Subida do crédito ao consumo? A culpa está na queda dos salários e no “hiperdesenvolvimento” da banca

Luís Máximo dos Santos atribui à queda dos salários e ao "hiperdesenvolvimento" da banca a responsabilidade pela expansão dos níveis do crédito ao consumo.

Têm sido muitos os alertas sobre os riscos associados ao recurso ao crédito ao consumo. Mais uma voz se juntou ao coro das críticas. Desta vez, o vice-governador do Banco de Portugal, Luís Máximo dos Santos, que lança “farpas” ao atribuir à queda dos salários, mas também ao “hiperdesenvolvimento” da banca, a responsabilidade pela expansão dos níveis do crédito ao consumo.

“Na verdade, o desenvolvimento e a expansão do crédito ao consumo são consequência direta de poderosas tendências, em especial a estagnação ou a redução dos salários, a queda da poupança e o hiperdesenvolvimento do setor financeiro”, disse Luís máximo dos Santos na intervenção de abertura da Conferência Anual da Associação de Instituições de Crédito Especializado (ASFAC).

A este propósito diz ainda que “nada há de intrinsecamente condenável no recurso ao crédito ao consumo”, salientando que “pelo contrário, o crédito ao consumo corresponde há muito a uma necessidade económica e social”. Para logo de seguida dar o que poderá ser interpretado como uma crítica ao setor financeiro.

“O que não deve nem pode acontecer é a concessão de crédito de modo irresponsável, desrespeitando os direitos dos consumidores, com o propósito de tirar proveito económico conjuntural das fragilidades e insuficiências de conhecimentos dos clientes bancários“, diz Luís Máximo dos Santos.

O responsável do banco central português explica que o crédito ao consumo está indissociavelmente ligado a um modelo de sociedade que coloca o consumo como valor central, falando numa “sociedade do crédito” que “é um fenómeno que está presente, ainda que em graus diferentes, em todos os países com sistemas financeiros desenvolvidos”.

Máximo dos Santos fala ainda em “juízos morais” que emergem no debate público “quando as coisas correm mal e o paraíso prometido e procurado se torna um pesadelo”, acrescentando que estes são “em regra, juízos superficiais“, pois não levam em devida conta as “causas profundas que alimentam o endividamento e acabam – voluntária ou involuntariamente – por desviar a atenção das verdadeiras raízes da questão“.

A chamada de atenção do vice-governador do Banco de Portugal surge numa altura em que a concessão de crédito às famílias e, em particular para consumo, continua a crescer apesar da tentativa do banco central português em impor um travão a essa escalada. No início de julho entraram em vigor três tipos de recomendações aos bancos por parte do banco central português, com vista a limitar os critérios para a sua concessão e assim prevenir situações de sobreendividamento das famílias.

Contudo, pelo menos para já, estas não parecem estar ainda a ter o efeito desejado. No que respeita ao crédito ao consumo em específico, os últimos dados disponíveis mostram que os bancos e as financeiras concederam mais de 600 milhões de euros às famílias portuguesas, em agosto. Trata-se de um aumento tanto face ao mês anterior, quando entrou em vigor o travão do Banco de Portugal, mas também um crescimento acentuado face ao valor financiado no mesmo mês do ano passado. No acumulado do ano são já quase cinco mil milhões de euros em empréstimos ao consumo.

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