Editorial

Uma semana, dois países… e um que temos de o pagar

O que liga o Web Summit e o Orçamento para 2018? Um país com duas faces, um aberto ao mundo, o outro a penalizar o investimento e as empresas. Um retrato fiel do governo que temos.

Na semana do Web Summit, Portugal volta a estar no mapa do mundo económico e financeiro internacional, António Costa pode voltar a ser, apenas por uns dias, o otimista irritante que (ainda) convencia o Presidente da República, a vender um país reformista e aberto, mas tem de esconder o outro país, o que está a ser governado no curto prazo, no ‘chapa ganha, chapa distribui’, como disse o próprio primeiro-ministro, o que vai aumentar o IRC sobre os lucros das empresas para ‘comprar’ o PCP. São dois países, sim, o problema é que o primeiro vai embora na próxima sexta-feira, o outro fica por cá, para o pagarmos.

A conferência de tecnologia que começa hoje em Lisboa e vai prolongar-se até ao final da semana tem números que impressionam, são mais de 60 mil pessoas a assistir, são centenas de oradores, dezenas de encontros, festas e reuniões. É uma oportunidade, única para tantas e tantas startups num evento que, na verdade, como bem sublinha no ECO Leonardo Mathias – um dos responsáveis pela vinda do Web Summit para Portugal -, é de grandes empresas e organizações. “Não é um concerto de música pop. Também não é o Euromilhões. Também não é um centro de emprego. E não, não vai aparecer o ‘Sininho’ do Peter Pan a largar dinheiro, empregos e clientes, por quem passe na FIL esta semana”. Nem mais.

O turismo, e neste sentido o país, já ganhou com a realização do Web Summit. E, como este é o segundo ano em Lisboa, muitos dos empreendedores que foram ao primeiro já sabem o que têm de fazer, ou pelo menos o que não podem fazer, para convencerem os investidores internacionais. Não é pessimismo, é realismo, porque a concorrência é enorme. E os investidores em startups querem crescimentos rápidos, e rentabilidade. Portanto, é uma oportunidade. Literalmente, uma oportunidade. Para os que a souberem aproveitar.

O problema é quando um ministro da Economia, o que também anda a promover os méritos do Web Summit, afirma de forma cândida que o aumento da derrama estadual de IRC de 7% para 9% afeta um pequeno número de empresas. Leu bem. Passamos de um ministro, Santos Pereira, que se bateu por uma descida do IRC para 10%, para outro, Caldeira Cabral, que desvaloriza o agravamento do IRC das empresas com lucros superiores a 35 milhões de euros, mesmo sem saber quais são as taxas de rentabilidade implícitas nestes resultados. O que importa? Na verdade, Caldeira Cabral já pode fazer este papel, e continuar a cortar fitas, porque o verdadeiro ministro da Economia é outro, é o ministro-Adjunto Pedro Siza Vieira, com responsabilidades em programas como o Capitalizar, para citar apenas um exemplo.

Neste dois países, o da tecnologia e do aumento dos impostos para as empresas com capacidade para investir, sabe quem cá vive que um é temporário, o outro é estrutural, um vem e vai, nos aviões de regresso a casa e nas startups nacionais com capacidade para conquistar o mundo, o outro permanecerá, e até está a ganhar raízes desde 2015. E continuará em 2018, com um orçamento que dá o que tem e o que espera vir a ter.

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