Os riscos económicos e financeiro de 2018

Na frente interna e na frente externa, quais são os riscos económicos e financeiros em 2018? O maior de todos será o aumento dos juros. Os riscos externos são muitos.

O ano que agora se inicia começa com um ambiente de otimismo. Existem alguns fatores positivos na situação atual (que resultam muito de uma conjuntura externa favorável, com a economia europeia a crescer e com a política monetária do BCE). Mas cada um destes fatores que se afigura positivo encerra riscos para 2018 que não devem ser ignorados.

A crise económica de 2008-2014 parece ter ficado para trás, e em 2017, a economia nacional terá crescido cerca de 2.6% em termos reais. Isso significa um crescimento nominal próximo dos 4%. No entanto, há o risco de a economia começar a arrefecer, dado que a economia europeia apresenta alguns sinais de desaceleração. Para 2018 já se prevê uma desaceleração do crescimento (para 2.2%). Isso terá impacto transversal, sobretudo no desemprego e na execução orçamental.

A descida rápida do desemprego tem sido um fator de recuperação dos rendimentos (e de redução da despesa do Estado com subsídios de desemprego). No entanto, o desemprego tem descido mais do que o crescimento da economia nacional. O que significa que a produtividade está novamente a baixar, o que nos criará problemas no médio prazo. A descida do desemprego tem assentado sobretudo no crescimento do turismo. Só que esse setor, que é intensivo em fator trabalho, é também muito volátil. Nesse aspeto, recentes tendências de obstaculizar o alojamento local (nomeadamente a lei em discussão no Parlamento), representam uma ameaça ao crescimento do turismo.

Na frente orçamental, o défice de 2017 ficará provavelmente em torno dos 1.2%, embora sem medidas “one-off” se situe em 1.5%. Para 2018 a previsão do governo é de um défice de 1.1%. Este défice é atingível, desde que o crescimento não desacelere muito e o governo mantenha o controlo da despesa, via investimento público e cativações. Contudo, conforme tenho alertado desde há dois anos esta parte, esta redução é meramente cíclica. O défice estrutural tem-se mantido em torno dos 2% desde 2015 (depois de uma forte redução de 9% em 2010 para 1.7% em 2014, ele voltou a subir em 2015 para 2.2%, estando em 2017 em torno dos 2%).

A consolidação orçamental de 2016 a 2018 (em que o défice nominal sem medidas “one-off” baixou de 3% para um valor de 1% em 2018, ou seja, uma redução de 2 p.p.), assenta exclusivamente no crescimento económico, no aumento dos dividendos do Banco de Portugal, na redução da despesa com juros, na redução do investimento e nas cativações.

As taxas de juro continuam baixas, tendo Portugal regressado no final de 2017 a valores próximos dos mínimos históricos de abril-maio de 2015. A dívida pública a 10 anos está a transacionar abaixo dos 2%, com o spread face a Alemanha a situar-se em torno dos 150 bp. Dado o excelente trabalho do IGCP (ignorando aqueles que à esquerda e extrema esquerda pretendiam uma gestão mais arriscada da dívida pública, emitindo a maturidades mais curtas, para daí colherem benefícios orçamentais de curto prazo), a taxa média implícita da dívida pública ronda neste momento os 3%, o valor mais baixo de sempre.

Contudo, este poderá ser o maior risco que enfrentamos em 2018. A reversão da política monetária do BCE, a ocorrer, colocará uma maior pressão nas taxas de juro da dívida pública Portuguesa. E embora uma subida das yields demore a surtir efeito na taxa de juro média da dívida pública, poderá colocar dificuldades no acesso ao financiamento da República. É importante que o IGCP mantenha uma gestão de portfolio conservadora, através de emissões de longo prazo e um nível de depósitos alto.

Do ponto de vista externo, existem alguns riscos importantes. Por um lado, a FED continuará a política de aumento das taxas de juro e de redução do seu balanço. Isso colocará pressão na política monetária do BCE, agravando o fator atrás referido. Por outro lado, era expectável que em 2017, o início de reversão da política monetária da FED tivesse levado a uma valorização do Dólar (o que por um lado aumenta os preços do petróleo, mas por outro lado torna as exportações nacionais para fora da UE mais baratas). Mas isso não sucedeu, e não é líquido que ocorra em 2018.

Também a tensão entre os EUA e a Coreia do Norte será outro fator de risco em 2018, sem contudo ser percetível se terminará este ano, e se estamos verdadeiramente perante um cenário de guerra. Por outro lado, a fragilidade de Trump dará espaço a um maior protagonismo da China? E em que moldes? E que papel para Putin?

A nível Europeu o finalizar das negociações do Brexit são outro fator relevante. A que se associa o novo programa de auxílio à Grécia. Existe alguma probabilidade de terminar num novo “haircut” da dívida Grega. Contudo, uma solução que implique perdas para os instrumentos Europeus será um processo político de elevada complexidade e risco.

Também continuam dúvidas muito sérias quanto à solvabilidade e “saúde financeira” da banca Europeia, sobretudo em Itália, mas também na Alemanha.

Na Alemanha temos a questão se haverá governo de coligação ou novas eleições, o que pode fragilizar a situação Europeia. Também as eleições Italianas podem lançar a Europa num processo de turbulência. Veremos também se o “efeito” Macron consegue começar a impor uma nova agenda a nível Europeu ou se será uma nova desilusão. Depois temos os riscos de desagregação resultantes do processo da Catalunha.

Também os refugiados, e a dificuldade de conciliar a atitude humanitária com as preocupações legítimas de identidade, bem como os problemas a montante, os apelos à imigração, as quotas serão outro fator de incerteza.

Por último na frente externa, veremos em Portugal com interesse a campanha presidencial no Brasil, e a hipotética “escolha” (se é que tal é possível), entre Lula e Bolsonaro (se Deus é Brasileiro, talvez agora fosse bom a Sua ajuda). E, claro, o que vai ocorrer em Angola, dadas as mudanças que 2017 trouxe a esse país.

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