Assim se vê a força da CGTP *

A CGTP, com o apoio ativo do PCP, levou a política para a Autoeuropa, instrumentaliza os trabalhadores e põe em causa a própria fábrica em Portugal.

Hoje é um dia histórico na Autoeuropa e não é por causa de um novo investimento, um novo carro a construir na fábrica de Palmela ou a contratação de mais trabalhadores. Ao fim de 28 anos, há uma greve na Autoeuropa, precisamente no momento em que existe um novo carro em produção, o T-Roc, para chegar ao mercado em novembro. Porquê? Assim se vê a força da CGTP – com a cobertura e apoio ativo do PCP -, que levou a política para o chão de fábrica. Por causa da sua própria sobrevivência.

A vida sindical na Autoeuropa mudou depois da saída, há sete meses, de António Chora, o histórico líder da comissão de trabalhadores da empresa que é do Bloco de Esquerda. A nova comissão fechou um pré-acordo com a administração da Autoeuropa que foi chumbado em plenário pelos trabalhadores.

Até aqui, nenhum problema, a não ser, claro, para a comissão que foi obrigada a demitir-se. Houve uma mudança de poderes sindicais na fábrica. A comissão demitiu-se, e os sindicatos afetos à CGTP assumiram o comando. Sem nova comissão eleita, marcam uma greve inédita, prematura, com consequências trágicas para o que foi a estabilidade social na empresa e o que isso lhe conferia de valor em relação às outras fábricas da VW na Europa e no mundo.

A CGTP e o PCP estão a jogar um jogo perigoso, à custa dos trabalhadores da Autoeuropa. Não é por não aceitarem o pré-acordo, há seguramente questões que merecem discussão e até alterações. E a administração tem a obrigação, claro, de negociar. Foi, aliás, o que fez quando chegou a a um pré-acordo com a comissão de trabalhadores.

A CGTP e o PCP estão a jogar um jogo perigoso por partirem para a greve e por politizarem a fábrica, como se ainda vivessem os dias quentes do final da década de 70 e primeira metade dos anos 80. Extraordinário. Quando a Autoeuropa tem a perspetiva de regressar a elevados níveis de produção, quando a economia está a crescer, a CGTP e o PCP têm de fazer ouvir a sua voz, Para ganhar aqui, e para ganhar na Geringonça. Também por aqui se vê a sua consistência, no meio desta guerra surda com o BE e com o governo às aranhas.

A boa-fé da CGTP e do PCP mede-se pela decisão de marcar uma greve extemporânea numa empresa onde sempre houve diálogo social sem esperarem pela eleição de uma nova comissão de trabalhadores – os representantes eleitos do chão de fábrica – para reabrir negociações com a administração da Autoeuropa. E esta já disse que está disponível para o fazer. A CGTP e o PCP perceberam uma oportunidade de recuperarem protagonismo numa fábrica que, ano após ano, tem menos trabalhadores sindicalizados. Para Arménio Carlos, a comissão de trabalhadores até seria dispensável. Não é, como se vê.

Consequências? Esta greve é um tiro no porta-aviões da indústria portuguesa, que tanto precisa de capital, e de capital estrangeiro. Está agora em risco a contratação de mais trabalhadores, e se a rutura se mantiver, até a própria manutenção do T-Roc em Portugal. Definitivamente, está em risco a conquista de novos modelos para a fábrica portuguesa. Mas a CGTP e o PCP terão conseguido fazer provas de vida, ganharão um novo fôlego, regressarão ao passado, quando mandavam nas fábricas. A ironia, claro, é que será por pouco tempo, depois, sem fábricas, ficarão a mandar, e a falar, sozinhos.

* E do PCP, à custa dos trabalhadores da Autoeuropa, e da economia portuguesa.

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