Dados das eleições na Venezuela lançam dúvidas sobre os resultados

Reuters teve acesso aos dados internos do conselho eleitoral que levantam dúvidas sobre o verdadeiro número de eleitores que foram às urnas eleger a Assembleia Nacional Constituinte.

Apenas 3,7 milhões de pessoas tinham votado às 17h30 de domingo nas eleições de domingo na Venezuela para eleger a controversa Assembleia Nacional Constituinte, segundo os dados internos do conselho eleitoral a que a Reuters teve acesso (conteúdo em inglês), o que lança sérias dúvidas sobre os dados oficiais que avançam que houve 8,1 milhões de pessoas a votar, transformando este ato eleitoral como o mais participado de sempre na Venezuela.

A super-órgão legislativo tem sido incessantemente classificado pela oposição — mas também pela comunidade internacional — como ilegal e ilegítimo tendo apenas por propósito dar ao Governo de Nicolás Maduro poderes para reescrever a Constituição e afastar os principais opositores.

Sentindo-se respaldado pelos resultados, Maduro mandou deter Leopoldo López e Antonio Ledezma. Os opositores foram arrancados de casa de madrugada e levados para parte incerta. Horas mais tarde, o Supremo Tribunal justificou as detenções com o “risco de fuga”. O Presidente norte-americano., Donald Trump já responsabilizou o seu homólogo venezuelano pela “saúde e segurança” dos opositores agora detidos, que considera “presos políticos detidos ilegalmente pelo regime”.

Mas caso se venha a provar que os resultados foram forjados, isso será um duro golpe para Maduro. E os dados das 14.515 assembleias de voto a que Reuters teve acesso parecem demonstrar isso mesmo porque às 17h30 só tinham votado 3.720.465 pessoas. “Ainda que seja possível que tenha havido uma afluência de última hora ao final do dia, e o Partido Socialista já tentou fazê-lo no passado, conseguir duplicar a votação na última hora e meia seria inaudito”, disse Jennifer McCoy, uma especialista em ciência política que já liderou várias missões de observação a eleições na Venezuela para o Carter Center, citada pela agência noticiosa. Recorde-se que as autoridades venezuelanas decidiram estender por mais uma hora o horário de funcionamento das assembleias de voto.

"Ainda que seja possível que tenha havido uma afluência de última hora ao final do dia, e o Partido Socialista já tentou fazê-lo no passado, conseguir duplicar a votação na última hora e meia seria inaudito.”

Jennifer McCoy

Especialista em ciência política

O único reitor do poder eleitoral venezuelano alinhado com a oposição, Luís Emílio Rondón, também já denunciou irregularidades na votação. Rondón disse que, “pela primeira vez”, não se pode atestar a “consistência ou veracidade” dos resultados porque foram tomadas decisões que atentam contra a sua credibilidade, nomeadamente, o facto de os resultados terem sido entregues a Nicolás Maduro antes de serem publicados. “Controlos que fazem do sistema eleitoral um sistema seguro foram flexibilizados e, em alguns casos, eliminados. Eliminaram algumas auditorias (…). É preciso saber se as pessoas votaram mais de uma vez”, disse.

Filho e mulher de Maduro eleitos para a Constituinte

Na terça-feira começaram a ser conhecidos os nomes que vão integrar a Assembleia Nacional Constituinte e entre os 545 membros estão a mulher e o filho de Nicolás Maduro, avançam vários jornais internacionais. Os nomes estão a ser divulgados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), mas sem avançar o número de votos que cada um tem.

Nicolás Ernesto Maduro Guerra, 27 anos, entrou na política com a sua candidatura à Constituinte. Concorreu como representante da Administração Pública, na qual trabalhou desde que o pai chegou ao poder, em 2013, ocupando sempre altos cargos criados pelo Presidente, conta o Globo. Nicolasito era praticamente um desconhecido, embora há alguns anos tenha causado polémica depois de divulgadas imagens de um casamento no qual recebeu uma “chuva de dólares” enquanto dançava.

Estava previsto que a Constituinte iniciasse funções esta quinta-feira, mas a Assembleia Nacional, dominada pela oposição, não reconhece os resultados das eleições nem a instalação da Constituinte. Por outro lado, o vice-presidente venezuelano, Tareck El Aissami anunciou terça-feira, na televisão, que a Assembleia Nacional Constituinte seria instalada dentro de poucas horas. “Em poucas horas, mediante Deus, será instalada e tomará direção política e de governo deste processo revolucionário”, disse El Aissami, sem dar mais pormenores.

Por outo lado, a oposição decidiu adiar por um dia a manifestação que tinha prevista para esta quarta-feira, para protestar contra a tomada de posse da Assembleia Constituinte.

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