“Desapareceram” 24 milhões dos lucros do banco Montepio

Félix Morgado tinha apresentado lucros de 30,1 milhões. Tavares diz que afinal os lucros foram de apenas 6,4 milhões. O que fez a diferença entre as contas auditadas e não auditadas? As imparidades.

Não é inédito, mas não é comum. O anterior presidente da Caixa Económica Montepio Geral tinha anunciado que os lucros em 2017 foram de 30,1 milhões de euros, valor que comparava com prejuízos de 86,5 milhões de euros no ano anterior.

Saiu José Félix Morgado e entrou Carlos Tavares para a liderança do banco. A nova gestão resolveu rever os “critérios de prudência” das contas e os lucros que eram de 30,1 milhões afinal foram de apenas 6,4 milhões no ano passado. O que aconteceu? A história conta-se em quatro pontos:

  1. No dia 8 de fevereiro de 2018, José Félix Morgado apresenta as contas da Caixa Económica Montepio Geral. O banco justificava esta viragem de prejuízos a lucros com as “evoluções favoráveis do produto bancário, ao beneficiar da recuperação do negócio core, dos custos operacionais e das imparidades”.
  2. No dia 26 de abril, já com uma nova administração, o Público noticia que “Carlos Tavares vai rever em baixa os resultados do Montepio”. Fonte oficial do banco dava a seguinte justificação: “O atual conselho de administração, responsável pelo fecho das contas, após a devida audição dos auditores e da comissão de auditoria, está a rever as contas de acordo com os seus próprios critérios de prudência”.
  3. A 30 de abril, em comunicado enviado à CMVM, a Caixa Económica anuncia o adiamento da apresentação do relatório e contas — incluindo os pareceres obrigatórios e a certificação legal de contas –, e diz que, “no prazo máximo de duas semanas”, iria apresentar os números finais.
  4. Hoje, 15 de Maio, as contas foram publicadas na CMVM e confirma-se: em 2017, os lucros não foram de 30,1 milhões de euros, mas sim de 6,4 milhões. O que explica diferença de 24 milhões de euros? São sobretudo as imparidades.

Quando a 8 de fevereiro tinha apresentado as contas referentes a 2017, o banco tinha anunciado uma descida no valor das imparidades de 182,5 milhões para 138 milhões de euros. Mas agora com Carlos Tavares, os tais “critérios de prudência” levaram a que o valor das imparidades subisse dos 138 milhões para os 160,7 milhões de euros.

“O mais relevante foi o ajustamento das imparidades”

Num encontro com jornalistas a propósito da apresentação das contas, Carlos Tavares justificou assim a diferença de resultados: “o mais relevante foi o ajustamento das imparidades, juntamente com os auditores, de alguns dossiês de crédito, numa ótica de prudência acrescida”.

Além das imparidades para o crédito, o banco reviu os valores das ‘imparidades para outros ativos financeiros’ (de 6,7 para 7,8 milhões), das ‘imparidades para outros ativos’ (de 11,7 para 12,6 milhões) e das ‘outras provisões’ (que baixaram de 11,4 para 10,3 milhões). A certificação das contas foi feita pela KPMG.

Neste exercício de revisão e auditoria das contas, até a margem financeira do banco mudou: era de 263,9 milhões e passou para 266,2 milhões de euros, um valor que representa uma melhoria de 5,1% face aos valores de 2016. Já o produto bancário quedou-se em 505,3 milhões de euros.

Em termos de solidez, o rácio common equity Tier 1 aumentou dos 10,4% para 13,2%. Carlos Tavares, no encontro com jornalistas, diz que o Montepio “não precisa de capital. Neste momento, não é preciso capital fresco”. Sobre o futuro, o ex-presidente da CMVM aponta como grandes prioridades “a recuperação de crédito e redução de exposição ao mercado imobiliário”, numa altura em que o preço é convidativo a alienações.

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