Drama brasileiro

  • Filipe Vasconcelos Romão
  • 14 Julho 2017

Lula da Silva acaba de ser condenado a nove anos de prisão por crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Com esta sentença, a “Operação Lava Jato” entrou numa fase em que terá de dar provas de imparcialidade e de transversalidade da sua acção. Será necessário ir além de Lula da Silva, de figuras politicamente menores e de uma série de acordos de “delação premiada” que têm permitido aos empresários ser condenados a penas insignificantes (face aos crimes cometidos) para ficar comprovado que política e justiça não se estão a confundir nestes processos.

A “Operação Lava Jato” teve a enorme vantagem de começar a destapar os esquemas através dos quais o Brasil tem sido governado nas últimas décadas e a verdadeira causa do adiamento constante do país enquanto potência: a transversalidade e a penetração da corrupção numa classe política que constitui uma autêntica catástrofe para os brasileiros. No entanto, a instrumentalização política da “Lava Jato” e a sua interpretação à luz de uma clivagem política entre Lula ou Temer e os respectivos adversários só servirão para encobrir o comatoso estado em que se encontra o sistema político brasileiro.

O Brasil está a pouco mais de um ano de uma eleição presidencial directa e as manobras políticas estão a conduzir o país para que tudo fique na mesma. Esta semana, por exemplo, com muito menos repercussão mediática do que a condenação de Lula, a base parlamentar de Michel Temer conseguiu substituir a maioria dos deputados que poderiam votar contra o presidente na Comissão de Constituição e Justiça, inviabilizando a evolução do processo por corrupção passiva iniciado pelo procurador-geral da República.

Com este e outros gestos diários, fica comprovado que a “Lava Jato” em nada alterou a atitude da classe política brasileira. Não só não existe uma consciência de que algo de profundo deve mudar, como também existe uma percepção clara de que nada irá ou deverá mudar. Os deputados e os senadores terão sempre poder para bloquear os únicos mecanismos democráticos que permitiriam ao Brasil começar a mudar: a revisão constitucional e a alteração da lei eleitoral. E bloquearão estas reformas porque, como a generalidade dos seres humanos, têm instinto de sobrevivência.

Resta saber se os cidadãos estão na disposição de continuar a validar estes comportamentos e a preservar um sistema que manifestamente não só não lhes serve como tem impedido o país de prosperar e o transformou numa potência permanentemente adiada que nem do ponto de vista regional consegue exercer qualquer tipo de liderança.

O autor escreve de acordo com o anterior Acordo Ortográfico.

  • Filipe Vasconcelos Romão
  • Presidente da Câmara de Comércio Portugal – Atlântico Sul e professor universitário

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