2018, Parte 1

  • Filipe Vasconcelos Romão
  • 1 Janeiro 2018

À chegada de 2018, fica o primeiro de dois artigos com alguns tópicos sobre política internacional que poderão dar que falar nos próximos 12 meses.

Formação do Governo alemão

Com o SPD a tentar fugir ao “abraço de urso” democrata-cristão da CDU/CSU, Angela Merkel foi confrontada com a crua realidade de uma aritmética parlamentar que teima em dificultar a formação de Governo. A entrada da extrema-direita no Bundestag bloqueou as alternativas e os sociais-democratas, perante uma opinião pública alemã pouco dada a instabilidade política, poderão sentir-se pressionados a manter o apoio a Merkel através de um acordo de incidência parlamentar. Pelo caminho, a liderança que Berlim vinha exercendo na União Europeia ficou enfraquecida, abrindo espaço a um reforço da dinâmica supranacional que poderá vir a confirmar-se em 2018.

Eleições italianas

O ano que agora termina foi marcado pelo alívio produzido pela derrota da Frente Nacional em França, pelo desaparecimento do UKIP da política britânica e pela “meia-derrota” da extrema-direita na Holanda. Na frente eleitoral europeia, as atenções estão agora concentradas nas eleições legislativas italianas de 4 de Março. Depois de mais de três anos a liderar as sondagens, o Partido Democrático parece ter entrado em quebra em boa medida pela errática liderança do egocêntrico Mateo Renzi. Perante uma direita que volta a apostar na incombustibilidade de Silvio Berlusconi, o Movimento 5 Estrelas (formação sem outra ideologia que não a contestação ao “sistema”) emerge como única alternativa aos democratas.

Donald Trump

O primeiro ano de mandato confirmou as piores expectativas em relação ao presidente norte-americano. A liderança dos Estados Unidos na vertente externa ficou comprometida por alguém que não é levado a sério pelos seus congéneres e que transmite uma imagem pouco fiável da principal potência mundial. Em termos internos, Trump testou os limites do sistema de freios e contra-pesos e viu algumas das suas principais medidas suspensas por tribunais ou adiadas por desentendimentos entre a maioria republicana. As atenções, em 2018, irão centrar-se no seu grande calcanhar de Aquiles: a investigação em curso sobre a eventual ingerência russa na campanha que o levou à presidência.

Espanha e Catalunha

Os últimos dois anos foram de grande instabilidade em Espanha. Depois de duas eleições em menos de sete meses (Dezembro de 2015 e Junho de 2016), o ano que terminou foi marcado pela questão catalã. As primeiras semanas de 2018 serão determinantes para perceber se a situação catalã poderá estabilizar e quais as consequências que o prolongar desta crise terão para o Estado espanhol. Recorde-se que o governo de Mariano Rajoy vai começar o ano sem orçamento e que depende dos nacionalistas bascos (nada agradados com a forma como foi gerido o dossier catalão) para a sua aprovação.

Brasil

A Operação Lava-Jato virou o Brasil do avesso, mas, ironicamente, não abriu portas a qualquer tipo de regeneração política. Em ano de eleições, os dois candidatos melhor colocados para ocupar o Palácio do Planalto (sede da Presidência da República) são Lula da Silva, um dos principais visados pela operação; e Jair Bolsonaro, político de extrema-direita, abertamente racista, admirador da ditadura militar e, como não podia deixar de ser, também a braços com várias suspeitas de corrupção. Acresce que, caso o Tribunal Regional de 4ª Região confirme a sentença de primeira instância antes das eleições, Lula não se poderá candidatar ou assumir funções.

Nota: Por opção própria, o autor não escreve segundo o novo acordo ortográfico.

  • Filipe Vasconcelos Romão
  • Presidente da Câmara de Comércio Portugal – Atlântico Sul e professor universitário

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