Exclusivo Chauffeur Privé já dá boleias em Lisboa. Lei da Uber “dá segurança ao investimento”

A aplicação francesa Chauffeur Privé inicia operações em Lisboa esta segunda-feira. Vai concorrer com a Uber, a um mês de a nova lei entrar em vigor. O regulamento foi determinante nesta expansão.

A partir desta segunda-feira, há um novo concorrente da Uber em Lisboa. Chama-se Chauffeur Privé, veio de França e escolheu a capital portuguesa como a primeira cidade a receber o serviço fora de Paris. Tem a Daimler como principal acionista e quer ser “líder de mercado a médio prazo”. Para isso, promete as “tarifas mais baixas” e uma “qualidade acima da média do mercado”. A garantia foi dada em entrevista ao ECO pelo diretor-geral da Chauffeur Privé em Portugal, Sérgio Pereira. É a confirmação de uma notícia avançada pelo ECO no início de junho.

A nova aplicação de transporte arranca com 500 motoristas selecionados a dedo — não se sabendo o número de carros disponíveis no arranque — e com uma promoção de 50% de desconto em todas as viagens, para todos os utilizadores, nos primeiros 30 dias (a empresa oferece aos motoristas o valor total da viagem, sem a promoção). Junta-se a um mercado paralelo ao do setor do táxi e que já conta com outros três players em Portugal: Uber, Cabify e, mais recentemente, Taxify. E tenciona fechar o ano de 2018 com 1.000 motoristas.

Como estratégia para angariar utilizadores, Sérgio Pereira garante que a empresa tem “os preços mais competitivos do mercado”. Cada serviço tem um preço base de 2,50 euros, variando depois consoante a distância do percurso, embora não revele qual o valor por quilómetro. O valor final será conhecido logo no momento em que pede a viagem. Assim, “não há surpresas no final da viagem”, garantiu Sérgio Pereira, que foi um dos fundadores da plataforma ComparaJá e assume agora este novo desafio. Num futuro próximo, deverá introduzir tarifas dinâmicas, como já acontece na Uber.

Conta ainda com um programa de fidelização, que permite aos clientes trocarem pontos por viagens. Assenta em quatro níveis de estatuto na aplicação, do vermelho (red) ao platina (platinum). Um utilizador red ganha um ponto por cada euro gasto, enquanto um utilizador platinum ganha cinco pontos por euro gasto. “Diria que, entre 12 a 15 viagens, já pode obter uma viagem gratuita”, calcula o diretor-geral da Chauffeur Privé em Portugal. A aplicação já pode ser instalada a partir da Play Store (Android) e da App Store (iOS).

Sérgio Pereira, que foi fundador da plataforma ComparaJá, acaba de assumir o cargo de diretor-geral da francesa Chauffeur Privé em Portugal.Paula Nunes/ECO

Preços baixos, mas motoristas ganham mais que na Uber

Para os motoristas, este novo player da economia da partilha cobra uma comissão de 15%, em linha com a da Taxify, e mais baixa do que a da Uber, que é de 25%. Garante pagamentos semanais, à quinta ou sexta-feira, mas a estratégia focada na qualidade do serviço leva a que os candidatos a motoristas tenham de passar por um processo de seleção e formação “bastante intensivo”.

“Nós queremos conhecer todos os motoristas. Não só o gestor de frota, mas [também] os motoristas, para assegurar que satisfazem os nossos critérios de imagem e serviço”, começa por explicar o responsável. Numa segunda fase, é recolhida aos selecionados a documentação legalmente exigida. A terceira fase é composta pelas formações, dadas internamente pela própria empresa.

“Fazemos aqui uma formação bastante extensa, não só sobre como funciona a aplicação, como funcionam as promoções que estamos a oferecer, tanto para os utilizadores como para os motoristas, porque também temos bónus. Depois, há uma fase de formação sobre qualidade de serviço, de atendimento, de condução. E, finalmente, temos uma pequena parte de formação de gestão de situações mais improváveis”, revela Sérgio Pereira ao ECO. Os 500 motoristas que já fazem parte da Chauffeur Privé já terão feito esta formação.

Outra componente da nova empresa em Portugal é a fiscalidade. A ChauffeurPrivé garante que vai pagar os impostos em Portugal, incluindo a contribuição de 5% imposta pela nova lei das plataformas de transporte privado, aprovada este ano no Parlamento e promulgada pelo Presidente da República. “Vamos pagar IVA localmente, vamos pagar impostos localmente. Tudo será tratado localmente”, diz Sérgio Pereira.

