Verdadeira incubação

  • Paulo Bandeira
  • 13 Março 2017

É sabido e reconhecido, até internacionalmente, que Portugal vive um momento assaz empolgante em tudo o que se relaciona com o empreendedorismo e o movimento startup.

O ambiente é propício. Lisboa definiu uma estratégia bem sucedida para se posicionar como uma startup city. O Governo elegeu a temática como uma prioridade nacional. O país está na rota dos grandes eventos internacionais, como a Web Summit. O tema tem sex appeal e os media amplificam histórias de sucesso de empresas estrela.

O resultado é que “incubadoras” despontam pelo país como cogumelos após uma noite de chuva primaveril e algumas startups colecionam programas de incubação e de aceleração como se de cromos se tratassem.

Tudo isto é relativamente natural e faz parte de um processo de crescimento. Em todo o caso, é importante que as startups procurem verdadeira incubação e façam uma análise prévia às características e verdadeiras capacidades da incubadora em que se vão integrar por forma a poderem fazer uma escolha adequada às suas necessidades e processo de desenvolvimento.

Sugiro a todos os empreendedores que validem se a incubadora tem as seguintes valências:

  • Foco – validem qual a incubadora que está mais focada na área de projeto e negócio que pretendem desenvolver; o foco de uma incubadora para uma determinada área predispõe a um melhor conhecimento do setor e das necessidades de uma startup que atue nessa área, a uma maior concentração de empresas com tecnologias convergentes e a uma mais profícua partilha de conhecimento entre incubadas; não é forçoso que tenham de escolher um cluster, mas integrarem-se numa incubadora que foca num determinado perfil de empresas pode ajudar ao desenvolvimento mais rápido do produto;
  • Metodologia – as incubadoras devem ter processos de incubação bem definidos e estruturados e devem saber explicá-los facilmente; compreender esses processos ajuda a fazer a escolha mais adequada;
  • Capacitação – perguntem pela oferta formativa, apoio na validação do modelo de negócio, mentoring e pelo apoio especializado prestado por parceiros (legal, contabilístico, estratégico e de marketing); as startups tendem a estar focadas unicamente no desenvolvimento do produto e em como chegar ao mercado, mas tão importante como isso é saber realizar e apresentar um business plan a investidores, discutir o projeto com mentores experientes e conhecer o enquadramento e os constrangimentos regulatórios que balizam o vosso projeto;
  • Investimento – questionem a que investidores a incubadora consegue chegar e com que critérios; o passo seguinte ao desenvolvimento do conceito ou produto é ter os fundos necessários para produzir o produto ou atacar o mercado, pelo que ter a acesso aos investidores corretos é fundamental; validem junto de outras startups se, de facto, a incubadora consegue fazer o delivery nesse acesso e, mais importante, se esse acesso é criterioso e não fruto de uma divulgação cega que pode desvalorizar o projeto;
  • Parcerias empresariais – procurem incubadoras com implantação em meios empresariais (ex.: Lispolis) ou com parcerias empresariais estabelecidas que permitam um acesso franco à indústria onde se posicionam (ex.: HealthCare City); o apoio da economia real pode ser muitas vezes a certeza de que o produto está a ser desenvolvido no caminho certo ou que existe para resolver um problema que o mercado perceciona como necessário de ser resolvido e esteja disposto a pagar por essa solução;
  • Acreditação – por último, validem se a incubadora foi acreditada pelo IAPMEI; este processo é uma garantia a priori de que uma entidade estatal validou a existência de um programa de incubação e a capacidade da entidade para prestar ou subcontratar apoio nas áreas de gestão, marketing, legal, desenvolvimento de produto e financiamento (acesso a apoios comunitários e investidores), mas é sobretudo a única forma de as startups poderem beneficiar de um “Vale Incubação” (a lista das entidades/incubadoras acreditadas em Portugal pode ser consultada aqui).

Estas são as características fundamentais que as startups devem privilegiar aquando da busca de uma incubadora onde desenvolverem a sua ideia de negócio ou produto.

Na falta destas características, tais entidades de “incubadora” terão apenas o nome, pois não serão mais que um centro de escritórios ou um espaço de cowork (a um custo, muito provavelmente, acrescido).

Como sempre acontece, o tempo encarregar-se-á de separar o trigo do joio e de fazer prevalecer os mais capazes.

Nota: Caso tenha questões que gostasse de ver esclarecidas ou temas que gostasse de ver abordados envie o seu e-mail para startups@eco.pt.

  • Paulo Bandeira
  • Sócio da SRS Advogados

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