Marques Mendes merece desculpas

Quando floresce a ira e a ofensa, é bom que quem escreva na imprensa tenha ainda maior critério nas letras que publica.

Quando escrevo na imprensa e noutros espaços, e por vezes adjectivo com força e violência, muita gente pensa que tenho algo contra as pessoas sobre as quais discorre a minha escrita. Ora, isso não é verdade. Tenho coisas que não gosto, acções que condeno, porém, isso é a minha opinião, apenas a minha opinião. Nunca escrevo a lavrar no ódio ou por qualquer sentimento de vingança sobre as personalidades que retrato. Tenho é um enorme cuidado em nunca incorrer em erro, pois isso mancha a minha credibilidade perante quem gosta e tem confiança naquilo que escrevo.

Tenho também sempre o cuidado de apelar à racionalidade, pois a mesma tem de estar sempre na moda. E nos dias em que se esbatem os muros que o “gate-keeper” no jornalismo filtrava, separando o trigo do joio, exibindo apenas o que era de interesse público, passando nós todos a viver no tumulto diário das redes sociais, da exaltação sem preparação, num mundo onde a ira floresce, onde a gritaria, a ofensa e a barbárie dos espíritos flui sem amortecedores, para muita gente sem rosto despejar as suas frustrações em cima de profissionais de bem e de títulos diariamente conspurcados por vilipêndios, é bom que quem escreva na imprensa tenha ainda maior critério nas letras que publica.

Eu conheço o Luís Marques Mendes (LMM) há muitos anos e sempre tivemos uma relação de simpatia mútua. Além disso, foi meu colunista de uma revista que criei e dirigi entre 1998 e 2001 que se chamava “Política Moderna”, e onde escreveu por diversas vezes de maneira livre, com gosto e de forma gratuita. Continuou o seu caminho político, profissional e hoje é o comentador com mais audiência do País. Como é óbvio, há observações e opiniões que profere na SIC com as quais eu não concordo, mas isso é algo para o qual quem aceita dar a cara nas televisões, imprensa ou rádio tem de estar preparado. Eu próprio, mais modesto e com muito menor audiência, tive durante dois anos um programa de comentário na ETV (Económico TV) e de vez em quando era sovado pelos cobardes anónimos e os analfabetos funcionais do costume que despejam as suas frustrações sem eira nem beira nas sarjetas das caixas de comentários. Mas é a vida, quem comenta por gosto tem de desenvolver uma couraça contra todos os impropérios e ter algum sangue frio.

Agora, quando tenho conhecimento que usei informações erradas que li na imprensa e nas quais me baseei para escrever um artigo, seria um canalha e um ser desprezível, se não me retractasse perante os meus leitores. Não quero acusar nenhum órgão de comunicação social, pois hoje em dia vivem com muitas dificuldades e ensinaram-me que nunca se deve bater em quem não está bem, mas li na altura em diversos meios que LMM tinha sido apanhado colateralmente em escutas telefónicas do processo dos Vistos Gold (processo esse em que nunca esteve envolvido) a dizer sobre um alegado negócio de tratamento médico a refugiados líbios para que «eles não venham mortos mas que venham pelo menos um pouco tortos».

Pois bem, quem lesse isso publicado na imprensa ficaria com a percepção que LMM estaria envolvido em «negociatas» e que tinha sido muito infeliz na expressão utilizada e amplamente divulgada e que levou ao erro de muitas pessoas que a leram em meios de comunicação social credíveis e, posteriormente, com fidúcia do que foi dado à estampa, também comentaram como foi o meu caso entre tantos. Mas sobre os outros nada tenho a dizer e agirão como bem entenderem, agora cabe-me realçar que LMM não esteve envolvido em «negociata» nenhuma e hoje posso dizer que essa frase que lhe foi atribuída nos meios de comunicação social nem é ele que a diz, o que faz cair por terra qualquer alusão que tenha sido feita erroneamente.

Assim, com frontalidade, vos digo que quando estiver com ele, olhos-nos-olhos como devem fazer as pessoas de bem, lhe pedirei desculpa quer pelo lapso que cometi e que hoje já apurei pois o processo já não está em segredo de justiça, quer pelas afirmações impróprias que sobre ele fiz. Em boa verdade, conheço-o há muitos anos e tenho-o por pessoa séria e honesta. Quanto aos outros que erraram julgo que o Luís Marques Mendes mereceria um pedido de desculpas. Não ficava mal e sobretudo ninguém perderia a credibilidade, pois nenhum leitor gosta de ser enganado.

Nota: o autor escreve segundo a antiga ortografia.

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