Em Lisboa, conta já com uma equipa própria de dez pessoas e está a contratar para as áreas de marketing, recursos humanos e operações. “Estamos numa fase de contratação e de expansão”, disse o ex-diretor executivo da plataforma ComparaJá. A empresa admite ainda vir a entrar noutras cidades portuguesas, mas prefere não se comprometer com datas.

Lei Uber “dá segurança ao investimento”. Mas taxa de 5% é “elevada”

A Chauffeur Privé é bastante popular em Paris, França, onde assenta a esmagadora maioria das operações. Por lá, conta com mais de 18.000 motoristas e dois milhões de clientes, segundo números da empresa. No final do ano passado, a maior parte do capital foi adquirido pela Daimler, a dona da Mercedes-Benz. A Daimler quer ficar com todo o capital da Chauffeur Privé até 2019.

O ECO perguntou a Sérgio Pereira o porquê de Lisboa ter sido selecionada como a primeira cidade fora de França a receber a plataforma da Chauffeur Privé. “A verdade é que foi bastante fácil para eles escolherem Lisboa como a primeira cidade [estrangeira]”, começa por explicar o diretor-geral. Entre os fatores está o clima de “estabilidade económica e financeira”, o crescimento do turismo e a popularidade que a capital portuguesa tem vindo a ganhar. Outro pormenor é o ecossistema empreendedor e de startups.

Mas a existência da nova lei das plataformas eletrónicas de transporte foi o fator determinante. Na visão da Chauffeur Privé, a existência de regulamentação “dá uma certa segurança ao investimento que está a ser feito”. “Não torna o desafio mais fácil, torna sim a decisão de investir mais fácil”, sublinha. Defende também que este segmento de negócio, o das plataformas, “tem crescido bastante”. Por isso, há espaço para a Chauffeur Privé… e até para outros players que possam eventualmente surgir nos próximos meses. “Se outras entidades estiverem a olhar para cidades na Europa, provavelmente irão chegar a uma conclusão semelhante [à nossa]. Mas, depois da nossa entrada, terão outro fator a considerar”, refere Sérgio Pereira.

Vamos pagar IVA localmente, vamos pagar impostos localmente. Tudo será tratado localmente.

Sérgio Pereira

Diretor-geral da Chauffeur Privé em Portugal

Concretamente sobre o novo regulamento, que entra em vigor a 1 de novembro, Sérgio Pereira não hesita em criticar a contribuição de 5% para o Estado, que considera ser “um pouco elevada”, mas cujo plano de negócios da Chauffeur Privé já tem em conta. Apesar disso, o diretor-geral da plataforma considera-a uma lei “equilibrada”.

Para esta quarta-feira, os taxistas têm marcada uma manifestação em Lisboa, contra a nova “lei da Uber”, que consideram que vai legalizar concorrência que consideram ser desleal. Sobre o setor do táxi, Sérgio Pereira deixa algumas notas: “Não vejo que seja uma luta para ficar. Acho que encontrámos aqui um equilíbrio. Obviamente, haverá ajustes nos próximos tempos. E acho que são serviços bastante complementares”, afirma, acrescentando que o setor do táxi e o da mobilidade em geral “não se alterou nos últimos 30 a 40 anos”.

Sérgio Pereira, diretor-geral da Chauffeur Privé em Portugal, considera que a contribuição de 5% que as plataformas têm de entregar ao Estado é “um pouco elevada”.Paula Nunes/ECO

Taxify, myTaxi e Chauffeur. Daimler a triplicar

A Chauffeur Privé está no portefólio da Daimler, mas não é a única participada da dona da Mercedes-Benz com operações em Portugal. A multinacional alemã também é acionista da myTaxi e até da Taxify, com a qual a Chauffeur Privé vai concorrer diretamente. Em relação a esta última, que começou a funcionar em Lisboa no início deste ano, a Daimler liderou uma ronda de investimento de 175 milhões de euros no final de maio.

Haverá um conflito de interesses? Sérgio Pereira não vê a situação dessa forma. “A Daimler investiu na Chauffeur Privé no final de 2017. E um dos grandes objetivos da Daimler é tornar a Chauffeur Privé líder de mercado em todos os mercados onde estivermos. Portanto, temos investimento e um objetivo nesse sentido. Vamos ter de conquistar muitos clientes”, refere.

Para Sérgio Duarte, até faz sentido que a Daimler invista em “várias plataformas que podem ser complementares”, como é o caso da myTaxi, que opera integrada no setor do táxi. Concretamente sobre a concorrente Taxify, que também é participada da Daimler, Sérgio Pereira aponta para o dinheiro: “[A Taxify também] tem um investimento [da Daimler], mas é bastante residual comparativamente com aquele que [a Daimler] tem na Chauffeur Privé”, conclui o responsável.

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