Sonangol: alvíssaras para quem souber do paradeiro de Carlos Saturnino

  • Paulo Gorjão
  • 8 Março 2018

O silêncio de Carlos Saturnino em relação à resposta de Isabel dos Santos é o mesmo que uma admissão encapotada de uma derrota em toda a linha.

No passado dia 28 de Fevereiro, a Sonangol realizou a sua conferência de imprensa anual. Num dia igual a muitos outros em Luanda, seguramente nenhum dos jornalistas que marcaram presença na sede da petrolífera angolana antecipou que iria testemunhar a eclosão de uma tempestade. Sem que nada o fizesse esperar, o presidente do conselho de administração da Sonangol, Carlos Saturnino, fez duras críticas à sua antecessora, de algum modo procurando circunscrever e atribuir a responsabilidade pelos problemas da empresa ao mandato interrompido de apenas 17 meses de Isabel dos Santos.

Não se sabe se a intenção de Carlos Saturnino foi apenas essa, ou se houve outras motivações estratégicas. Tal como não se sabe se o actual presidente da petrolífera angolana pensou ter carta branca para dizer o que bem entendesse, no pressuposto de que contaria sempre com o silêncio institucional de Isabel dos Santos. É possível que o tenha pensado. De facto, por regra, Isabel dos Santos nunca responde às acusações de que é alvo.

Se Carlos Saturnino contou com o silêncio de Isabel dos Santos, sabemos agora que se enganou em toda a linha. Num longo comunicado que disponibilizou para consulta pública e numa entrevista — que quase diria ser histórica — ao Jornal de Negócios, Isabel dos Santos refutou uma a uma as graves acusações elencadas pelo presidente do conselho de administração da Sonangol. Além de exigir a sua demissão, Isabel dos Santos foi mesmo ao ponto de explicitamente o apelidar de mentiroso.

Perante tão graves acusações, seria de esperar que Carlos Saturnino viesse a jogo no espaço público em defesa do seu bom nome. Seria de esperar que apresentasse documentos a sustentar as afirmações por si proferidas e factualmente desmentidas por Isabel dos Santos. No fundo, seria de esperar que viesse mostrar que a sua antecessora mentiu.

Em vez disso, o que fez o presidente da petrolífera angolana até ao momento? Remeteu-se ao silêncio. Um silêncio inexplicável aos olhos da opinião pública. Um silêncio tanto mais incompreensível porque foi Carlos Saturnino quem tomou a iniciativa, escolheu o dia, as armas e o terreno para o duelo. Ora, creio que para qualquer observador é evidente que o silêncio de Carlos Saturnino é o mesmo que uma admissão encapotada de uma derrota em toda a linha. Um reconhecer pela porta dos fundos de que as suas acusações eram falsas, de facto, tal como referiu Isabel dos Santos.

A ser assim, a sua posição torna-se muito frágil na Sonangol e a sua continuação enquanto presidente do conselho de administração da petrolífera angolana pode vir a ser um problema para o próprio presidente angolano João Lourenço. Motivos acrescidos para Carlos Saturnino ter de vir a público defender-se e sustentar factualmente o que disse. Alvíssaras, portanto, para quem souber do seu paradeiro.

  • Paulo Gorjão
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