Sete certezas e uma dúvida sobre a remodelação

António Costa guardou a sua bomba atómica para o momento certo. E, seguindo os manuais, mudou de caras para não mudar de políticas. Mas haverá gato escondido com rabo de fora?

António Costa fez uma remodelação para limpar o ambiente. Os ministros que saem já não tinham a energia para prosseguir, nem aura para ir a votos.

  1. António Costa fez uma remodelação a pedido. A pedido das corporações, que (por motivos diversos) já não ouviam ou respeitavam os seus interlocutores. Senão, mesmo, a pedido dos próprios ministros – como adianta no Público a jornalista São José Almeida, bem conhecedora dos meandros do PS. Não sei se isso é seguro, mas seguramente ajudava a explicar por que razão o ministro da Educação não sai também.
  2. António Costa chamou ministros novos, mas não lhes deu poder real: estando pronto e aprovado o último Orçamento da legislatura, nenhum dos que entra terá margem de manobra para fazer diferente; com o ano eleitoral mesmo ao virar da esquina, nenhum terá tempo ou margem política para deixar marca.
  3. António Costa provou manter intacta a sua capacidade de recrutamento. Conseguir chamar para o Governo pessoas vindas de fora da política, apenas a um ano do fim do mandato, diz muito sobre a expectativa dos novos ministros numa reeleição confortável. E, assim, diz muito sobre a força política do primeiro-ministro.
  4. António Costa mantém intacta a sua habilidade política: no momento em que estamos, só mesmo um diplomata para tentar acalmar os militares.
  5. António Costa não quis dar “peso político” ao seu Governo. Quis pôr nele gente qualificada, mas que não tem como lhe dizer que não, para garantir coesão na reta final.
  6. António Costa ignorou o PS. Deixou de fora eternos disponíveis como Carlos César e Manuel Pizarro e foi buscar dois “independentes”, reforçando um outro (Pedro Siza Vieira). Do PS, só recuperou Graça Fonseca – que é mais amiga dele do que militante do partido.
  7. Por tudo isto, é certo que António Costa conseguiu, com esta remodelação, limpar o ambiente sem mudar nada de estrutural: na Saúde e Economia não vai haver nova política – só o respirar fundo que os novos protagonistas ajudam a ganhar; é claro que na Cultura a política já tinha mudado, porque Costa desautorizou o ministro cessante, percebendo que bastavam alguns milhões para recuperar um setor que é central para o PS; é claro que na Defesa a única dúvida que resta é se o Chefe de Estado-Maior do Exército sai já ou só em abril, no fim do seu mandato.
  8. A única dúvida que esta remodelação nos deixa é sobre o que vai acontecer na energia. Sendo evidente que Siza Vieira não podia assumir a pasta, por clara incompatibilidade, é também evidente que a saída da pasta para o Ministério do Ambiente não implicava a saída de Jorge Seguro Sanches, o secretário de Estado que tirou o sono (e uns milhões) à EDP. Será que esta remodelação traz gato escondido com rabo de fora?

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