O purgatório não é para Santana

O PSD, definitivamente não pode ser isto, enquanto António Costa, de “jeans” ou gravata, vai navegando rumo a uma vitória clara.

Não há novidade nenhuma se eu disser que Rui Rio tem comprovado diariamente a catástrofe que se anunciava. Já há algum tempo escrevia que o líder do PSD tem vistas curtas, não tem mundo para lá do seu, que é muito pequenino, não tem cultura e gere como um amanuense com medo de tudo, inclusive das sombras de moscas. As sondagens exibem a tendência da exiguidade deste partido, que já foi o maior e mais português de Portugal, mas que se afunda num vazio de sentido, estratégia e sobretudo de ideias.

Dizia na revista do El Pais o escritor espanhol, Javier Cercas, que «os bons políticos simplificam as coisas e os maus complicam». Ora, um contabilista nunca dará um grande líder e um partido não pode ser governado por um Excel de humores, e principalmente de maus humores, por alguém que vê em tudo uma complicação, tornando problemas comezinhos e de aparelho em “tsunamis” mediáticos que já levam críticos a querer apeá-lo num congresso extraordinário. Pois ninguém percebe se há verdadeira vontade de fazer oposição à Geringonça ou se, por inércia, se espera um acasalamento de ocasião num novo Bloco Central que sempre dará umas prebendas aos que salivam por um posto com secretária e motorista ou uma avença. O PSD, definitivamente não pode ser isto, enquanto António Costa, de “jeans” ou gravata, vai navegando rumo a uma vitória clara.

No Brasil decorrem as presidenciais e o ponto alto da campanha tem sido a entrada em cena do novo candidato do PT, Fernando Haddad. Nome difícil para os brasileiros que obrigou o partido a criar um vídeo em que várias pessoas surgem a soletrar o nome dele. Uns dizem, “Hadi”, outros “Hadilio” e alguns “Haider”, mas o que importa é que todos sabem que ele tem o “endorsement” de Lula. Agora, por cá, surge o 23º partido: Aliança. E o seu líder e criador não precisa de vídeos de apresentação, toda a gente o conhece, sabe dizer o seu nome, tem 40 anos de actividade partidária, Pedro Santana Lopes.

Eu, que já trabalhei com ele e sou seu amigo, sei melhor do que muitos que o derretem pelo preconceito que ele tem duas virtudes, entre outras que amadureceu com o tempo: 1- ser dos melhores a ler o ar dos tempos; 2- uma procura incessante por se reinventar, permanecendo actualizado e moderno. No primeiro caso, viu o óbvio. Portugal é dos países da Europa que menos mexeu no seu sistema partidário, ao contrário da Europa onde muitos partidos que comandaram os diversos regimes já não existem ou foram ultrapassados e ameaçados pelo novo. Itália durante décadas comandada pela Democracia Cristã, de Andreotti, ou PCI, de Berlinguer, ruiu; Espanha com PP e PSOE ameaçados por Ciudadanos e Podemos; França, em que o “Em Marche” de Macron ou a extrema-direita de Marine Le Pen, matou RPR e eclipsou o PSF, entre tantos exemplos que podia dar. Logo, o cansaço e separação que os portugueses demonstram com o actual sistema poderá conduzir a uma implosão e reorganização da qual não conseguimos ainda adivinhar a sua face. Depois, sozinho, pesquisando no seu computador, vai vendo as práticas e metodologias que as gerações mais jovens têm imprimido na sua maneira de fazer política, baseando-se na transparência, tornando as estruturas mais ágeis e enxutas na comunicação com os seguidores, eliminando o ridículo e vetusto processo de pagamento de quotas, recorrendo ao financiamento colaborativo e “crowdfunding”.

Santana Lopes podia estar tranquilo em casa, gozando a reforma, ajudando com os seus contactos os projectos em que intervém. Porém, não é essa a massa de que é feito. Como uma personagem de John Ford (com muitas semelhanças também com Mário Soares) é “bigger than life”, metendo a alma em cada combate. Não sabemos o que vai dar a Aliança, pode correr bem ou mal, mas recorro a “O Penitente” de Teixeira de Pascoaes: «felizes os que alcançam um absoluto indiscutível, no mal ou no bem, no céu ou no inferno. O purgatório é que é terrível, como a esperança». E se a esperança tem a ver com ele, o purgatório nunca foi local de pouso para Pedro Santana Lopes.

O autor não escreve segundo o acordo ortográfico

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