

Não acho que se deva fazer o que Robert Heinlein escreveu, mas era ficção científica: Só poderiam eleger e ser eleitos os que fossem voluntários para as perigosas guerras galácticas. Isso levaria as juventudes partidárias a descobrirem almas militaristas… Entre os incentivos podia ser contar a dobrar o tempo para reforma, bolsas de estudo, prioridade da contratação pelo Estado e entes públicos.

Por tudo isso, gostaria de ver o Presidente da República a usar o seu capital político neste tema, que não dá votos, antes pelo contrário…

Ainda Monchique

As coisas são o que são: Mais uma vez, ganhámos o péssimo oscar do maior incêndio da Europa, com Monchique. Como aqui disse há uma semana, e agora é ainda mais evidente, a incompetência, impreparação e desleixo tornaram pior o que sempre seria mau. António Costa voltou a ficar mal no filme, o que o obrigou a dar uma inútil entrevista para disfarçar.
Como no ano passado, irrita-o a força dos fogos que ele não consegue manipular a seu bel-prazer. E isso leva-o a cometer erros. E o próprio Presidente de República há um ano perdeu uma boa ocasião para ficar calado quando ligou a sua recandidatura ao que se passe com os fogos este ano e no próximo. Eu disse-o, aliás e na altura, aqui de forma clara.

Agora, anda a dizer coisas sem nexo, para não dizer que se não pode recandidatar, quando devia dizer que o problema é do Governo e que, quanto a ele, a única forma de intervir seria demiti-lo. E que isso é excessivo no caso concreto.

Seja como for, está a provar-se que não é com panos quentes que se resolve o problema. Disse-o também aqui há mais de um ano, bem antes da época dos fogos e por isso talvez ninguém tenha reparado.
Estas catástrofes, esta destruição de riqueza, esta repetição dos mesmos erros nos mesmos sítios logo que a vegetação teve tempo de renascer, são evidentes.

A solução passa por intervir no ordenamento do território (expropriando se necessário), passa por investir recursos europeus na floresta e no mundo rural, passa por acabar de vez com o modelo de políticos e boys partidários incompetentes a dirigirem o sistema.

Nada disso vai ser feito, como é evidente. E por isso todos os anos vai arder o que não ardeu no ano anterior.
E para piorar as coisas, só nos faltava que Marcelo Rebelo de Sousa, por causa de uma afirmação infantil (quem nunca as fez que atire a primeira pedra…), desista de se recandidatar…

Boas férias. Estarei de volta na primeira 2ª feira de setembro.

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