Criar ecossistema

  • Paulo Bandeira
  • 6 Junho 2018

Já existe mesmo um ecossistema empreendedor em Portugal? Não creio. Ainda não.

Na gíria das startups fala-se muito em ecossistema. Não há conferência alguma sobre empreendedorismo onde se vá que não se fale no “ecossistema em Lisboa” ou no “ecossistema em Portugal” ou simplesmente no “ecossistema”.

O termo é um estrangeirismo, não na origem da palavra (embora a sua origem seja grega), mas na forma como foi importada para o léxico nacional sobre a comunidade de incubadoras e startups em Portugal.

A questão que parece pertinente colocar é se existe mesmo um ecossistema empreendedor em Portugal.

Vejamos. Diz-nos a Wikipedia (esse guru internético do conhecimento universal) que a palavra ecossistema “define o conjunto formado por comunidades bióticas que habitam e interagem em determinada região e pelos fatores abióticos que exercem sobre essas comunidades”.

Em português corrente isto quer dizer que um ecossistema caracteriza-se por ser um conjunto de seres vivos (comunidade biótica) que habita e interage num determinado território e é influenciado por esse mesmo território (os tais fatores abióticos).

Será que já é isto que temos em Portugal? Já existe um ecossistema empreendedor português?

Não creio. Ainda não.

Portugal tem hoje um ambiente frenético em torno do empreendedorismo. A Startup Lisboa trouxe uma enorme visibilidade sobre a incubação em Portugal, a Web Summit colocou o país nos holofotes mediáticos, quase todos os municípios do país quiseram mostrar o quanto são jovens e dinâmicos e criaram incubadoras (muitas só de nome, mesmo) e o atual Governo lançou um conjunto de medidas positivas destinadas a apoiar as startups e quem nelas investe.

Temos uma multiplicidade de atores, uma panóplia de medidas, mas não temos verdadeiramente um ecossistema, mas apenas um protossistema.

Um ecossistema é um organismo vivo que implica que os seus agentes atuem em concertação ou, pelo menos, em coordenação. É um organismo em que o todo é mais que a soma das partes, em que o crescimento funciona numa progressão geométrica e não aritmética exatamente porque funciona em rede. Porque funciona em rede, o ato de um agente da comunidade é potenciado pelos demais atos dos demais agentes, o que permite alcançar um resultado coordenado e superior ao que resultaria da soma dos mesmos.

É isto que ainda nos falta alcançar.

Sendo certo que temos já uma, muito meritória, Rede Nacional de Incubadoras (ver aqui – http://rni.pt/), não temos ainda as incubadoras portuguesas a funcionar em rede. Nem estas a funcionar em rede com parceiros e investidores.

É fundamental que se criem lógicas de funcionamento concertado entre as múltiplas incubadoras em Portugal e que encaminhem startups entre si numa lógica de melhor capacitação de projetos (dada a limitação do número de projetos que podem acolher, o Startup Visa pode vir a ser aqui um teste curioso sobre o quanto as incubadoras portuguesas falam entre si). É fundamental que as incubadoras consigam atrair um conjunto de parceiros com valências e experiências diversificadas que ajudem na validação e incubação das startups e que mutuamente se alimentem de projetos (veja-se o exemplo do Startup Lab – www.startuplab.pt). É fundamental que as incubadoras e os parceiros consigam ativamente apresentar projetos a investidores. É fundamental que estes investidores, por seu turno, consigam referenciar novos projetos para incubadoras. Desta forma, o modelo autoalimenta-se e autossustenta-se.

Fica o desafio à Startup Portugal de criar um grande evento anual de interligação de todos os agentes do nosso protossistema. Só conversando e procurando formas coordenadas de trabalho em conjunto conseguiremos evoluir para um verdadeiro ecossistema.

  • Paulo Bandeira
  • Sócio da SRS Advogados

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Criar ecossistema

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião