Há 16 mil escolas de gestão. O que pôs o ISCTE nos rankings do FT?

A ISCTE Business School é a quarta escola portuguesa a figurar nos rankings do Financial Times. Cada uma tem a sua fórmula, mas no caso ISCTE, a grande aposta tem sido o empreendedorismo.

A ISCTE Business School “não é gerida a pensar nos rankings”, garante o diretor, José Paulo Esperança. Porém, tornou-se este ano a quarta faculdade portuguesa a ser reconhecida como uma das melhores pelo Financial Times. Como deu este salto? O segredo vai além dos critérios dos rankings: “Há 16.000 escolas de gestão, muitas marcas nesta área“, diz o diretor. O ISCTE escolheu o selo do empreendedorismo.

Foi uma entrada em grande, na medida em que entre as seis escolas que se estrearam no ranking, a IBS foi a que conseguiu a melhor posição, a 80.ª. A distinção resulta de “um programa e um bocadinho” pois tem em conta unicamente o Mestrado em Gestão e alguns programas para executivos, explica Pedro Viana, coordenador executivo da IBS. “A nossa génese facilitou isso. Fomos criados na base da gestão e não a partir de um departamento de economia”, realça José Paulo Esperança.

José Paulo Esperança, diretor da ISCTE Business School (à esquerda) e Pedro Viana, o coordenador executivo (à direita). Acima de ambos, a palavra “inovar”, que marca o trabalho de ambos, escrita em várias línguas.Paula Nunes / ECO

Na avaliação do Financial Times, os pontos fortes são o corpo docente, que quase na totalidade possui o grau de doutoramento, e a paridade de género, com 47% de representação feminina. O diretor destaca a “grande ligação dos professores ao meio empresarial“, pois vários vêm de quadros de empresas e consultoras. O equilíbrio entre homens e mulheres vai desde os estudantes e docentes até ao topo. O Advisory Board, conselho responsável pela orientação estratégica da escola, é o único em Portugal e dos poucos no mundo que têm uma paridade total entre géneros.

Mas os critérios também deixam visíveis os pontos a melhorar. “Gostaríamos de ter um maior peso de alunos estrangeiros”, admite Pedro Viana. As escolas de verão são uma das portas principais para os estudantes de fora, mas foram abertas a seu ritmo. Em 2005 o ISCTE recebia cinco alunos por ano. Hoje, são 350. As parcerias com escolas estrangeiras também ajudam a captar alunos de outras universidades — e agora, o FT vem dar uma ajuda. “A distinção é super importante do ponto de vista da visibilidade internacional” afirma Pedro Viana.

Era mais que previsível que entrássemos nos rankings de 2017.

José Paulo Esperança

Diretor da ISCTE Business School

Apesar do orgulho no novo título, este não foi uma surpresa. Um ano após a acreditação da AACSB, uma condição necessária para estar na mira do Financial Times, “era mais que previsível que entrássemos nos rankings de 2017”, conta José Paulo Esperança. Só 5% das escolas a nível mundial conseguem este selo de qualidade. Na altura da acreditação, o diretor recorda uma equipa “absolutamente impressionada com a visita ao Audax”, a incubadora criada pelo ISCTE.

O empreendedorismo surge assim como um fator distintivo que marca a identidade da faculdade e serve de alavanca ao sucesso. “É uma saída profissional cada vez mais relevante”, assinala José Paulo Esperança. Da Audax saiu, por exemplo, a portuguesa Science4You, cujo fundador foi aluno de Finanças do ISCTE. A empresa já internacionalizou e faz milhões. “É daqui a pouco maior que o ISCTE, o que só nos deixa orgulhosos”, diz o diretor.

Pedro Viana sublinha o papel que tanto a Audax como a BGI, a aceleradora de startups da instituição, têm na relação com os alunos — os mesmos alunos que respondem aos inquéritos do Financial Times e pesam na avaliação da faculdade. O ECO foi conhecer estes polos e perceber como contribuem para a “fórmula empreendedora” de sucesso do ISCTE.

Audax, o berço do empreendedorismo do ISCTE

Da IBS ao Audax, vai uma estrada de distância. Do outro lado da rua do ISCTE estão os escritórios onde a incubadora acolhe as startups. À frente está Pedro Sebastião, como presidente. Professor, à semelhança da restante direção, defende o interesse académico da incubadora. “Posso não ser empreendedor mas gostar de trabalhar neste contexto”, diz. Para além disso, acredita que “este espírito do empreendedorismo deve ser fomentado, é útil tanto em organizações públicas como privadas“.

Pedro Sebastião, presidente do Audax, na área exterior que é partilhada pelos empreendedores. Para além dos escritórios, o Audax tem um jardim comum, uma sala de convívio, um espaço de co-work e até bicicletas disponíveis para os empreendedores se deslocarem.Paula Nunes / ECO

"Se tivesse entrado noutra faculdade não seria este o caminho que teria seguido. Mas não me imagino a fazer outra coisa.”

