CGD contrata KPMG para vender 1.800 milhões em malparado

O banco liderado por Paulo Macedo continua a fazer um esforço para limpar o malparado. A CGD escolheu a KPMG para ajudar a vender 1.800 milhões em crédito hipotecário, empresarial e imobiliário.

A Caixa Geral de Depósitos (CGD) está no mercado para vender carteiras de crédito malparado. O banco liderado por Paulo Macedo escolheu a KPMG para ajudar a alienar 1.800 milhões de euros em crédito hipotecário, empresarial e imobiliário, apurou o ECO, numa operação a realizar entre este ano e o final do próximo. Esta venda faz parte da estratégia da instituição financeira de aliviar o peso dos empréstimos em incumprimento, que ainda penalizam a rentabilidade do banco.

A CGD quer vender 200 milhões em crédito hipotecário, 200 milhões em imobiliário e 1.400 milhões em crédito às empresas, como parte de um processo de redução dos ativos ponderados pelo risco de forma a aliviar a pressão sobre os rácios de capital. Esta venda vai ser assessorada pela KPMG, apurou o ECO. Oficialmente, a CGD não faz comentários.

Esta operação junta-se a outras que a Caixa tem realizado. Foi em julho que a Caixa vendeu 476 milhões de euros em crédito malparado ao fundo de private equity Bain Capital Credit. Naquela que foi a primeira compra do fundo na banca portuguesa, a instituição financeira liderada por Paulo Macedo vendeu “maioritariamente empréstimos imobiliários bilaterais garantidos por pequenas e médias empresas e algumas grandes empresas”.

Limpar, limpar, limpar…

Este esforço de limpeza dos créditos em incumprimento do balanço da CGD não é de agora. Foi no ano passado, no âmbito do programa de recapitalização do banco estatal, que a instituição financeira reconheceu perdas de 3.017 milhões de euros com estes ativos. Um reconhecimento que atirou o banco liderado por Paulo Macedo para os piores resultados de sempre: a instituição apresentou prejuízos de 1.859,5 milhões de euros.

Mas ainda há trabalho por fazer. Estes 1.800 milhões de euros de malparado que a Caixa quer agora vender representam cerca de 38% do montante total do crédito em incumprimento, de cerca de 4.700 milhões de euros. Se se considerar o valor líquido de empréstimos em incumprimento, o valor baixa de forma expressiva, já que uma boa parte destes já foram provisionados. Até setembro, as provisões foram de cerca de 400 milhões de euros.

[A CGD vendeu], maioritariamente, empréstimos imobiliários bilaterais garantidos por pequenas e médias empresas e algumas grandes empresas.

Paulo Macedo

Presidente executivo da CGD, em declarações após a venda da carteira de 476 milhões de euros de crédito malparado ao Bain Capital

Tendo em conta o reduzido montante líquido do crédito em incumprimento, estes 1.800 milhões já terão sido dados como perdidos pela CGD. Neste sentido, qualquer valor que a CGD venha a obter com a venda destes créditos terá um impacto positivo no resultado. Nestas operações, o banco aplica normalmente descontos elevados, entre os 50% no caso do crédito hipotecário e 75% no imobiliário.

Malparado ainda pesa (muito)

Apesar de os bancos estarem a conseguir reduzir este “fardo”, o malparado continua a ser uma dor de cabeça. Ao todo, os bancos da Zona Euro acumulam perto de um bilião de euros em crédito malparado. Os bancos italianos, gregos, espanhóis e cipriotas são os mais afetados. E, em Portugal, de acordo com dados do Banco de Portugal para setembro, 13,45% de todo o crédito concedido às empresas estava em incumprimento. Junto das famílias, esta proporção cai para 4,14%.

Ao mesmo tempo que os bancos procuram resolver problemas do passado, veem-se confrontados com a necessidade de se precaverem perante a entrada em incumprimento de novos empréstimos. O Banco Central Europeu pediu aos bancos da Zona Euro para porem mais dinheiro de parte para cobrirem o crédito malparado — uma decisão que já foi criticada pelos eurodeputados, que consideram que o banco liderado por Mario Draghi está a ultrapassar o mandato. É a partir de 1 de janeiro de 2018 que os bancos europeus terão, no máximo, dois anos para deixar de lado o equivalente a 100% do novo crédito malparado. No prazo de sete anos, terão de conseguir cobrir a totalidade da dívida incobrável (nova e antiga).

Uma plataforma para ajudar

Nem só através da venda de carteiras se resolve o problema do malparado, especialmente o das empresas — que tem o maior peso no total. Uma das soluções encontradas por cá foi a criação de uma plataforma que vai permitir sentar à mesma mesa os três bancos com níveis mais elevados de créditos em incumprimento: CGD, Novo Banco e BCP. Estas três instituições financeiras já assinaram o memorando de entendimento para colocar este mecanismo que quer solucionar os créditos incobráveis em funcionamento, algo que deverá acontecer até ao final deste ano.

A expectativa, como avançou o ECO, é de encolher para um terço o tempo médio de reestruturação destes créditos, reduzindo-o para seis meses. E os resultados devem ser visíveis no final do primeiro trimestre de 2018.

Mas ainda é preciso que o BCE valide alterações no sentido de mais rapidamente deixar de contabilizar estes processos em reestruturação como créditos em incumprimento, retirando-lhes este rótulo que faz com que continuem a pesar nos rácios dos bancos. Retirar esse grão de areia do processo levará a que os bancos mais facilmente procurem encontrar soluções duradouras para estas empresas.

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