Dez anos de experiência de um fundo de fundos

O PVCI – Portuguese Venture Capital Initiative investiu em sete fundos que, por seu lado, levaram capital a 50 empresas. A surpresa é a limitada orientação exportadora destas empresas.

Dotado de um capital de 111 milhões de euros, o PVCI – Portuguese Venture Capital Initiative é um fundo de fundos de investimento criado pelo FEI – Fundo Europeu de Investimentos. Foi instituído em 2008, tendo por principal entusiasta Carlos Costa, hoje governador do Banco de Portugal, então vicepresidente do BEI – Banco Europeu de Investimento, de que é hoje vice-presidente honorário.

Com um nível de capital considerável, à época, dada a atividade a que se destina, o PVCI tem por investidores, além do FEI, entidades do sistema bancário português. Teve por visão subjacente o estímulo à criação de uma indústria então inexistente em Portugal (a dos fundos de fundos de investimento), com tudo o que isso implica em termos de aprendizagem, constituição de equipas de trabalho, modos e processos de funcionamento, sucessos e insucessos, ganho de experiência.

Numa fase em que caminha para o termo da sua existência (entidades como o PVCI têm vidas com uma duração estatutariamente delimitada), continua em discussão a possibilidade de vir a ser criado um PVCI II, tendo por investidores institucionais, desta vez, o FEI e a IFD – Instituição Financeira de Desenvolvimento.

Em termos estritamente financeiros, de pura rentabilidade para as entidades que nele investiram, os resultados estão ainda por apurar. Serão determinados no termo da sua existência, quando os fundos de investimento portugueses em que investiu tiverem vendido todas as suas participações ou tiverem sido, eles próprios, tomados por outras entidades. O único dado que podemos e devemos apresentar é que as expectativas de rentabilidade são hoje francamente mais favoráveis, depois de uma fase inicial muito difícil – para além do perfil de risco de uma atividade desta natureza, não pode ignorar-se que o PVCI foi criado numa data, 2008, em que tinha acabado de rebentar a ainda hoje considerada a segunda maior crise económica global (depois da de 1929), a que se seguiu, a partir de 2011, a crise de financiamento da economia portuguesa, com epicentro no Estado e tendo dado lugar à intervenção da troika, de que o país só veio a conseguir uma “saída limpa” em maio de 2014.

Em termos económicos, mais compatíveis com uma análise “on going”, o PVCI investiu diretamente em sete fundos de investimento portugueses, em que se incluem cinco fundos novos, criados por outros tantos novos investidores e tendo dado lugar à criação de outras tantas novas equipas de gestão – tornando desde já inequívoco o seu contributo para a criação desta indústria no nosso País.

Os sete fundos investidos pelo PVCI investiram em 50 empresas portuguesas, a que aportaram capitais próprios adicionais de 328 Milhões de euros (como é habitual neste tipo de atividade, o investimento do PVCI vê-se alavancado pelo investimento de outros investidores que o acompanham, seja por obrigação decorrente dos contratos firmados seja pelo aumento do grau de confiança trazido pela sua mera presença, com destaque para a credibilidade aportada pelo FEI). Foram apoiados 6000 postos de trabalho, tendo as 50 empresas investidas duplicado o número de colaboradores, em resultado das operações de investimento realizadas. Foram dadas por concluídas, até ao momento, sete destas 50 operações de investimento – por alienação das participações detidas pelos fundos participados pelo PVCI.

Fica, como único fator de alguma perplexidade, uma orientação relativamente reduzida deste conjunto de 50 empresas para a exportação, aquém da minha expectativa pessoal. Mas, por isso, ninguém poderá responsabilizar o PVCI.

  • Economista. Membro do Comité de Investimentos do PVCI

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