Eduardo Filho

Inspiring Future

As startups da casa, que podem vir ou não do ISCTE, concordam. Eduardo Filho fundou a Inspire Future no seio da Audax e atribui a descoberta do empreendedorismo à faculdade. A licenciatura que escolheu foi Arquitetura, no ISCTE. “Se tivesse entrado noutra faculdade não seria este o caminho que teria seguido. Mas não me imagino a fazer outra coisa”, garante.

Eduardo Filho, fundador da Inspiring Future, na sede da sua startup, dentro do Audax.Paula Nunes / ECO

O Audax esteve presente desde o início. O primeiro projeto de Eduardo surgiu por sugestão do gabinete de promoção do ISCTE, com o qual colaborava durante a licenciatura. Na altura, o Audax era somente um centro de empreendedorismo — mas ajudou a validar o modelo de negócio. “Funcionou, mas depois de três anos, percebemos que não tínhamos forma sustentável de crescer”, conta Eduardo. Avançou para o segundo, mas à terceira é que foi de vez.

Hoje, a Inspiring Future dedica-se a dar a conhecer a oferta do ensino superior aos alunos do secundário. Da incubadora que os acolheu, e ainda lhes dá casa, retiram sobretudo a capacidade de “conexão”. Por um lado, com os mentores, que são especialistas em áreas que vão desde o direito às finanças e ajudam a ultrapassar os obstáculos do negócio. Por outro, com as restantes startups que, estando “mais ou menos na mesma fase” se apoiam na troca de experiências e enfrentam os problemas em conjunto.

Mas o espírito das startups não se confina ao espaço do Audax: no ISCTE, o empreendedorismo é “praxe”. Na semana que antecede as aulas, tipicamente dedicada a atividades académicas, os caloiros participam na iniciativa IULcome, promovida pela incubadora. São convidados a conhecer a escola e a contribuir com ideias para resolver problemas da sociedade e da própria instituição. São orientados pelos estudantes mais velhos, alumni e professores.

Pedro Vieira, da YA Generation, no jardim do Audax, rodeado pelos espaços das várias startups.Paula Nunes / ECO

A ponte entre o Audax e os estudantes estende-se ao longo do ano, com várias ações de formação. Os YA Generation são alunos de mestrado da IBS que se dedicam a promover o empreendedorismo tanto na faculdade como nas escolas secundárias, entre adolescentes dos 12 aos 17 anos. Na altura das férias do Natal e da Páscoa os petizes têm uma semana para lançar as suas ideias e criar planos de negócios, e perceber assim a dinâmica. Aqui também são promovidos cursos intensivos e de média-duração para quem se quiser lançar neste mundo.

Rápido: de Portugal para o mundo com a BGI

A Building Global Innovators (BGI) é uma aceleradora que funciona dentro do ISCTE. Funciona em colaboração com o Massachusetts Institute of Technology (MIT), o conhecido instituto de tecnologia americano, que pretende projetar as melhores startups na área da tecnologia para o estrangeiro.

O que faz uma aceleradora dentro de uma faculdade? Gonçalo Amorim, o diretor executivo, defende que qualquer instituição de ensino tem um triângulo de responsabilidades: criar conhecimento, disseminá-lo e ligá-lo à indústria. É neste último vértice que entra a BGI.

“O grande problema das startups, sobretudo as tecnológicas, é o acesso ao capital”, nota Gonçalo. A BGI dedica-se a aprimorar projetos e a levar os alunos a Boston para os apresentar a investidores.

As escolas de Gestão são as que pegam nas tecnologias para as levar para o mercado.

Gonçalo Amorim

Diretor Executivo da BGI

Estando inserida na faculdade de Gestão, a BGI proporciona um acesso privilegiado ao saber desta área. “As escolas de Gestão são as que pegam nas tecnologias para as levar para o mercado” explica Gonçalo Amorim. “São estes os alunos que têm maior capacidade de monetização da oportunidade, de a tornar atrativa aos investidores. São mais pragmáticos”, diz.

Gonçalo Amorim, diretor executivo da BGI, no seu espaço de trabalho no ISCTE.Paula Nunes / ECO

Para além disso, “a IBS tem papel de cola”, conta Gonçalo. A faculdade traz alunos para dentro do BGI mas, simultaneamente, é o canal para os projetos saírem da aceleradora e serem abraçados pelas empresas, com as quais a faculdade facilita o contacto. Desde março de 2010 até hoje, foram 117 as startups que foram guiadas pela rede de 213 mentores. “É um processo muito competitivo”, assegura. Recebe tanto projetos de alunos universitários como privados, e não há discriminação quanto à origem.

Como Pedro Viana, o coordenador executivo da IBS descreve, os rankings acionam um “ciclo virtuoso”: melhores alunos, mais estrangeiros, maior interesse da parte das empresas. O empreendedorismo afina a engrenagem.

  • Paula Nunes
  • Fotojornalista

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